Confesso.
Gosto de carne, de vinho, e ainda mais duma imperial fresquinha, como
sandes de courato à porta do estádio do meu clube e adoro leitão e arroz de pato, gosto de Mozart, Leonard Cohen, Eric Clapton, Sérgio Godinho, Ivan Lins e de música celta.
Não sou gay, nem vegan, nem marialva, nem racista. Não fumo charros, não gosto
de trance, gosto vagamente de hip hop e regaton. Também não sou apreciador de touradas (divirto-me mais quando é o toiro a perseguir os forcados), nem de novelas lamechas, de fotos idiotas no Instagram, da música da Romana ou das piadas do Fernando Rocha. Mas convivo com isso tudo, até com o José Castelo Branco, a
Cristina Ferreira, o Marques Mendes ou os clubes de futebol rivais, ciente que
há espaço para a diversidade, excepto quando alguém quer acabar com ela. Convivo com os que acham que a Venezuela de Maduro é uma democracia, que Salazar foi o Midas das Finanças, que o Benfica é o melhor clube do mundo ou que o Padre António Vieira foi um perigoso esclavagista. Sem deixar de pensar como penso, oiço, assimilo e mantenho-me nas convicções que julgo serem certas, sem veleidades de estar sempre certo ou já ter nascido quando outros ainda eram projetos de embrião.
Há porém modas
que se tornam idiotas, e comportamentos da moda que ganham estatuto não pelo seu mérito, mas porque se tornaram "virais". As greves climáticas resolvem o quê, tirando um dia sem
aulas a acumular o lixo dos cartazes nas ruas ao fim do dia? Vamos passar todos
de repente a andar de comboio e de bicicleta? Vamos combater o uso do plástico
em manifestações para onde levamos garrafas de água (de plástico…)?
A esta
altura quem me lê já me catalogou como “cota” reacionário” e colocou no Index
do pensamento desalinhado, preparando-se para me insultar com algum comentário
idiota. É o paradoxo das novas ditaduras do pensamento único e das certezas que
reduzem. Transmite-se, mas não se pensa, ou dialoga.
A virtude maior da natureza humana é a inteligência para viver em comunidade sem perder a individualidade, respeitar quem não pensa como nós, e exigir respeito por parte de quem não pensa. Tudo o resto é barbárie em versão android, onde a liberdade cede para a alarvidade, a tolerância para a jactância e falar de democracia se torna heresia. Paulatinamente, vamos esvaziando as ideias e ensaiando a cegueira, venerando gurus inventados nas redes sociais que se esvaem no final do dia ou quando deixam de ser novidade.
A virtude maior da natureza humana é a inteligência para viver em comunidade sem perder a individualidade, respeitar quem não pensa como nós, e exigir respeito por parte de quem não pensa. Tudo o resto é barbárie em versão android, onde a liberdade cede para a alarvidade, a tolerância para a jactância e falar de democracia se torna heresia. Paulatinamente, vamos esvaziando as ideias e ensaiando a cegueira, venerando gurus inventados nas redes sociais que se esvaem no final do dia ou quando deixam de ser novidade.
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