Visitar Sintra não é só realizar
um mero roteiro cultural, impõe-se, sobretudo, como uma experiência sensorial.
Importa ao visitá-la, ver as pedras para lá das formas, ouvir e deixar-se
inebriar pelo silêncio, esse direito não consagrado nos códigos, encetar um
regresso à terra e ao solo húmido e orvalhado. Ali pairam os fantasmas de
improváveis faunos, líricas condessas e nórdicos príncipes numa ópera dos
sentidos, ali se capta o imenso e melodioso cântico que só o silêncio propicia.
Em Sintra são inesgotáveis
as palavras por escrever, as esculturas por esculpir e os sonhos por idealizar,
por entre a parafernália do clorofila e odor. Apressados visitantes não verão os
etéreos faunos, mas eles lá estão, tocando flautas de Pã, não verão gamos e
bambis, mas traquinas pulam no bosque, bebendo nos lagos, não verão fadas,
igualmente, mas felizes esvoaçam sobre a Pena, até uma holográfica Elise
espreita do alto das pedras atlantes, e sorri. Em Sintra é preciso sentir, para
então ver, e só então se passará para Shangri-La, paraíso de melódicas
sinfonias de verde onde os deuses plantaram o seu Jardim.
Em Sintra, a felicidade é
possível, primeiro como aguarela, depois como emoção, em catártica e eterna redenção.
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