Passam 22 anos do desaparecimento de José Alfredo da Costa
Azevedo, um dos últimos homens bons de Sintra e paradigma de cidadão e
sintrense.
José Alfredo da Costa Azevedo nasceu em Sintra, no primeiro
andar do edifício da actual pastelaria Piriquita em 8 de Dezembro de 1907.Cedo
foi atraído pelo desenho, influenciado por Mestre Alonso, Leal da Câmara e
Norte Júnior, produzindo proficuamente em óleo, aguarela e carvão. Tendo
empreendido uma carreira de funcionário judicial, em Sintra e Lisboa, em 1948 apoiou
em Sintra a candidatura de Norton de Matos á Presidência da República, tendo
mantido tertúlias literárias com figuras intelectuais do seu tempo, como
Ferreira de Castro, que veraneava no Hotel Netto, e outros opositores ao
regime.
Foi no início dos anos 30 que começou a sua colaboração no
Jornal de Sintra, com artigos de índole cultural e também de intervenção
cívica, assinando muitas vezes como Zé da Vila, transformando-se ao longo dos
anos num cultor de ensaios historiográficos-epistolares e da monografia
geocircunscrita.
Após o 25 de Abril de 1974 foi aclamado como presidente da
Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Sintra, nunca tendo recebido um
tostão, destinando o vencimento para a Santa Casa da Misericórdia de Sintra e
para os Bombeiros Voluntários de Sintra alternadamente, e dispensando o uso de
carro com motorista, fazendo a pé o percurso de sua casa até á Câmara.
Demitiu-se em 1976,desiludido com a política.
Nesse lugar, pugnou pela colocação da estátua de D. Fernando
II, abandonada num armazém, no local onde hoje se encontra no Ramalhão e pela
defesa do património de Sintra, em período conturbado da vida portuguesa.
Afastado da política activa, dedica-se então ao seu
sacerdócio de jornalismo histórico-cultural, compilado na série de volumes
Velharias de Sintra, já dos anos 80.
Foi igualmente maçon, a partir de 1929,na Loja Luz do Sol,
nº246 do registo do Grande Oriente Lusitano Unido, que funcionou no nº38 da R.
Alfredo Costa, em Sintra, destacada na luta pela alfabetização segundo o método
da Cartilha Maternal de João de Deus. José Alfredo foi iniciado maçon no
primeiro grau de Aprendiz em 6 de Junho de 1930 em Lisboa, na Loja Cândido dos
Reis, do Rito Escocês Antigo e Aceite, com o nome simbólico de "António
Oliveira" e matriculado no regime geral de membros daquela Potência sob o
nº 22,sendo subsequentemente Companheiro e Mestre. Seguidamente foi iniciado no
9ºgrau de Mestre Eleito dos Nove em 14 de Janeiro de 1932,na Loja Tomé de
Barros Queiróz, de Lisboa, do mesmo rito, no 14º grau de Mestre Perfeito
Sublime e no 30º de Cavaleiro Kadosh.
Morreu aos 83 anos a 3 de Dezembro de 1991,e em sinal das
suas afinidades maçónicas foi descerrada por Raul Rego, então Grão-Mestre do
Grande Oriente Lusitano, uma lápide na fachada da casa onde nasceu. Nessa data,
o filho de Sintra voltou á terra sagrada que o viu nascer e por quem por obras
valorosas definitivamente da Morte se libertou.
É imperativo pegar na bandeira de Zé Alfredo e continuar a
pugnar por esta Sintra plena de símbolos, cheiros e memórias. Graças à sua
escrita militante e apaixonada pela sua terra, ficou-nos um legado da Sintra do
Povo, simples e também burguesa, dos Homens e dos seus sonhos, no dealbar dum
século onde a emergência dos Estoris levou os dandys do séc XIX, mas deixou
toda a galeria de figuras de Zé Alfredo -o ti João das Barbas, o dr. Virgílio
Horta, Francisco Costa, Félix Alves Pereira, e outros que, não fora ele,
passariam despercebidos na construção desta Vila fascinante.
Sobre José Alfredo, o homem está tudo dito e bem.
ResponderEliminarTive o privilégio de ser seu amigo, já que ele era da geração do meu pai e amigo de infância.
Dos seus escritos aqui ficam estas linhas.
"Conheci ali a oficina de Correeiro de José Caetano dos Santos, a quem tratávamos por «tio Zé Borralho», que também podemos considerar como um homem bom na acessão mais lata do termo. Faleceu a 26 de Setembro de 1924. Por morte dele passou para seu filho Carlos Caetano dos Santos, rapaz do meu tempo, a quem nós desde meninos nos habituámos a tratar por «Caínhas». Bom como o pai e, como ele grande chefe de família. Deixou este vale de lágrimas a 20 de Agosto de 1971.
Hoje não há correeiros em Sintra".
Cada vez que leio estas linhas, tiradas do livro do livro do Senhor José Alfredo, autêntico roteiro de Sintra antiga, que são um legado aos sintrenses, a emoção tolda-me a vista, e ficam sempre as lágrimas de muita saudade, destes homens bons.