Estimular a cidadania ao promover a
educação e as boas práticas para a defesa do Património deve ser tarefa de
todos ao serviço do interesse colectivo. Com a vida moderna, as memórias do
passado e a diversidade criada pela natureza têm vindo a ser destruídas ou
adulteradas sistematicamente. Não se respeita a história (as tradições e as
obras das gerações anteriores) nem a natureza (os ecossistemas na sua
diversidade). Para que as futuras gerações tenham uma ideia da riqueza do que
foi produzido, para que sobrevivam amostras dos valores produzidos pela
natureza ou pela história, é necessário defender esse legado contra a miopia
cultural ou devassa inconsciente. O processo de reconhecimento do valor do
património por parte da sociedade no seu todo, é tarefa urgente que deve ser
incentivada na senda da cidadania pró-activa e na construção de uma prática
colectiva de respeito pelos bens patrimoniais (materiais e imateriais) que nos
cercam.
O valor que atribuímos aos locais,
objectos ou memórias é decorrente da importância que lhes atribui a memória
colectiva. E é esta memória que nos impele a desvendar o seu significado
histórico, valorizando-os como traço de união com o futuro que é já hoje. É
possível e necessário um desiderato que permita e exija a participação cívica e
que gere o envolvimento da sociedade com os bens patrimoniais e naturais que
são a nossa Herança Comum.
A educação deve primar pelo
desenvolvimento de acção pedagógica que valorize os bens patrimoniais formando
uma consciência visando a sua preservação, compreensão e divulgação, como
instrumento de alfabetização cultural, através do diálogo cultural com outros e
de processos de sensibilização, sacudindo
as mentalidades, cultivando a sensibilidade inter-cultural e a
consciência necessárias à formação de um
novo paradigma. De certa forma, consagrando um novo Direito/Dever do Homem.
Este processo pode interagir com o
ensino formal (escolas), e o não formal (comunidade, actores culturais,
associações culturais ou de defesa do património etc). A cultura tem de ser
transmitida propiciando a possibilidade de manter a própria identidade. É a
alma dum país expressa através de saberes, celebrações e formas de expressão do
povo, “materializados” no artesanato, nos costumes das comunidades, na
gastronomia, nas danças e músicas, festas religiosas e populares, nas relações
sociais de uma família ou de uma comunidade, nas manifestações artísticas,
literárias, cénicas e lúdicas, seja em espaços públicos, populares, colectivos
ou religiosos.
É imperioso que as escolas se
empenhem nesta missão, levando os alunos aos locais degradados para os
sensibilizar sobre o que ali existiu e ainda pode vir a existir, contar a
História, seja do grande guerreiro seja da simples lagartixa ou do doce
conventual, impregnar o desejo de ver o património recuperado, incentivar o
voluntariado cultural para a vigilância da natureza e civismo (evitando
graffittis, piqueniques selvagens, passeios de mota selvagens ou despejo de
detritos, p.e). Esse o desígnio e tarefa dos actores sociais e culturais, na
Escola ou na Sociedade, e das associações ao nível local. Porque não visitar a
Sintra das ruínas e dos monos, consciencializando e formando jovens para serem
cidadãos e autênticos Guardiães do Património?
Nesse sentido, o processo de ensino e
aprendizagem pode tornar-se um instrumento no despertar de uma consciência
crítica e de responsabilidade para com a sua preservação, indo ao encontro do
pensamento de Paulo Freire, na busca de uma
atitude que capacite o educando
na escola ou o cidadão na sua rua ou
cidade a compreender a sua identidade cultural e a reconhecer-se
de forma consciente nos seus valores próprios, aumentando o seu
"sentimento do nós". A postura que tomarmos diante do ambiente em que
interagimos transforma-o, propiciando a nossa própria transformação. E para
tanto, torna-se necessário interagir pela percepção do que o outro nos possa
revelar e fornecer em conhecimentos e costumes, saberes inatos que nos servirão
de material para a comunicação do nosso saber. Aprender e Defender o Património
é também fazer Portugal.
Por fim, e materializando o atrás
descrito, uma proposta e um desafio: porque não criar e promover núcleos de
defesa do património envolvendo autarcas e sociedade civil e funcionando ao
nível das juntas de freguesia, de modo permanente, informal e interventivo? Uma
ideia a desenvolver.
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