Agora
que chegou onde queria, Donald Trump já pode voltar a ser o que nunca deixou de ser: um
banal troglodita que durante uns meses virou um troglodita político, não para
regenerar o sistema americano ou ser a voz dos deserdados de Washington,
mas para o narcísico cumprimento de um capricho: o de, depois de milionário,
apresentador de televisão, e socialite depravado ser presidente dos Estados Unidos. Podia
tê-lo feito entrando numa série da Netflix ou num filme de Clint Eastwood, mas
não, tal como o coronel do Apocalipse Now, que precisava do cheiro de napalm pela
manhã, Trump precisava de agarrar a Casa Branca como agarrou as vaginas das concorrentes de The Apprentrice. O poder é afrodisíaco, dizem, e Trump está a
ter o seu, Nero dos tempos modernos pondo a culpa nos imigrantes como antes este nos
cristãos, sacrificando Hillary como este a mãe, Agripina, e pegando fogo a
Roma e culpando islâmicos, latinos, mulheres, com os seus cowboys pronto a devolver os Speedy Gonzalez aos
desertos do México ou os refugiados às ruinas de Alepo.
Tudo
teria graça não fosse uma desgraça. Donald Trump, o construtor civil,
vai agora dedicar-se a construir muros, cimentar a segregação, humilhar, deportar, ameaçar,
qual novo e requentado doutor Strangelove com o botão nuclear ao lado do champanhe
francês e de alguma playmate contemplando a "sua" América da janela da Sala Oval. É claro que
pouco ou nada do que disse ou prometeu sairá do papel, mero soundbite para abrir
telejornais e ganhar votos nos rodeos do Kansas ou Arizona. Mas o mundo vai
ficar mais perigoso, desconfiado, fechado nos seus medos e numa perigosa
esquizofrenia isolacionista. A América que produziu Obama, também pode produzir um Trump.
Os dados estão lançados, e a hora é de Trump, o dono do salloon.
Sem comentários:
Enviar um comentário