No seu
discurso de despedida em Chicago, Barack Obama enfatizou que a democracia sai
sempre fragilizada quando se dá como garantida. Efectivamente, é o
enfraquecimento da relação entre representantes e representados, resultado da
falta de transparência e verdade na tomada de decisões que acarreta o
cepticismo e a descrença, traduzidos presentemente nos populismos e extremismos
que apelam frequentemente à intolerância, ao radicalismo e à quebra do contrato
social entre poder e sociedade, governantes e governados.
Os cantos de
sereia que vão enchendo o espaço público e publicado, ampliados pelas redes
sociais ululantes e congregadoras das novas seitas dos descamisados e zangados
com o poder são um perigo que deve ser combatido com pedagogia, mais
transparência, mais envolvimento dos cidadãos nas decisões e mais empenho no
cumprimento das promessas eleitorais.
As
democracias formais, sobretudo as europeias, estão invadidas por movimentos de
protesto que, no extremo, tendem a aniquilá-las. Vejam-se os movimentos
xenófobos, populistas, eurocépticos, e ditos de “cidadãos”. Só o regresso da
política dos valores e das causas que envolva os cidadãos e os volte a fazer
crer nas virtudes da democracia os pode trazer de volta ao espaço de liberdade
que devem ser as democracias modernas. Esse o combate mais premente, sob pena
de ver claudicar um modelo que se esvai na anemia da ausência de valores, de
desígnios comunitários e ponha o progresso e a felicidade dos cidadãos no topo
das agendas políticas.
Os tempos
são de apelo à mobilização. Mas, como diria Mário Soares, só é derrotado quem
desiste de lutar. Deixemos de ser rebeldes sem causas, e retomemos causas que nos devolvam a vontade de ser rebeldes.
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