quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Júlio Diniz, hoje




Há 180 anos, a 14 de novembro de 1839, nascia no Porto Joaquim Gomes Coelho, que passou à História como Júlio Diniz. Prematuramente vítima de tuberculose, que o levou aos 31 anos, dele nos ficaram clássicos da literatura portuguesa como A Morgadinha dos Canaviais, Uma Família Inglesa, Os Fidalgos da Casa Mourisca ou As Pupilas do Senhor Reitor. Júlio Diniz é hoje um nome secundarizado e esquecido, apesar dos frescos literários com que nos aproximou duma sociedade rural e nortenha, com o seu cunho pueril e de apego a tradições e valores. Talvez por isso esteja para muitos datado, como o estão Aquilino Ribeiro, Ferreira de Castro, Fernando Namora, João Araújo Correia ou Miguel Torga, arautos dum Portugal de serranias, aldeias pacatas e famílias obedientes e crentes a Deus.
Ler Júlio Diniz, para mim, urbano e ávido do que vinha de fora do rincão, nesses atónitos anos setenta, foi beber e descobrir um Portugal desconhecido, que em Júlio Diniz e noutros autores ia da faina no Douro às lavadeiras de Caneças, do Alentejo de  agrários e gaibéus às terras do Demo, graníticas e de ventos silvantes, e embrenhar-me num linguajar e hábitos longe dos da pequena burguesia das Avenidas Novas, onde esse mundo chegava apenas por via de alguma criada que vinha servir para casa dos meus avós ou pela visita de algum primo afastado, carregado de couves, queijos e galinhas a cada visita, exótica e colorida, mas ao mesmo tempo autêntica e generosa.
Ainda hoje relembro esses livros da minha infância, hoje considerados “clássicos”, mas distantes dos (poucos) leitores que ainda sobram. Já não há nas serranias de Portugal nem morgadinhas, nem pupilas, nem reitores, hoje só “territórios de baixa densidade”, desertificados e envelhecidos, como as pedras milenares deste velho Portugal. É pena.

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