Os pássaros estavam a chegar, chilreando, pareciam tocar a rebate, despertando as flores perfumadas. Ruidosos, os bandos regressavam, comandados por ruidosas andorinhas, voltando do Inverno Branco, exércitos de borboletas invadiam os ares em sagração, poisando nas pétalas bafejadas por generosos raios de sol.
No alto do
penedo, Fernando, que o destino fizera rei de Portugal, contemplava contente
os gamos e colibris, as libelinhas e os lagartos, toda a Floresta colorida que
um dia plantara ao chegar à sua nova terra.
Fernando era
um príncipe do Norte e casara com a rainha de Portugal. Ao chegar ao seu novo
país, de céu azul e mar imenso, logo a floresta de Sintra o atraiu, aí se
esconderiam bruxas e duendes, criaturas sinistras e coelhos bravos, e, pondo
mãos à obra, juntou os jardineiros do palácio, mandou vir sábios de fora e
dedicou-se a plantar, a semear, a fazer crescer novas plantas e árvores que,
contentes e alegres, brotavam como feijoeiros encantados subindo em direcção ao
céu.
Aí passou a ser o seu refúgio e contente passeava a cavalo, espantando os coelhos
saltitantes, sempre rodeado de pássaros que o reconheciam e vinham saudar.
Nas aldeias
do Reino, as terras pediam sementes, e as árvores folhagens, os chilreios nos beirados
prometiam fertilidade, o toque de uma flauta acompanhava o rei nos seus
passeios, logo em coro acompanhado pelos rouxinóis e toutinegras.
Gostando
mais da floresta que da vida na cidade, decidiu o bom rei Fernando
fazer um palácio no alto daquela serra verdejante, algo que lhe lembrasse o seu
país natal, lá longe, e encontrou o lugar no cume da serra
de Sintra. Uma ruína abandonada inspirou-o e decidiu: seria ali o lugar. Chamou
pedreiros e arquitectos, e ele mesmo passou a traçar os planos para o novo
palácio, o mais belo que alguma vez se vira neste reino, onde o vento do mar
chegava refrescante e limpo. Vários anos levou nesse trabalho, até que um dia,
o palácio ficou pronto, imponente e colorido. Mas o bom rei Fernando, a quem os
anos foram passando, não descansou, e mandou vir plantas de terras estranhas,
flores coloridas, construiu lagos e estufas, e pequenos cantos onde pintava e
passeava, longe da corte e das intrigas.
O povo
gostava do rei Fernando. Era um artista, não gostava de ver as igrejas e
palácios em mau estado, queria que os meninos soubessem ler e escrever, que não
passassem fome e pudessem brincar e correr na floresta. Ele mesmo às vezes brincava com
eles, ou os levava no seu cavalo, a mostrar a serra e os lagos. E assim foi
envelhecendo, feliz.
Um dia a
rainha morreu, e Fernando ficou sozinho, cada vez mais retirado para o palácio
em Sintra. Mas não foi por muito tempo. Certo dia, uma bela jovem, vinda da sua
terra natal, apareceu na cidade, a cantar belas melodias, e canções de
encantar. E Fernando, que já se conformara a viver só, dedicado a Sintra e ao
seu palácio, voltou a ser feliz. E nos jardins do palácio mandou fazer uma casa
mais pequena, onde nas noites de Verão Elisa, a jovem que o encantara,
e Fernando, juntavam os amigos e cantavam, felizes, respirando o ar perfumado da
serra à sombra da Lua Cheia, uma Lua que só havia em Sintra e que, sempre que
Fernando a mirava lhe parecia sorrir, brilhando intensamente.
Fernando
partiu, já velho, e muitas das plantas e árvores que em Sintra plantou ainda lá
estão, sentinelas ao serviço do seu senhor, e os meninos de hoje, ao vê-las,
sorriem, lembrando o velho rei e o seu carinho pela terra
que, vindo de longe, acarinhou e venerou.
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