quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Hoje quero ser reacionário


Confesso. Gosto de carne, de vinho, e ainda mais duma imperial fresquinha, como sandes de courato à porta do estádio do meu clube e adoro leitão e arroz de pato, gosto de Mozart, Leonard Cohen, Eric Clapton, Sérgio Godinho, Ivan Lins e de música celta. Não sou gay, nem vegan, nem marialva, nem racista. Não fumo charros, não gosto de trance, gosto vagamente de hip hop e regaton. Também não sou apreciador de touradas (divirto-me mais quando é o toiro a perseguir os forcados), nem de novelas lamechas, de fotos idiotas no Instagram, da música da Romana ou das piadas do Fernando Rocha. Mas convivo com isso tudo, até com o José Castelo Branco, a Cristina Ferreira, o Marques Mendes ou os clubes de futebol rivais, ciente que há espaço para a diversidade, excepto quando alguém quer acabar com ela. Convivo com os que acham que a Venezuela de Maduro é uma democracia, que Salazar foi o Midas das Finanças, que o Benfica é o melhor clube do mundo ou que o Padre António Vieira foi um perigoso esclavagista. Sem deixar de pensar como penso, oiço, assimilo e mantenho-me nas convicções que julgo serem certas, sem veleidades de estar sempre certo ou já ter nascido quando outros ainda eram projetos de embrião.
Há porém modas que se tornam idiotas, e comportamentos da moda que ganham estatuto não pelo seu mérito, mas porque se tornaram "virais". As greves climáticas resolvem o quê, tirando um dia sem aulas a acumular o lixo dos cartazes nas ruas ao fim do dia? Vamos passar todos de repente a andar de comboio e de bicicleta? Vamos combater o uso do plástico em manifestações para onde levamos garrafas de água (de plástico…)?
A esta altura quem me lê já me catalogou como “cota” reacionário” e colocou no Index do pensamento desalinhado, preparando-se para me insultar com algum comentário idiota. É o paradoxo das novas ditaduras do pensamento único e das certezas que reduzem. Transmite-se, mas não se pensa, ou dialoga.
A virtude maior da natureza humana é a inteligência para viver em comunidade sem perder a individualidade, respeitar quem não pensa como nós, e exigir respeito por parte de quem não pensa. Tudo o resto é barbárie em versão android, onde a liberdade cede para a alarvidade, a tolerância para a jactância e falar de democracia se torna heresia. Paulatinamente, vamos esvaziando as ideias e ensaiando a cegueira, venerando gurus inventados nas redes sociais que se esvaem no final do dia ou quando deixam de ser novidade.
Deixemos de ser Dead Men Walking em luta por uma Guerra dos Tronos, a vida não é um holograma na Netflix nem uma mensagem de Whatsapp dentro dum pequeno eletrodoméstico hipnotizador, que qual Big Brother a todos arrasta para uma nova Nave dos Loucos, um mundo fake e salivante.  Acordemos!.

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