Nos dias
que passam é corriqueiro e quase inevitável falar mal de tudo e de todos. A
maledicência está promovida a patologia, ampliada pelas sarjetas sociais que
são os veículos de "comunicação" disponibilizados na Rede, e não se
passa sem ela, nos jornais, nos cafés, no emprego, no parlamento, creio mesmo
que sem ela, a sensação de orfandade será tão grande quanto o nosso sadismo
colectivo. Desde Alcácer Quibir que assim é, é endémico. O certo é que vamos
estando (aliás, em Portugal, país do gerúndio, não se vai , vai-se andando ...)
Vem isto
a propósito da responsabilidade que em minha opinião têm certas elites e certa
opinião publicada nos estados de alma que moldam o carácter nacional dos
portugueses. O pathos nacional é marcado pelos vencidos da vida de várias
gerações, desde o conformado "ainda o apanhamos" do Eça até essa peça
sublime e igualmente derrotista que é a Mensagem, de Pessoa. Obras belas,
plástica e literáriamente, mas hinos à descrença, à resignação e ao fatalismo.
Se olharmos com atenção, todos os grandes gurus nacionais são-no na medida em
que se assumem como profetas da desgraça, (os optimistas chamam-lhes
"visionários...). Quanto mais baterem no ceguinho mais premiados e
idolatrados, pois eles, premonitórios é que viram para lá da nuvem. Um exemplo:
a nossa cena de comentadores, os ditos opinion makers. Quem são os
mais convidados e “respeitados”? Os que autofagicamente anunciam a “piolheira”
dum país povoado por “indígenas”, os frustrados, os que querem ajustes de
contas com os adversários ou ex-amigos. Dê-se-lhes uma caneta ou um teclado e
ei-los a zurzir inflamados a desgraça nacional e o fado de ser português, o
"isto só cá", como se todos soubessem em profundidade como é
exactamente "lá". Já Almada dizia que o pior de Portugal eram os
portugueses, e eles aplaudiram claro, porque nunca é nada "connosco",
mas tudo com"eles".
Leia-se
Vasco Pulido Valente, por exemplo, e veja-se qual o contributo positivo desse
profeta da desgraça para melhorar o estado das coisas. Profeta, claro, depois
da desgraça ocorrer, na onda do “estava-se mesmo a ver, eu avisei”, mas,
entretanto, nada viu e nada avisou.
Entre
nós, as veneradas elites pensadoras são sobretudo elites faladoras, e sobretudo
maldizentes, imensamente responsáveis pela degeneração da ideia de Portugal, e
nisso, pouco ou nada mudou desde a fuga de D. João VI para o Brasil e o
ciclo de declínio que se seguiu. Porém, mal ou bem cá vamos, e sobretudo, cá
estamos, apesar de sermos o país que nasceu com o filho a bater na mãe. Somos
uma matriz da civilização ocidental e um berço de culturas, (eu sei, cheira a
discurso de 10 de Junho, mas é verdade!), O que faria então se nos
entendêssemos sobre as grandes questões, separando a árvore da floresta e
fazendo planos para a floresta que não seja atear-lhe fogo?
Temos a
particularidade de estarmos sempre desavindos uns com os outros e desconfiarmos
mais depressa de outro português do que do primeiro estrangeiro desqualificado
que nos metam na frente.Com crise ou sem crise, os povos não acabam, apesar de
poder suceder como nos vírus da gripe, com o tempo estes degenerarem noutros,
com novas roupagens e atitudes, e a geração que abriu o século XXI poder vir a
sair mal na fotografia da História. Mas depois do tempo, tempo vem, e um pouco
de azul sempre é melhor que o cinzento.
Como um dia disse o general
De Gaulle, "o fim da esperança é o começo da morte". E aos velhos do
Restelo, uma temporada nas termas não faria nada mal.
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