Sintra
tem pergaminhos na criação de corporações de bombeiros das mais antigas e
valorosas do país. Desde logo a Associação de Socorros Mútuos 3 de Outubro de
1884, ou em 1885, quando uma comissão de sintrenses, reunida no Jornal de
Cintra, decidiu organizar um corpo de bombeiros. A 1 de Setembro de 1889 foi
criada a Associação dos Bombeiros Voluntários de Sintra, e em 1890 os Bombeiros de Colares e inaugurada a "estação de incêndios",
sendo seu primeiro comandante Eduardo Rodrigues da Costa. A 24 de Junho a
Real Associação dos Bombeiros Voluntários de Sintra, sendo seu primeiro
comandante João Augusto Cunha e a 1 de Novembro de 1891 a Banda dos
Bombeiros Volunios de Colares, sendo em 1895 a vez de Almoçageme. Momento alto
foi em 27 de Agosto de 1905 a realização em Sintra do I Congresso-Concurso dos
Bombeiros Portugueses, em Seteais. Várias são as corporações que em mais de cem anos salvaram vidas e propriedades, acorreram aos acidentes na estrada ou em unidades industriais, aos incêndios florestais e urbanos, aos naufrágios, ou tão só a resgatar o gato em cima da árvore ou amparar algum tardio transeunte com um grãozito na asa a caminho de casa. Desde sempre, a sirene uivante que ao longe anuncia a tragédia e inquieta as populações, é também o prenúncio do auxílio, de segurança e de resposta rápida e desinteressada
Há
contudo que desenhar o futuro, e isso passa por modernizar instalações e
equipamentos, apostar na formação permanente e pluridisciplinar, rever o
estatuto social do bombeiro e incorporar os seus efetivos nas tarefas de
prevenção no que aos fogos florestais diz respeito. As alterações climáticas
com os ciclos de seca cada vez mais prolongados, o abandono da agricultura e a
confusão no registo predial das propriedades indivisas e sem donos visíveis e a
quem impor limpezas coercivas reforçam a necessidade de o Estado se substituir aos donos
relapsos ou sem recursos se não quer ver o que resta do coberto vegetal
desaparecer, com relevantes consequências na paisagem e no tecido social e
económico das regiões.
Os
bombeiros são e devem ser cada vez mais não só profissionais mas
profissionalizados, sem descurar contudo o inestimável papel que o voluntariado
deve ter em parte dos seus quadros, pois esse é o elo visível com a comunidade
que reforça o sentimento de pertença através dum elemento essencial da nossa
coesão social: o socorro nas emergências, na ação social, no transporte de
doentes, nos incidentes em meio urbano. Estranha-se pois o papel secundário que
desempenharam no desenho do relatório da Comissão Técnica Independente que
juntou académicos, sobretudo, e quase ostracizou quem está no terreno, o conhece
como ninguém, e mais não pode fazer por trabalhar com equipamentos obsoletos, recursos
escassos e quadros envelhecidos. É corriqueiro dizer que os bombeiros são os
soldados da paz, fica bem e é justo condecorá-los e distribuir medalhas. Mas a melhor e mais
coerente medalha com que podem ser agraciados é o de lhes garantir instalações
condignas, dar-lhes proteção complementar enquanto agentes de atividades de risco, rejuvenescer
os quadros, as viaturas e os equipamentos. Mas também registar e ouvir a sua experiência na
elaboração dos planos municipais de proteção civil e de defesa da floresta, levar para perto de si psicólogos, silvicultores, veterinários,
engenheiros do ambiente e outras valências cuja experiência e contributo possam auxiliar nas
decisões da prevenção, do combate e do rescaldo das situações de emergência, a par do reforço do envelope financeiro que permita serem o verdadeiro Exército da Paz que se impõe nestes dias de guerra.
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