Não queremos
o lítio em Montalegre, não queremos a barragem do Fridão, não queremos a
dragagem no Sado, não queremos a Torre das Picoas, não queremos o prédio no
quarteirão da Portugália, não queremos o aeroporto do Montijo (nem o da Ota,
ou o de Alcochete) , não queremos o petróleo em Aljezur, não queremos carne de
vaca, não queremos o glifosato. Como no passado não quisemos as Torres das
Amoreiras (hoje Prémio Valmor) a Expo 98, o Euro 2004, o CCB, a Casa da Música,
o Túnel do Marquês, o Túnel do Marão ou o Museu dos Coches. Ainda gostava de
saber o que é que se faz ou fez em Portugal que seja unânime ou desejado por todos.
Recordo aqui
um trecho do final de “Os Maias”, em que, passeando por Lisboa, Carlos da Maia
e João da Ega criticam o então novo obelisco dos Restauradores, que imitava
Paris , mas para pior:
"- De modo que isto está cada vez pior...
- Medonho! É dum reles, dum
postiço! Sobretudo postiço! Já não há nada genuíno neste miserável país, nem mesmo o pão que comemos!"
E hoje?
Alguém ousaria retirar o obelisco dos Restauradores? Como desde sempre,
continuamos a reclamar do falso e do postiço, contudo, só até que a memória se desvaneça, e faça do presente o passado do futuro.
Gritou-se contra o fim do
Passeio Público, em Lisboa, hoje alguém ousa gritar contra o fim da Avenida da Liberdade?
Clamou-se por fazer do convento onde em pleno Chiado se instalou o Grandella,
mercantil boteco em espaço espiritual, alguém ousou não repor o Grandella
depois do incêndio de 1988? Como escreveu o Padre António Vieira, “Não há poder
maior no mundo que o do tempo: tudo sujeita, tudo muda, tudo acaba.”
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