segunda-feira, 25 de novembro de 2019

25 de Novembro


O 25 de Novembro foi mais um evento na disruptiva história do PREC que a 25 de Abril de 1974 devolveu a liberdade ao povo português, desencadeando uma série de fenómenos enquadrados por falta de vivência democrática durante 48 anos e por Portugal, num quadro de Guerra Fria, se ter tornado palco para experimentalismos ideológicos, mais ou menos utópicos, que hoje, pousada a poeira, se viu terem sido explosivos, e poderiam ter feito resvalar o processo democrático ainda em fase de consolidação.
Para quem viveu o período, porém, a triunfarem os intuitos de ambas as partes político-militares em confronto, tanto poderíamos ter-nos tornado num regime populista de esquerda, caudilhista e terceiro-mundista, como um regime onde a esquerda teria sido eliminada, com retorno a situações de 24 de Abril. Prevaleceu o bom senso de Melo Antunes, de Costa Gomes, de Mário Soares, e também, não é de mais realçá-lo, de Ramalho Eanes, Otelo e Álvaro Cunhal, que, sabendo ler a conjuntura, puseram freio aos militares mais impulsivos, evitando o triunfo uma extrema direita vingativa.
Sem o bom senso de todos, o regime iniciado em 25 de Abril poderia ter soçobrado ali, espicaçado que foi pela maioria silenciosa spinolista em 28 de Setembro de 1974 e pelos raids aéreos contra o RALIS em 11 de Março de 1975. Contudo, em paz e pluralismo conseguimos chegar a 2 de Abril de 1976 e à promulgação duma Constituição democrática, a eleições legislativas e presidenciais livres e à normalização democrática. 
O 25 de Novembro foi o analgésico duma catarse de dezoito meses de explosão descontrolada, mas não resultou, felizmente, no resultado que alguns militares pretendiam, e que passava por eliminação dos partidos de esquerda e imposição duma visão segmentada do país e do regime.
Lembro bem esses dias, das manifestações dos SUV e do sequestro de Pinheiro de Azevedo e da Constituinte, do recolher obrigatório em Lisboa e da cisão politico–militar entre moderados e radicais. Mais que uma fação, triunfou a razão e o bom senso, e acima de tudo a democracia, que não sendo um sistema perfeito, é pelo menos o menos mau de todos.
Quem hoje escava num passado que não viveu, erguendo supostas bandeiras, sabe que o 25 de Novembro serviu para reiterar o 25 de Abril, e não para o enterrar ou desvirtuar. E a História é o que é, por muitas voltas que se pretenda dar para a maquilhar ou deturpar.

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