2019 chega ao
fim com diversas nuvens no horizonte, desde a incerteza quanto à economia
mundial, dado o Brexit e a tensão nas relações com a China, quer na evolução do
processo democrático em muitas zonas do globo (Hong Kong, Venezuela e Bolívia,
entre outras, sem falar no grande debate e nas grandes decisões adiadas sobre o
combate às alterações climáticas, que os grandes poluidores teimam em procrastinar, quais avestruzes na areia.
O ano
internacional foi marcado, nas Américas, pela irrupção do populista Bolsonaro
no Brasil, a braços com o défice democrático, a catástrofe ambiental na Amazónia
e as decisões pendulares em torno da Operação Lava Jato, que para já colocaram
Lula fora da cadeia, bem como pela tensão política no Chile e na Bolívia, aqui
tendo mesmo levado à demissão de Evo Morales, e o regresso do peronismo à
Argentina. Mais a norte, a guerra comercial de Trump, a braços com a trapalhada
dos telefonemas para a Ucrânia e o processo de impeachment, prometem cenas dos
próximos capítulos em 2020, ano de eleições presidenciais.
Na Europa, o
Brexit balançou entre os gritos por “order” e as piruetas de Boris Johnson,
vencedor duma guerra ganha pelo cansaço, enquanto no universo comunitário uma
nova equipa imposta pelo diretório franco-alemão impôs Ursula Von Der Layen
como a “senhora que se segue”. Também Espanha esteve na berlinda, com as
sentenças dos independentistas catalães e a sucessão de atos eleitorais
inconclusivos, fato que também ocorreu em Israel, levando a soluções de
compromisso instável ou mesmo a novas eleições no ano que vem.
África mantém-se
pouco aberta a grandes mudanças, não obstante as eleições em Moçambique e na
Guiné-Bissau terem ocorrido com transparência, segundo os observadores, e Omar
El-Bashir e Boutflika tenham sido substituídos por pressão popular, no Sudão e
na Argélia, o primeiro ministro etíope tenha ganho o Prémio Nobel da
Paz, e Mugabe morrido, já afastado, aos 95 anos.
Produto ou não
do clima que se revolta, houve ciclones em Moçambique, nas Bahamas e nos
Estados Unidos, tornados nos Açores, fogos no Brasil, na Califórnia e na
Austrália. Clima que pôs em destaque Greta Thunberg e as Fridays for Future, e a
impotência dos Estados para afrontar o problema, como o fiasco da COP 25 o
atesta.
Destaque ainda
para os atentados de Christchurch, a prisão de Julian Assange, a entronização
de Naruhito no Japão, o incêndio da Notre Dame, a morte de Jacques Chirac, a
convulsão social em França e a vontade da Turquia de se tornar uma potência
hegemónica na Ásia Central.
Entre nós, o ano fica marcado pela reeleição de António Costa, o fim da
“geringonça”, a criação do Aliança, e o aparecimento de novos partidos na
Assembleia da República, o caso das golas inflamáveis, as greves dos motoristas
de matérias perigosas e dos enfermeiros, a saída de cena de Assunção Cristas e
a continuação da atenção mediática em torno de diversos casos judiciais, uns
mais políticos (Operação Marquês, Tancos) desportivos (Alcochete) ou criminais
(morte de Luís Grilo). Casos como o do bebé sem rosto ou o encontrado no lixo,
o aumento da violência doméstica, as atitudes de Joe Berardo no Parlamento, e o
estado do Serviço Nacional de Saúde foram notícia ao longo do ano e prometem
passar para 2020. De referir também o desaparecimento de Arnaldo de Matos,
André Gonçalves Pereira, Alexandre Soares dos Santos e Freitas do Amaral, e de
figuras de relevo da cultura portuguesa, como Sequeira Costa, Bigotte Chorão,
Maria Alberta Menéres, Agustina Bessa Luís ou Pinharanda Gomes.
No plano
cultural e artístico internacional, é significativo o painel dos que nos
deixaram este ano: James Ingram, Agnes Varda, Bibi Ferreira, Bruno Ganz, Karl
Lagerfeld, André Previn, Beth Carvalho, Doris Day, Franco Zeffirelli, João
Gilberto, Rutger Hauer, Peter Fonda ou Anna Karina, num ano marcado pela
ascensão da Netflix e do digital e pelas ameaças do 5G chinês. No plano
nacional, assinalar a morte de Dina, Roberto Leal, Teresa Tarouca, Argentina
Santos, José Mário Branco, Eduardo Nascimento, o reconhecimento dos caretos de
Podence como Património Imaterial da Humanidade, o Prémio Camões atribuído a
Chico Buarque, e o Pessoa a Tiago Rodrigues.
O desporto
continuou a ser marcado pelo futebol e pelas polémicas: a situação explosiva do
Sporting, a expulsão de Bruno de Carvalho, os casos e-toupeira, Lex, ou Rui
Pinto. Mas também pela vitória do Benfica e de Bruno Lage no Campeonato
Nacional, a transferência milionária de João Félix para o Atlético de Madrid, a
conquista da Liga das Nações, ou os sucessos nos campeonatos do mundo de hóquei
em patins e futebol de praia, a par de troféus individuais, como o do judoca
Jorge Fonseca, e o o reconhecimento internacional de Jorge Jesus no Brasil.
Morreram, entre outros, Nikki Lauda, Jordão e Fernando Peres.
Last, but not
the least, Sintra. 2019 continuou a marcar o crescendo de Sintra como destino
turístico, confirmado pelos milhões de visitantes e potenciado pelos inúmeros prémios
internacionais e a visibilidade dada este ano pela estreia do filme “Frankie”
de Ira Sachs, integralmente filmado entre nós. Destaque fatual para a
inauguração de novos centros de saúde, a aprovação do novo Plano Diretor Municipal
ou as alterações ao trânsito e regulamentação do transporte turístico.
Finalmente, uma nota de saudade para assinalar três amigos que faleceram, a
todos deixando saudade: o arquiteto Diogo Lino Pimentel, grande defensor do
Centro Histórico e sua autenticidade; o antigo vereador António Correia de
Andrade, lutador em prol da resolução de muitos problemas urbanísticos,
ligados, sobretudo, com os bairros ilegais; e o anterior presidente da junta de Cacém e S. Marcos, Estrela Duarte, exemplo de trabalho e dedicação às
populações por si representadas.
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