Vivemos na era do Me, Myself and I, do hedonismo egoísta e do Eu como centro de todas as coisas. De tal modo que todos têm uma página na rede social onde sobretudo explanam estados de alma, fotos de si próprios, partilha de vulgaridades, em que a envolvente apenas serve para destacar mais o quanto nos valorizamos nos mais diversos contextos, desde o apregoar a solidariedade com pessoas e causas, que devia ser simples e desinteressada, até destilar ódios, rancores, frustrações e silêncios que se gritam, como simplesmente desejar feliz aniversário, chingar o clube de futebol adversário, exibir o cão, o filho pequeno, ou o prato do marisco que se foi degustar à beira mar. Até o sexo já é virtual, dispensando o parceiro, seus odores e humores no after hours.Tudo sempre acompanhado de desabafos no confessionário digital, à espera de caridosos likes, veniais lols ou dum qualquer emoji repetido pela enésima vez.
O Homem Narcisista
não acredita no futuro, é pressionado pelo individualismo competitivo, ansioso,
entediado, cínico e volátil, produzida para consumo imediato. O “eu primeiro” e
a falta de percepção do outro em todas as relações, afetivas, profissionais,
sociais e até sexuais, chega a extremos em alguns casos.
Errantes, as
pessoas são zombies carregando telemóveis e tablets como armas no período
das guerras, desejam ser compreendidas, mas dispõem-se a
compreender cada vez menos, querem ser ouvidas, mas ouvem cada vez menos. Temos o motorista que
quer passar à frente de todos, mas não deixa ninguém passar à sua frente e
quando, inadvertidamente alguém entra à sua frente, é capaz de
descer do carro para tirar satisfações, ou coisa
pior. A mãe que pára em segunda fila, atrapalhando o trânsito, porque o filho
não pode dar dois passos até ao carro, quando vai buscá-lo à escola. E quando
alguém reclama por conta da tal infração, o errado é o outro, nunca ela. O filho
vê essa cena, e acredita que isso é que é correcto. Me, Myself and I
Alguns
professores são veementemente desrespeitados no exercício de sua atividade
porque alguns alunos acham-se no direito de fazer o que bem entendem, o que lhe
dá prazer naquele momento, independente de um mínimo de respeito às regras de
convivência, e isso pode ir desde fumar na sala de aula, atender o telemóvel ou
falar em voz alta como se só estivesse ele na sala, desrespeitar os professores
e usar palavrões, o que reforça a liderança da tribo.
Todos os
dias vemos nas manchetes de jornais o quanto o respeito ao próximo é
aviltado e o quanto é mais importante TER do que SER. Vivencia-se uma
distorção dos vínculos afetivos, a falta de limites e de parâmetros. Ouve-se e vive-se a falta de perspectiva ou de sentido no trabalho,
na educação, na saúde, na vida.
Parece-me
que essa falta de perspectiva decorre da convicção de esse caminho ser visto como a
única alternativa, há que aproveitar hoje, pois não se sabe nada
sobre o amanhã, e então que se tenha prazer hoje e agora! Para quê
estudar, se não vai haver trabalho no futuro? Para quê dar o melhor de si num
trabalho, se se pode ser mandado embora a qualquer momento?
Falta
comprometimento, e isso é fruto da falta de perspectiva. Como buscar objectivos de longo
prazo numa sociedade com valores e expectativas de curto prazo? Como manter relações duráveis se o que se
busca é o imediatismo?
Este
Admirável mundo global da Comunicação é afinal um esquizofrénico mundo de solidões gritadas
para amigos virtuais que mais não são que electrodomésticos, onde a emoção, a
demonstração da amizade ou a opinião são estereotipados e a massificação das emoções fê-las venais e rituais. Homem, inútil compreender esse animal aflito!
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