O tema do clima está na ordem
do dia com cada vez maior premência, levando a que na próxima semana de novo os
líderes mundiais se voltem a sentar, para discutir documentos jurídicos que de
pouco servirão se os grandes poluidores não se esforçarem no terreno para
contrariar a carbonização e o aquecimento global.
Entre nós, o tema entrou na
agenda política, alternando entre o catastrofismo e o disparate, alimentando
modas e novos clichés mais para alimentar as redes sociais que para inverter a tendência
no terreno.
Até Sintra, o tradicional
Delicious Eden das sombras frescas e da brisa amena se verá confrontada no
futuro com uma realidade que por ora se estranha, mas má será se vier a
entranhar-se.
Em Sintra, segundo o "Plano Estratégico do Concelho
de Sintra Face às Alterações Climáticas" em tempos coordenado pelo
prof. Filipe Duarte Santos, antevê-se que em meados do século XXI as
temperaturas médias anuais subam1.7 a 3.3 °C, com maior ênfase no Verão (3.6ºC
a 5.4°C em julho) do que no Inverno (0.7 a 1.6 °C em dezembro). No final do
século a elevação da temperatura média anual pode chegar a 2 a 3°C acima do que
são atualmente no Inverno e 5º a 10º C no Verão, com ondas de calor mais
frequentes e noites tropicais em que poucas vezes a temperatura descerá abaixo
de 25º C. A precipitação média no final do século baixará de 800 mm para 540 a
700 mm e a radiação solar aumentará até um máximo de 8%.
Haverá reduções anuais no escoamento dos principais
cursos de água na ordem dos -30% em meados do século e -50% para o final do
século, e para os aquíferos é de esperar uma diminuição da capacidade de
exploração sustentável. O impacto no rebaixamento do nível nos aquíferos será
ainda modesto, menor que -0,5 m, mas para o final do século já alcançará
máximos de -0,7 m no final do semestre húmido, e -0,8 m no final do semestre
seco.
O consumo de água dos sintrenses, agora da ordem de 80 m³
entre 2020 e 2030 será 3% a 15% acima dos valores atuais. O nível médio do ar
continuará a subir, com cenários de 0,2 m a 1,4 m para o horizonte de 2100.
Fenómenos de precipitação intensa irão promover a erosão
das arribas, e a modificação do regime das ondas associada às alterações
climáticas deverá aumentar a deriva litoral e, portanto, o potencial de
transporte de sedimentos, predominante para sul, em até mais 20% em
relação à situação atual. A configuração das praias aponta para reduções da
superfície dos areais, embora muito variáveis de praia para praia. Nas mais
encaixadas e instaladas em desembocaduras fluviais, a redução será pequena.
Pelo contrário, as praias mais abertas, estreitas e limitadas pelo lado de
terra por uma arriba, como a do Magoito, que são extremamente sensíveis à
rotação do rumo das ondas, devem perder grande parte do areal.
Os cenários colocados pelos autores do estudo sugerem um
aumento do stress ambiental na vegetação florestal. O stress hídrico poderá
tornar as árvores mais suscetíveis e aumentar os danos causados pelas pragas e
doenças.
No futuro aumentará também o risco de incêndio florestal
e a deterioração dos ecossistemas florestais pela dificuldade de regeneração
das árvores e pela proliferação de espécies invasoras mais competitivas e
melhor adaptadas às novas condições climáticas.
Prevê-se o aumento da incidência de pragas e doenças,
assim como o risco de invasão por novas espécies de regiões de clima tropical
ou subtropical. É também muito possível que as taxas de crescimento de pragas e
doenças sejam estimuladas pelo aumento da temperatura, sobretudo quando têm a
possibilidade de ter várias gerações por ano.
O aumento das temperaturas no Inverno, quando acompanhado
por humidade elevada, poderá favorecer a expansão de alguns agentes
patogénicos, modificando a estrutura e composição da vegetação, com
consequência para a restante biodiversidade: a fauna seguirá os destinos do seu
habitat e a comunidade de insetos sofrerá com as alterações climáticas, uma vez
que são animais de sangue frio.
Algumas populações, especialmente aquelas que têm
distribuição geográfica limitada, pequenas áreas de habitat ou reduzido número
de indivíduos (como o cravo-romano, o feto-de-folha-de-hera,
o miosótis-das-praias ou a boga portuguesa), poderão não ter capacidades
para se adaptarem às rápidas alterações climáticas, e a sua extinção pode
ocorrer em populações com baixa taxa de reprodução e capacidade de dispersão.
Dentro dos mamíferos o grupo dos morcegos é o mais
vulnerável, dada a dependência do seu metabolismo com a temperatura e a sua
dieta depender da comunidade de insetos.
Os cenários indicam que em finais do século as ondas de
calor serão um fenómeno frequente, afetando grupos mais sensíveis como as
crianças e os idosos. O problema do ozono poderá persistir e agravar-se pelo
menos até meados do século, e o número de dias propícios a salmoneloses na
região de Sintra aumentará dramaticamente no Verão.
O risco de transmissão de doenças por insetos subirá em
todo o concelho. Mesmo no Inverno o clima passará de totalmente desfavorável a
ocasionalmente favorável. O Verão continuará de forma geral a ser a estação do
ano mais favorável à transmissão, embora em meados do século o clima se
torne tão seco que o risco começará a diminuir.
As alterações climáticas em Sintra vão no sentido de
aumentar a produção de pólenes ao longo de todo o século, agravado pela
diminuição da precipitação que promoverá menos a limpeza da atmosfera. A
radiação solar aumentará significativamente, e como o número de dias
confortáveis para atividades no exterior aumentará, tudo se conjugará para um
maior risco de melanomas.
Apesar da vasta área florestal do Parque Natural
Sintra-Cascais (3675 ha), o valor anual de sequestro é de cerca 53 500
toneladas de CO2, ou seja, da ordem de 2% das emissões de gases com efeito
de estufa (GEE) dos sintrenses (âmbito total). Segundo os autores do estudo, no
caso específico de Sintra, duas estratégias surgem como as mais adequadas para
sequestro biológico de carbono: o aumento permanente da área florestada e do
número de árvores de arruamento, e o aumento da duração média das árvores com
vista à meta de longo prazo de sequestro de 8% das emissões de GEE.
Estima-se que o índice de emissões totais (estritas e
implícitas) per capita seja da mesma ordem do valor médio nacional, ou seja, 8
toneladas de CO2 eq./habitante. No entanto, este valor pode ser reduzido se
houver uma generalização das energias renováveis, edifícios mais eficientes,
melhores transportes públicos e mais ciclovias.
Sintra faz parte desde 2015 do consórcio que irá desenvolver a metodologia do projeto ClimAdaPT.Local para aplicação a nível nacional das estratégias municipais para as alterações climáticas, sendo uma da uma das autarquias que já têm estratégias próprias para os seus territórios. O tempo urge, porém, e o que até há pouco eram profecias catastrofistas boas para filmes de ficção, pode efetivamente descambar num panorama sem retorno. Há que tomar medidas no terreno, desde já, alertando os peritos que 2030 pode ser o ano em que se nada for feito, se poderá dar a batalha como perdida.
Sintra faz parte desde 2015 do consórcio que irá desenvolver a metodologia do projeto ClimAdaPT.Local para aplicação a nível nacional das estratégias municipais para as alterações climáticas, sendo uma da uma das autarquias que já têm estratégias próprias para os seus territórios. O tempo urge, porém, e o que até há pouco eram profecias catastrofistas boas para filmes de ficção, pode efetivamente descambar num panorama sem retorno. Há que tomar medidas no terreno, desde já, alertando os peritos que 2030 pode ser o ano em que se nada for feito, se poderá dar a batalha como perdida.
Como alertava um famoso programa televisivo de
Luís Filipe Costa nos anos 70, inspirado nos então premonitórios avisos de
Gonçalo Ribeiro Telles, “Há Só Uma Terra”.
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