Todos os dias são efémeros, mas hoje estamos apostados em
perpetuar a efemeridade, galgando pelos acontecimentos com uma avidez
consumista que os torna requentados poucas horas depois. As televisões carentes
de novidade e de audiências alimentam este animus frenético, condimentado de
alertas e últimas horas que, pouco tempo passado, já ninguém recorda. Esta semana
foi o sarampo, o atentado de Paris, o Sporting-Benfica, mas alguém se lembra já
do atentado de Estocolmo, do acidente de Lamego ou dos irmãos iraquianos em
Ponte de Sor? É a espuma dos dias, na
feliz expressão de Boris Vian, com o mundo reduzido a um tablet ou uma rede
social onde qual orgasmo se sublimam frustrações e silêncios para depois tudo voltar
à mesma, neste cosmos contraditório, de avanços da ciência mas retrocessos
civilizacionais, onde se matam adeptos de futebol rivais e transeuntes
inocentes, mas também se abatem suspeitos de terrorismo a sangue frio e
promovem muros no pior exemplo dum mundo onde o homem é, sem sombra de dúvida,
o lobo do outro homem, qual cão de Pavlov esperando o sinal para salivar ódio e
libertar frustrações.
Triste mundo da pós verdade e dos factos alternativos onde
se lançam adeptos de futebol do alto da bancada, se deseja a morte violenta a
adversários feitos inimigos de sangue e se manda bombardear países no intervalo
de bolos de chocolate e gaseiam crianças com armas químicas.
Um Pacto de Humanidade num mundo onde se atente às ondas e
não à espuma é preciso.
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