Aproximando-se o início da época balnear, o ensejo para recordar como começou a modo dos banhos e veraneio nas nossas praias. Pode dizer-se que a estrada para a Praia das Maçãs despoletou o seu crescimento como estância balnear. Em Agosto de 1884 Luís Almeida Albuquerque, Joaquim de Vasconcelos Gusmão e António Chaves Mazziotti, junto com os engenheiros Joaquim Sousa Gomes e Ressano Garcia iniciaram o projecto da construção da estrada de ligação de Colares à Praia das Maçãs. A mesma teria 3400m e custaria 6 contos e 800 (hoje, pouco mais de 30 euros...).Como a quantia era "elevada" foi feita uma subscrição pelos principais capitalistas da zona, tendo-se angariado 1/3 da verba. O resto foi dinheiro da Câmara, que levou 2 anos a aprovar o projecto (oferecido pelos referidos 2 engenheiros). Foi concluída 1 ano depois. Em 1889 surgem as 2 primeiras edificações: a do taberneiro Manuel Dias Prego e do padre catalão Mathias del Campo. Os hotéis de charme viriam depois.
Em Colares, o antigo Eden Hotel oferecia alojamento aos primeiros veraneantes. Hoje votado ao abandono, foi erguido a partir de 1887 pelo industrial José Inácio Costa. Uma vez construído, arrendou-o um tal Manuel Iglésias, que se encarregou de o transformar num importante centro de turismo, tendo mais tarde sido vendido ao pintor Veloso Salgado, que em Colares se fixou e o transformou numa residência de férias. Por lá passaram Alfredo Keil, Fidelino Figueiredo, Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, e até, na década de 50, a equipa do Sport Lisboa e Benfica, treinada por Otto Glória. Ficaram famosos os saraus de piano, alguns de Viana da Mota, morador em Colares nessa época, que fizeram do local um recanto aprazível e único. José Inácio da Costa construiu igualmente as Vilas Alda e Ema, para suas filhas (onde hoje se localizam os correios e a farmácia), tendo contribuído com 240$000 réis para a estrada da praia.
Muito deve Colares igualmente à sua sociedade local, pois nem só por lazer se ia a banhos no início do século passado. Em 1925 a Sintra-Atlântico criou eléctricos que levavam crianças pobres à Praia das Maçãs, onde, com os professores, e depois de inspeccionadas por médicos Desidério Cambournac ou Brandão de Vasconcelos, faziam “tratamentos marítimos”. Para tais curas, a câmara de Sintra disponibilizava, junto com a extinta Associação de Caridade de Sintra,"três toldos de três metros por dois de lado, num total de 1.273$00, sendo tais passeios um"remédio ministrado a “seres raquíticos, linfáticos, adenísticos, tão precisados de ar marítimo, banhos de mar e de sol".Os tratamentos prolongaram-se até ao fim dos anos 50,e na sua génese estiveram dois médicos a quem a saúde pública em Sintra muito deve: Pereira Ferraz e Carlos França, que em 1924 preconizou um corpo sanitário para Colares, integrado nos Bombeiros, e providenciou mesmo a construção dum chassis, em 1928 baptizado de "Caridade" e que foi a primeira ambulância dos Bombeiros de Almoçageme.
Em 1927 igualmente surgiu a Associação de Assistência e Beneficência da freguesia de Colares, presidida por Maria do Carmo Mazziotti, que distribuía bolos, agasalhos e medicamentos às crianças da freguesia. Até aos anos 60 estas e outras instituições da sociedade civil muito contribuíram para a assistência social em Sintra e Colares e as idas de crianças pobres à praia (designadas por banhos marítimos...) entre outras coisas, para apurar a “raça”. José de Oliveira Boléo, escreveu em 1938:o "saloio"( esta nossa raça particular)mede em regra 1,64m,tem cor da iris escura, cabelo castanho escuro, liso ou ondulado, crâneo dolicocéfalo, nariz leptorrínico, de ponta fixa, acusando influência semita. Eis uma raça, que terapêuticos banhos nas praias de Sintra fortaleceriam a bem da Nação…
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