Depois do Brexit, a Europa vive em sobressalto a
cada nova eleição, temendo o momento em que de novo algum Estado membro venha a
questionar o status quo ante, numa
agonia larvar que só pode significar que a Europa já foi até onde podia ir,
isto é, foi longe demais.
Sacrificar a
soberania em nome duma moeda forte que só castiga e pouco premeia, aceitar a ideia
de Europa a duas (ou mais) velocidades, ser governado de Bruxelas por um Diretório
que pouco respeita os povos, tudo conduz a que de susto em susto fatalmente
chegaremos ao fim da União Europeia. Ainda não foi Geert Wilders, ainda não
será Marine Le Pen, mas paulatinamente a Europa do centrão e dos partidos tradicionais
tem os dias contados, servindo a saída do Reino Unido como case study para o futuro.
Se
analisarmos bem, 40% dos eleitores franceses, os de Marine e Mélenchon votaram
contra esta União Europeia não só por causa dos refugiados ou do terrorismo,
mas porque o sistema criado para nos levar à terra do leite e do mel do Welfare State e da abundância tem
conduzido a inusitado sofrimento, agravamento das desigualdades, humilhação dos Estados pequenos pelos
maiores e sensação de injustiça que pouca motivação ou empenho deixam no povo que trabalha
e que vota.
Não podemos
entrar na lógica demagógica de que quem é contra esta União Europeia é radical
e perigoso, alinhando pela ditadura do pensamento único. Os agricultores
portugueses, os contribuintes e os funcionários públicos sabem bem o que
representa hoje ser europeu, a reboque dos Dijsselbloem, Schäuble e Juncker, ou
até de Constâncio e Barroso, com quem Portugal nada lucrou. Mas assistimos a um
drama em vários actos do qual ainda vamos a meio, e, ou se tomam decisões a
favor dos povos ou o anunciado Eldorado da bandeira das estrelinhas sob fundo azul
virará calaboiço sem saída a caminho do estertor.
No meio, a
esquerda dita democrática, capturada pela Terceira Via de Blair e pelas coligações
com os conservadores governando com as suas políticas, caminha para a
irrelevância. Assim foi com o PASOK, o PSF vai a caminho, o SPD alemão é tão
igual à CDU que nem se dá que existe, só Corbyn enseja um rumo mais tradicional,
mas votado ao insucesso. Afiguram-se tortuosos os caminhos da Europa. Todos os dias nos chegam imagens de botes de refugiados no Mediterrâneo, mas do lado de cá também se rema nos botes, e estes também metem água.
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