domingo, 24 de novembro de 2024

25 de novembro- Quando o PREC deixou de estar em curso

 


O 25 de Novembro foi mais um evento na disruptiva história do PREC que a 25 de Abril de 1974 devolveu a liberdade ao povo português, desencadeando uma série de fenómenos enquadrados por falta de vivência democrática durante 48 anos e por Portugal, num quadro de Guerra Fria, se ter tornado palco para experimentalismos ideológicos, mais ou menos utópicos, que hoje, pousada a poeira, se viu terem sido explosivos, e poderiam ter feito resvalar o processo democrático ainda em fase de consolidação.

Eu, que vivi o período, percecionei que a triunfarem os intuitos das partes político-militares em confronto, tanto poderíamos ter-nos tornado num regime populista de esquerda, caudilhista e terceiro-mundista, como um regime onde a esquerda teria sido eliminada, com retorno ao 24 de Abril. Prevaleceu o bom senso de Melo Antunes, de Costa Gomes, de Mário Soares, e também, não é de mais realçá-lo, de Ramalho Eanes, Otelo e Álvaro Cunhal, que, sabendo ler a conjuntura, puseram freio aos militares mais impulsivos, evitando o triunfo uma extrema direita vingativa.
Recordo momentos significativos em que participei: a manifestação a Pinheiro de Azevedo no Terreiro do Paço ("é só fumaça!"), passear em Lisboa à noite em pleno recolher obrigatório embrenhado no turbilhão de manifestações e contramanifestações que faziam o dia a dia de um jovem estudante do 7º ano do liceu (hoje 11º) utopica mas apaixonadamente tentando salvar o mundo, perdido na última Revolução romântica do século XX.
Sem o bom senso de todos, o regime iniciado em 25 de Abril poderia ter soçobrado ali, espicaçado que foi pela maioria silenciosa spinolista em 28 de Setembro de 1974 e pelos raids aéreos contra o RALIS em 11 de Março de 1975. Contudo, em paz e pluralismo conseguimos chegar a 2 de Abril de 1976 e à promulgação duma Constituição democrática, a eleições legislativas e presidenciais livres e à normalização democrática. Dores de crescimento.
O 25 de Novembro foi o anticlimax duma catarse de dezoito meses de explosão descontrolada, mas que não resultou,, felizmente,, no resultado que alguns militares pretendiam, e que passava por eliminação dos partidos de esquerda e imposição duma visão segmentada do país e do regime.
Mais que uma fação, triunfou a razão e o bom senso, e acima de tudo a democracia, que não sendo um sistema perfeito, é pelo menos o menos mau de todos.
Quem hoje escava num passado que não viveu, erguendo supostas bandeiras e ajustes de contas, não deve ignorar que a História é o que é, por muitas voltas que se pretenda dar para a maquilhar ou deturpar.E como se diz a propósito do futebol, na história do 25 de novembro, interessa mais como acabou do que como começou.

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