O momento é solene na Quinta do Espingardeiro. Sua Alteza Real El-Rei D. Duarte II, novo rei de Portugal, recebe neste momento os conjurados que o restauraram na Coroa depois dos extraordinários eventos da última madrugada.
Assinalando-se como de costume o feriado do 1º de Dezembro, grupos monárquicos convocaram durante a noite, através do Twitter, uma manifestação contra o regime, em protesto contra a degradação das instituições e do prestígio do país, e logo pelas cinco da manhã umas dezenas de jovens, vindos do Urban e da Rua Rosa, se juntaram no Terreiro do Paço, local onde em 1908 o saudoso rei D. Carlos foi assassinado por cobardes carbonários.
Rápido alguns milhares acorreram em apoio, a captar o flash mob para o Instagram. Passando na hora, embuçado, o fadista João Braga falou à multidão, incitando contra os corruptos e vendilhões da Pátria, momento em que um grupo mais determinado apelou a que se restaurasse a monarquia no país. Inflamados, e fugindo ao controlo dos poucos policias destacados, marcharam até à fragata Corte-Real, ancorada em Alcântara, onde só um oficial de dia e alguns marinheiros permaneciam. Invadindo a embarcação, e aprisionado o tenente de serviço, fuzileiros veteranos, hoje porteiros de bares na 24 de julho, apoderaram-se do navio e do paiol, para gáudio da populaça, com nacionalistas e skinheads à mistura, conduzindo o amotinado vaso de guerra para Belém, onde via rádio, e já frente ao palácio presidencial, contactaram o Estado Maior das Forças Armadas exigindo a rendição do regime.
Enquanto grupos civis cortaram os acessos a Belém e S. Bento, controlando as saídas dos cacilheiros e do metro, os ocupantes do Corte-Real ameaçaram com fogo sobre Lisboa e o Palácio de Belém, exigindo a rendição do Presidente da República. Apanhado de surpresa, (apesar de saber sempre tudo), este encontrava-se no momento a tirar selfies no Banco Alimentar contra a Fome, e aí encontrou abrigo junto de alguns sem abrigo, tendo sido escondido por Isabel Jonet entre pacotes de esparguete e o leite em pó. Um assessor ainda tentou parlamentar com os revoltosos, mas estes, via grupo de Whatsapp, entretanto criado, mostraram-se intransigentes, e o ex-presidente acaba de ser evacuado num tuk tuk para a Base Aérea nº1, em Sintra.
Alertadas, a CNN e a CMTV enviaram já jornalistas para o terreno, Christiane Amanpour, Tânia Laranjo e Moita Flores estão a comentar em direto, garantindo a mão de Rosa Grilo e de Carlos Santos Silva na rebelião e financiamento do golpe. Em Sintra, no café da Natália, D. Duarte, vai sendo informado por telemóvel e pelos alertas da CMTV do curso dos acontecimentos, roendo as unhas e comendo travesseiros quentinhos.
Reunido no Restelo, o ministro Cravinho ameaçou com a força militar, e com um ciberataque aos revoltosos, para tanto tendo mobilizado alguns estagiários recentemente contratados a 500 euros na Web Summit, e Rui Pinto, que sabemos ter sido solto há pouco no calor dos acontecimentos por Ana Gomes e Francisco J. Marques. Ainda se tentou acionar um dos submarinos, o Tridente, mas este tem a guarnição toda em formação, e nunca fez tiro real, além de que os operacionais e a artilharia estão na República Centro Africana e os poucos que estão de serviço ainda estão de ressaca das comemorações do 25 de Novembro.
No auge da operação, os conjurados, com o apoio de um grupo de forcados e figurantes do programa do Baião, aliciados com a promessa de bilhetes para o Rock in Rio e o Europeu, invadiram o Palácio de Belém, apeando a foto do deposto presidente Marcelo e içando a bandeira monárquica. Uma proclamação ao país circula no Twitter e no Facebook, e muitos populares, arvorando bandeiras azuis e brancas, se multiplicam neste momento nas ruas da Baixa, num Black Friday patriótico. No Palácio da Independência, Mário Centeno e Eduardo Cabrita, amordaçados com golas antifumo, foram defenestrados pela populaça aos gritos, acicatados por Bruno de Carvalho, e pelo Rouxinol Faduncho, ostentando já umas reluzentes dragonas de marechal. Sem derramamento de sangue, reforçado o movimento com o apoio de ex-militares da PJM, com granadas recuperadas de Tancos, alguns amigos de Mustafá e do Macaco, e da própria Cristina Ferreira, caiu de forma abrupta a III República Portuguesa, implantada a 25 de Abril de 1974.As redes sociais estão entupidas de likes e emojis, os telemóveis saturados, e o Hino da Carta é neste momento o vídeo mais visualizado no You Tube, a par dos discursos de Greta Thunberg e do nascimento de pandas no zoo de Budapeste.
Ainda esta manhã, na casa de Sintra, D. Duarte vai receber uma delegação de conjurados que em exaltação patriótica o irão proclamar legítimo herdeiro do trono, gritando real por el-rei de Portugal. Sabe-se já que com o apoio da futura rainha, D. Isabel de Herédia, e dos infantes, Sua Majestade vai aceitar o pesado fardo que o povo português, nação de gente boa, lhe pede neste momento histórico, e em cortejo triunfal partirá ao fim da manhã para a Ajuda num UMM blindado, escoltado por motards e campinos a cavalo. Derrotado em Évoramonte, o bisavô, D. Miguel, exulta por certo, lá onde esteja.
Na sala do trono no Palácio da Ajuda as forças armadas irão prestar lealdade ao novo monarca, que, dirigindo-se ao povo duma das janelas, e envergando o manto que pertenceu a D. Carlos, irá prometer democracia e pluralismo, respeito pela tradição, e julgamentos isentos para os derrotados. Uma banda tocará o Hino da Carta, esperando-se igualmente discursos de Toy, Lili Caneças e Betty Grafstein, duquesa de Mântua.
Segundo nos fizeram saber já, as primeiras medidas do novo regime serão a extinção da Guarda Nacional Republicana, substituída pela Guarda Real, a convocação de Cortes Constituintes e a nomeação dum governo de puro sangue azul, sendo o nome mais falado para o presidir o Marquês das Antas, D. Jorge Nuno. A aclamação oficial de D. Duarte II ocorrerá na Sé de Lisboa daqui a um mês, perante o clero, a nobreza, e os parceiros sociais.
Ainda esta noite o presidente deposto, Marcelo, partirá para o exílio, encontrando-se neste momento a tirar selfies com os militares que o detiveram. Perturbado, fala sozinho, e solta frases sem sentido, como comprar leite para os sem abrigo ou ter ainda trinta e sete condecorações por entregar. O ex-primeiro ministro António Costa, que se encontrava na Índia, em visita oficial, ainda apelou à mediação de Guterres e do videoárbitro, mas reconheceu já a derrota. É impressionante o ambiente nas ruas, o povo exulta, grupos de forcados de Salvaterra, membros do grupo Stromp e até José Cid acorrem a celebrar o novo rei. Uma corrida à antiga portuguesa com pompa celebrará em breve este dia histórico, em que a velha nobreza e os marialvas estão finalmente vingados.
Refreadas as emoções, há que retomar a administração da coisa pública. Na quarta feira, o Conselho de Ministros irá reintroduzir o escudo como moeda nacional, com cotação em paridade com o bolívar venezuelano, e inúmeros dirigentes do PAN partirão para o exílio em Trinidad e Tobago, condenados a comer sandes de courato e febras durante a viagem. Ao deputado Ventura foi prometido um título de duque, e a nomeação como novo Intendente da polícia. Dois conhecidos líderes espirituais negros, Joacine e Mamadu, fugiram para um quilombo perto de Palmela, onde ainda hoje serão detidos e levados a julgamento, do Brasil voltarão exilados como Jorge Jesus, que será ministro do Desporto e feito Visconde de Flamengo.
Instalado na Pena, contemplando os seus domínios e as hordas de súbditos e turistas, D. Duarte II vai finalmente reinar no trono de Portugal. Viva o Rei! Viva o 1º de Dezembro! Antes Rei uma hora no Facebook que pretendente toda a vida!
Em breve num cinema perto de si.
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