terça-feira, 15 de agosto de 2023

Luz e Trevas

 


Tenho um amigo que é arqueólogo de passados, não de pedras ou de batalhas, mas de almas, de vidas hoje hologramas, de silêncios que gritam em espaços abandonados, de felicidades interrompidas e de teias de aranha dominantes.

Vou chamar-lhe Corvo. O Corvo, como o de Edgar Allen Poe, sobrevoa as ruínas de felicidades passadas, e no silêncio das suas imagens sem texto traz História ao presente, não a História dos heróis e guerreiros, mas a das almas simples, perdidas em poderes efémeros, felicidades esquecidas, riquezas sem luz mas que alguém ou alguns um dia viveram. É um Historiador, esse meu Amigo, um filósofo da imagem, anónimo mas importante na arte de captar a essência dos dias, que foram de ontem mas serão de amanhã muitos deles.

O Corvo não está nas trevas, antes deambula atrás da Luz na falésia da incerteza, exorcizando almas num tempo sem cronologia, eremita no seu refúgio com cheiro a pinho, documentando novos poemas, cativo de emoções, mas jamais capturado. O Corvo é um pescador experiente, rodeado de palpitantes vultos holográficos, aflito entre os aflitos, é um vencedor da Caverna desafiante e escura, um fauno da noite, mas redentor intérprete da Fogueira seminal, nos seus silêncios e gritos dando conta da fogueira da Vida. 

O Corvo celebra a liturgia das Vidas, seja pelo diáfano som do silêncio, seja pelo grito da imagem bafejada pela Luz. O Corvo é grande. Solitário para uns, mas Mestre para outros.

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