quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

As democracias no fio da navalha





No seu discurso de despedida em Chicago, Barack Obama enfatizou que a democracia sai sempre fragilizada quando se dá como garantida. Efectivamente, é o enfraquecimento da relação entre representantes e representados, resultado da falta de transparência e verdade na tomada de decisões que acarreta o cepticismo e a descrença, traduzidos presentemente nos populismos e extremismos que apelam frequentemente à intolerância, ao radicalismo e à quebra do contrato social entre poder e sociedade, governantes e governados.
Os cantos de sereia que vão enchendo o espaço público e publicado, ampliados pelas redes sociais ululantes e congregadoras das novas seitas dos descamisados e zangados com o poder são um perigo que deve ser combatido com pedagogia, mais transparência, mais envolvimento dos cidadãos nas decisões e mais empenho no cumprimento das promessas eleitorais.
As democracias formais, sobretudo as europeias, estão invadidas por movimentos de protesto que, no extremo, tendem a aniquilá-las. Vejam-se os movimentos xenófobos, populistas, eurocépticos, e ditos de “cidadãos”. Só o regresso da política dos valores e das causas que envolva os cidadãos e os volte a fazer crer nas virtudes da democracia os pode trazer de volta ao espaço de liberdade que devem ser as democracias modernas. Esse o combate mais premente, sob pena de ver claudicar um modelo que se esvai na anemia da ausência de valores, de desígnios comunitários e ponha o progresso e a felicidade dos cidadãos no topo das agendas políticas.
Os tempos são de apelo à mobilização. Mas, como diria Mário Soares, só é derrotado quem desiste de lutar. Deixemos de ser rebeldes sem causas, e retomemos causas que nos devolvam a vontade de ser rebeldes.





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