sábado, 16 de julho de 2011

Euro: Cada um por si e todos contra alguns


Os Estados Unidos não são a Grécia e Portugal, diz Obama. Portugal não é a Grécia, diz Passos Coelho. Todos se demarcam, e com isso enfraquecem a busca de soluções que são globais e assim a crise terá um só vencedor por entre os cacos do euro e as fraquezas do dólar: a China. Não é isolando uns e outros pondo-os de quarentena que se estanca uma epidemia que já se espalhou e para a qual ainda não há vacina eficaz testada.
Mas porque raio os países endividados não fazem uma frente comum que aja no plano político? A defesa dos interesses nacionais é um dever patriótico que devia preceder os paninhos quentes da diplomacia, sobretudo quando a suposta diplomacia nos é hostil e estéril. Portugal, primeiro, pois não é salivando para mostrar bom serviço à Alemanha e à troika (cujo programa está por demonstrar ser eficaz, a não ser para garantir o retorno do dinheiro emprestado) e esperando que os alemães acordem que vamos resolver os nossos problemas.
Os sacrifícios impostos (injustos, por excluírem o capital, e por serem mais papistas que o papa) vão ter um só resultado: empobrecimento da classe média (se é que ainda existe) redução do consumo e do investimento, e com isso dos impostos, e efeitos recessivos prolongados. Alguém consegue explicar como é que, admitindo que tudo corra bem, dum momento para o outro a economia depois de hipoteticamente chegar aos 3% de défice em 2013 vai crescer em 2014? Com que medidas? Com que carga fiscal? Onde vai aumentar o rendimento disponível e de onde virá o investimento? Ouvem-se os economistas e comentadores de serviço e a ausência de um fio condutor é clara, ninguém sabe de onde virá o milagre de transformar a água em vinho. O crédito ficará acessível? Quem fará os investimentos e onde? E a União Europeia, onde estará daqui a dois anos? Quem estude um pouco de economia e leia os relatórios sabe que são tudo panaceias e no fundo a perspectiva ´”estratégica” é: agora cumpre-se o programa da troika, bíblia sagrada outorgada por arcanjos de Frankfurt e Washington, e depois se verá. O tecido social, esse, perder-se-á inexoravelmente: os jovens qualificados fugirão para a emigração, as empresas falidas não voltarão, os funcionários públicos desmotivados serão menos interessados e competentes, restará um país anémico, menos soberano, com menor auto-estima e sem recursos ou estratégia que não seja a que estranhos lhe ditarem. A Europa, miragem salvífica dos anos oitenta, perdeu o rumo, e tranquilamente foi perdendo o braço de ferro com os BRICS em competitividade, inovação e controlo dos centros estratégicos de decisão. O Mundo, inexoravelmente, vai virar a Sul e a Oriente.

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