João Afonso Aguiar, meu grande amigo e jovem e promissor
jurista, publicou o seu primeiro livro de poesia, Ab Initio de título, se títulos os poemas devem ter, e em breve mas
marcante viagem interior nele surpreendemos o pássaro que deixa enfim o exílio e sobre nós esvoaça, cavaleiro sem armadura mas dono do seu castelo,
enfim alcançando o seu tangível Parnasso. Vagabundo da palavra no Gólgota das
paixões, hibernou em invernos e sonhou verões, urso pardo à espera do seu
Norte. E planando sempre, livre, finalmente até nós chegou, marcada que enfim estava a Hora.
Fingidor sem fingimento, invisível peregrino da vida, dos
seus poemas irradia luz, a luz que só cegos podem ver, pois maior cegueira não
há que a da paixão. De máscara em máscara, patrulheiro de sombras, ei-lo
chegado à primeira paragem da perturbante Viagem, para nela sair,
lucidamente perdido no desfiladeiro lúdico.
Escreve João, na sua sábia loucura:
“Percorro a pluralidade
do pensamento
sozinho
confronto-me com o
olhar
aí encontro a minha
insanidade
são imagens do que não
sou,
Não existo,
não sou o que sou
sou o que sonho”
Revelado poeta, desnudada a alma no papel-confessionário,
João Afonso envia a palavra límpida e antes agrilhoada definitivamente ao seu
destino, qual origami dos sentidos e
paleta de cores em desordem. Contudo, nada atenuará o facto de que cada verso,
cada poema, nasce da tirania individual entrincheirada nas verdades e nos
mundos individuais, oníricos e febris. O leitor pode nos seus versos descobrir
mundos, estados de alma, intenções, disruptivas emoções ou almas gémeas de
mundos partilhados, mas só o autor, em segredo, guardará o enigma da escrita,
ortónimo de personagens várias. E aí está o eterno e renovado fascínio da escrita e o mistério da
leitura. Um grande abraço para o João e o convite a ler este seu primeiro
livro. No princípio é o Verbo.Ab Initio.
“Ser trágico e
imperfeito
sozinho nesta forma de
existir,
serei louco até me
acomodar no leito
e finalmente na morte
poder em paz dormir”
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