Conheci o Rui na Primavera de 2005 nas Caves de S. Martinho, mítico café de Galamares, hoje fechado, onde um mês antes nascera a Alagamares, sob o impulso de 46 entusiastas. Procurávamos quem declamasse poesia num evento de apresentação da nova associação, após um dia de actividades que envolveria visita a Monserrate e jantar, e alguém nos falou dum grupo de jovens actores, entre eles o Rui Mário e o Pedro Hilário, músico e inseparável companheiro, que logo se disponibilizaram para o efeito.
Do Rui retive logo a imagem dum ser apaixonado pelo seu trabalho,
pela representação como dádiva, e do teatro como palco de vida, e nasceu uma
amizade feita de diversas partilhas, duma forte ligação pessoal e do Tapafuros
com a Alagamares, vertida nas noites de poesia no 2 ao Quadrado ou no
Legendary, nas cinco oficinas de teatro por si orientadas para a Alagamares,
das colaborações sempre pro bono que nunca nos recusou, de modo a considerá-lo
não só um grande amigo mas um compagnon
de route, fosse nos eventos na penumbra da Regaleira, nos bares e palcos de
Sintra ou nas longas noites de conversa mole e líquida…
Sintra tem os seus ícones históricos, mas também formiguinhas laboriosas que vivem fazendo Cultura e fazem Cultura vivendo. E
nos últimos anos, com Rui Mário, angustiado Ser mas seguro Mestre dando
instruções e atento aos detalhes, (criar sonhos também é feito de muitos pesadelos),
invisível arconte e alquimista na noite escura, atrás das árvores da Regaleira
ou do Parque da Liberdade conduzindo aflitos mortais na valsa lenta de
Ser/Fazer Teatro, colocar máscaras e construir sombras, convocando para a
grandeza das fragilidades que só o Teatro, vivo e próximo, cúmplice e agrilhoante
permite, assim invadindo e alimentando públicos, ávidos e fáceis no aplauso umas vezes,
avaros na presença ou no incentivo outras. Com Rui Mário, o teatro é a Vida-
um libelo de resistência, a sobriedade da loucura, a poção do druida que a
todos tonifica e fortalece.
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