Com o país a banhos, rodeado da fumaça dos incêndios, e a aproximação do período de campanha para as autárquicas, em Sintra anda-se a passo de caracol e os turistas chegam aos milhares, logo cercados pelos vendedores de visitas a caminho dos palácios idílicos por estes dias mais parecidos com o metro de Tóquio. O velho burgo mexe, rendido aos alojamentos locais, wine bars e caravanas de tuk tuk, serpenteando pelo delicious Edén, por ora Suplicious Hell. Nos quarteis generais dos partidos, tudo se prepara para mais uma saison de febras, sardinhas e discursos épicos sempre muito zangados com os adversários, não esquecendo de prometer o leite e o mel, a ciclovia, a devolução do IMI, casas baratas e estradas, centros de saúde, empresas, para logo travar ao cair do dia 1 e voltarmos ao business as usual, às coligações entre os até aí indignados, ao escolher dos gabinetes, motoristas e lugares na Administração, sempre com sacrifício da vida pessoal, claro.
No meio de tudo, onde ficam as ideias, o debate, as
pessoas, meros boletins de voto com pernas? Como diria um velho professor, há
ideias novas e boas, só que as novas não são boas e as boas não são novas. O ecossistema
político está aprisionado do CO2 da partidarite, demagogia, falta de ideias e
sobretudo falta de competência para resolver os problemas. Não falo da
autarquia A ou B, falo do quadro geral de clubite onde os candidatos são os
mesmos do costume, numa clara falta de ousadia para renovar (os fieis estão
sempre garantidos, com lugar futuro nalguma divisão, comissão ou grupo de
trabalho), refrescar as ideias e chamar gente nova, cada vez mais afastada da
coisa pública e anestesiada no analgésico mundo do virtual.
Seja pelo prazer venal do soundbite, a satisfação de egos
pessoais, interesses económicos ou grupais, modas em prol dos gatinhos ou da comida
vegan, de tudo estamos a assistir nesta feira de vaidades bacoca e sem desígnio
que de tempos a tempos invade a nossa rotina. Muito têm alguns batalhado pela
mudança do estado de coisas comatoso em que o país adormeceu, mas é difícil
mudar quando, chegadas as eleições, a única mudança porque se luta é a das caras ou a manutenção das
mesmas.
É certo que os programas eleitorais lá trarão as incontornáveis
referências à inclusão, ao empreendedorismo, ao apelo à participação ou à
mudança, essa palavra chave que todas as esperanças permite no sentido em que
cada uma a entenda. Mas que a monotonia e torpor do deja vu capturam cada vez
mais a política é um facto indesmentível, só os fait divers suscitando o
voyeurismo efémero para preencher os telejornais do dia. Entretanto, temos a
rentrée futebolística, os festivais de verão, as festas da aldeia e mais um
querido mês de Agosto bafejando com dias quentes as almas amornadas por
quotidianos duros, embora sob o zumbido de palavrosas campanhas eleitorais, com
as segundas iguais às sextas, os jornais-abutre salivando escândalos e tragédias,
os golos marcados e os penalties roubados e a necrologia, a ver quem deixou de
fumar. Lê-se a opinião publicada para se ter opinião, há culpados, e os
culpados são “Eles”. “Eles”, sacrossanta tribo do nosso descontentamento, “Eles”,
que roubam, conspiram, tiram partido, servem-se. “Eles”, que são o corpo
alienígena, possuídos mutantes e criaturas esfaimadas, adamastores de gravata e
ogres de notebook, justiceiros de pecados por expiar. Valem as páginas
eróticas, oferecendo ninfas a cinquenta euros em qualquer espelunca do subúrbio,
a fezada do Placard ou o novo episódio da Guerra dos Tronos.
Mas pronto, a culpa de tudo é das alterações climáticas, e como não podia deixar de ser, do SIRESP...Como dizem os ingleses, "No news? That's good news!"
Mas pronto, a culpa de tudo é das alterações climáticas, e como não podia deixar de ser, do SIRESP...Como dizem os ingleses, "No news? That's good news!"
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