Há 180 anos,
a 14 de novembro de 1839, nascia no Porto Joaquim Gomes Coelho, que passou à
História como Júlio Diniz. Prematuramente vítima de tuberculose, que o levou
aos 31 anos, dele nos ficaram clássicos da literatura portuguesa como A
Morgadinha dos Canaviais, Uma Família Inglesa, Os Fidalgos da Casa Mourisca ou
As Pupilas do Senhor Reitor. Júlio Diniz é hoje um nome secundarizado e esquecido,
apesar dos frescos literários com que nos aproximou duma sociedade rural e
nortenha, com o seu cunho pueril e de apego a tradições e valores. Talvez por
isso esteja para muitos datado, como o estão Aquilino Ribeiro, Ferreira de
Castro, Fernando Namora, João Araújo Correia ou Miguel Torga, arautos dum
Portugal de serranias, aldeias pacatas e famílias obedientes e crentes a Deus.
Ler Júlio
Diniz, para mim, urbano e ávido do que vinha de fora do rincão, nesses atónitos
anos setenta, foi beber e descobrir um Portugal desconhecido, que em Júlio Diniz e noutros autores ia da faina no Douro
às lavadeiras de Caneças, do Alentejo de agrários e gaibéus às terras do Demo, graníticas
e de ventos silvantes, e embrenhar-me num linguajar e hábitos longe dos da
pequena burguesia das Avenidas Novas, onde esse mundo chegava apenas por via de alguma
criada que vinha servir para casa dos meus avós ou pela visita de algum primo afastado,
carregado de couves, queijos e galinhas a cada visita, exótica e colorida, mas ao mesmo tempo autêntica e generosa.
Ainda hoje
relembro esses livros da minha infância, hoje considerados “clássicos”, mas
distantes dos (poucos) leitores que ainda sobram. Já não há nas serranias de
Portugal nem morgadinhas, nem pupilas, nem reitores, hoje só “territórios de
baixa densidade”, desertificados e envelhecidos, como as pedras milenares deste velho Portugal. É pena.
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