Faz parte do argumentário político e é politicamente correcto defender a língua portuguesa, os seus 250 milhões de falantes e a importância do português como património cultural, língua de emoções, pátria de escritores, gruta labiríntica onde nasceu essa portuguesa e intraduzível palavra chamada “saudade”. E porém, quão mal tratada ela está a todos os níveis, invadida há séculos por francesismos, anglicismos e outros ismos de modas passageiras. É bom e necessário num mundo aberto e globalizado falar línguas estrangeiras, mas, como dizia Eça de Queirós “há que patrióticamente falá-las mal”, o suficiente para nos compreendermos e fazermos compreender.Há entre nós um vício, quiçá associado a complexos de inferioridade culturais e atávicos de não zelar pela nossa língua, na forma escrita e na sua difusão oral. Nos dias que correm, imensos jogadores de futebol de língua castelhana desembarcam no nosso país e enchem os nossos estádios. Algum tenta sequer falar português? Nenhum. Em Espanha, logo o português recém-chegado ensaia um pirrónico “portunhol”. Mas mais: são os próprios jornalistas que os entrevistam na nossa terra quem logo começa a fazê-lo em castelhano, dando assim ambos o mau exemplo de afirmação da língua, quer de quem chega e nada se esforça por falar, quer da parte que quem cá está que logo se rebaixa ao recém-chegado. Quem viaje frequentemente repara que os espanhóis raramente falam noutro idioma que não o seu e sempre têm à disposição guias ou tradutores na sua língua. Ora, globalmente, os falantes do castelhano não são assim tão mais numerosos que os do português. E se repararem, políticos brasileiros ou futebolistas brasileiros nunca no exterior deixam de falar no “seu” português açucarado, orgulhosos do seu idioma, mais que os egrégios avós europeus, envergonhados de Portugal e que sempre aos outros se apresentam como “pórtchugal”. Até nos neologismos raramente nos damos ao trabalho de traduzir as expressões, como sucede no Brasil, estamos cheios de download, delete,upgrade, rating, cash-flow, downsizing ou outras invasivas. É assim que a língua portuguesa perde terreno, não por falta de falantes mas por flagelo (outros aqui diriam hara-kiri…) dos próprios portugueses.Se não for o Brasil…
Uma recomendação: falem-se línguas, e muitas (eu falo quatro, e "arranho" mais…) mas patrioticamente façam-no sem grande empenho em perfeição na forma ou entoação e quando falarem português façam-no orgulhosamente alto.
Assim fez Mourinho, ao receber o prémio da FIFA, nisso também se percebendo porque é que uns são grandes e outros aprendizes.
Assim fez Mourinho, ao receber o prémio da FIFA, nisso também se percebendo porque é que uns são grandes e outros aprendizes.
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