Um nome deveria ser apenas um nome, contudo é em si
por vezes mais um significante que simples significado. Um António a solo é
sempre um António, português, magro, de bigode, carpinteiro (todos os
carpinteiros eram Antónios, como as dactilógrafas eram Suzettes ou os
empregados de restaurante Zé (se for daqueles onde se serve bitoque em prato de
barro e tem um toalhete de papel onde se escreve ou desenha, ao sabor do
assunto.)
Os nomes têm classes sociais e servem para
distinguir: os ricos chamam-se Diogo, Tiago, Salvador, Santiago, Manuel Maria
(se for Manuel ou Maria é por certo algum suburbano casal da Brandoa ou
Moscavide) os pobres são João, José, trinta qualidades de Maria duma santa
qualquer, ou mais recentes, produto de muitas horas de novelas, a era dos
Fábios, Reinaldos, Tatianas, Déboras ou Vanessas.
Os políticos, por exemplo, adotam nomes que são por
si marcas. Se na tropa somos apenas o apelido, nivelador e massificador, na
política houve o Presidente Cavaco não o Presidente Silva, o PM António Costa e
nunca o PM Costa, Marcelo Rebelo de Sousa nunca seria o mesmo se fosse apenas o
prof. Sousa ou o prof. Marcelo Sousa, como muita gente não sobreviveria sem o
pergaminho dum “de”, seguido de apelidos com vários “l” e vetustos “z” no lugar
do ridículo “s”.
São pessoas com nome, e se estiveram na política,
pessoas a quem chamamos nomes. Por vezes refilam por atentado ao seu bom nome.
Mas terá bom nome alguém que se chama Jardim, pedaço de relva com flores e
terra, ou Portas, essa coisa por onde se entra e sai, sendo entrada ou saída
consoante o ponto de vista, ou Rosas (pode um canastrão de suspensórios ter
alguma coisa a ver com tão simpática flor amiga de pães e milagres?).
Um nome pode ser tudo e pode não ser nada. Há
números que fazem nomes, sobretudo os de contas bancárias e há nomes para fazer
número, especialmente se for um dos 230 convivas duma tertúlia que reúne para
os lados de S. Bento. Nenhum jovem da Zona J se chamará Adolfo ou Epaminondas,
como nenhuma tia de Cascais se chamará Josefa ou Aldegundes. E se por acaso
tiver ocorrido um cataclismo social onde por loucura ou imprevidência um desses
nomes tenha sido escolhido, logo a segurança dum apelido resguardará o seu
usuário da vil tristeza ou do cheiro a pobre que tal nome possa acarretar.
Digam qual o vosso nome e talvez muitos vos chamem
nomes….
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