quarta-feira, 18 de maio de 2011

Stakeholders

Às partes interessadas nas práticas de governação corporativa executadas pelas empresas chamam os tecnocratas stakeholders. O termo foi usado pelo filósofo Robert Edward Freeman e segundo ele, os stakeholders são elementos essenciais ao planeamento estratégico de negócios. De maneira mais ampla, compreende todos os envolvidos num processo. O sucesso de qualquer empreendimento depende da participação das partes interessadas e por isso é necessário assegurar que as expectativas e necessidades sejam conhecidas e consideradas pelos gestores. De modo geral, essas expectativas envolvem satisfação de necessidades, compensação financeira e comportamento ético.Cada interveniente ou grupo de intervenientes representa um determinado tipo de interesse no processo. O envolvimento de todos os intervenientes não maximiza obrigatoriamente o processo, mas permite achar um equilíbrio de forças e minimizar riscos e impactos negativos na execução desse processo.
Uma organização que pretende ter uma existência estável e duradoura deve atender simultaneamente as necessidades de todas as partes interessadas.
Vem isto a propósito de na gestão de empresas ou projectos com implicação em certos grupos e na sociedade civil em geral, as organizações internacionais recomendarem hoje a auscultação e participação activa de stakeholders locais na implementação e prossecução de projectos com repercussão na comunidade. É o caso em Sintra de recomendações da UNESCO no que à gestão do Património mundial concerne, posição vertida na Declaração de Aranjuz sobre Paisagens Culturais, de que Sintra é subscritora, e do direito/dever de participação.
Não sendo muito frequente tal prática entre nós, registe-se contudo o exemplo- pela excepção – da relação que a empresa Parques de Sintra Monte da Lua assumiu junto dos defensores do património e associações locais no que a tal matéria concerne, na perspectiva de a todos envolver visando as finalidades supra descritas.
Responsável pela gestão e recuperação de importante património na área de Sintra, a PSML tem procurado ouvir os parceiros da sociedade civil, convidando-os para reuniões e visitas, recolhendo contributos e associando-os ao evoluir das obras em curso, mostrando trabalho e discutindo com eles. No meu caso pessoal, como presidente de uma associação local diversas vezes no último ano e meio fui convocado para iniciativas, reuniões com técnicos, visitas a obras e pareceres sobre planos de gestão. E o que parecia ser a esmola em demasia fazendo desconfiar o pobre, pode hoje considerar-se uma prática salutar e instituída que se espera não se quebre com futuras mudanças de protagonistas nos órgãos de gestão.
Sente-se uma mudança de paradigma na gestão da "jóia da coroa":a filosofia de "abrir para obras" acompanhando as recuperações em curso é internacionalmente aconselhada, já o verificámos no  caso do Chalé da Condessa, o diálogo com a sociedade civil, nem sempre presente na nossa cultura de procedimento dá alguns passos. Mas muito trabalho há a fazer e necessário se torna criar estrutura física e mental para que o trabalho em curso não seja resultado apenas do maior ou menor voluntarismo das equipas directivas que estão no momento. Penso inclusive que o modelo adoptado ainda pode ser melhorado do ponto de vista da institucionalização de um areópago onde as vozes plurais dos actores da sociedade civil estejam representadas de forma regular. Mas tal como é dever das instituições abrirem-se à sociedade, imperioso se torna uma maior tomada de consciência da sociedade de que não deve deixar as respostas todas em mãos alheias e se deve empenhar mais em causas que são de todos. Só assim a democracia será madura e os cidadãos o serão em plenitude.

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