Pretende o governo que até ao final
da legislatura as autarquias sejam responsáveis pela gestão de 19% da receita
pública, através da nova lei de partilha de responsabilidades e
descentralização para diversos níveis de autarquias locais, visando maior
proximidade na decisão, maior eficiência e eficácia nos serviços prestados aos
cidadãos, maior participação das autarquias na gestão dos recursos públicos e,
sobretudo, concretizando a autonomia do poder local.
Só uma dimensão de proximidade
permite gerir com maior eficácia e com melhor eficiência os recursos públicos.
A gestão florestal e informação cadastral, visando a prevenção dos fogos
florestais e as políticas de defesa da floresta devem ser de responsabilidade
municipal, por duas grandes ordens de razões: são as autarquias quem melhor
conhece os territórios e suas gentes, e são elas quem pode ser responsabilizado
politicamente em caso de divergência de entendimento quanto às políticas
adoptadas, por derivarem do voto popular.
O presente caso da interferência do
ICNF, estrutura burocrática sedeada em Lisboa, visando o abate de árvores na
serra de Sintra e nas costas das autarquias respectivas, é uma distorção do poder
local e resquício dum poder bafiento e tecnocrático onde a discricionariedade
impera. Sendo Sintra, no caso vertente, a guardiã dum Património da Humanidade
na categoria de Paisagem Cultural para cuja classificação contou sobremaneira o
espaço cénico e a imagem humana e natural construída, não deveriam ser os seus
representantes mais directos a ter a última palavra quando se montam este tipo de operações ditas de "segurança"? Devem critérios
fitossanitários duvidosos ou burocratas cinzentos presidir a decisões que são
antes de mais políticas e estratégicas visando uma política de ordenamento
florestal participada, sustentável e amiga das populações que dela fazem parte
também, quer como produtores, quer como fruidores?
Venha a nova lei e dê-se a César o
que é de César, para que de vez se possa fazer política para a floresta e não
só para a árvore. Com mecanismos de controle, vigilância, escrutínio e
transparência, claro está.
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