Mário Soares ficará indelevelmente na História de Portugal como uma das grandes personalidades do século XX, a par de Afonso Costa, Salazar ou Álvaro Cunhal, todas na sua circunstância e enquadramento histórico.
De compagnon de route do PC a fundador do
MUD Juvenil, de apoiante de Delgado à deportação em S. Tomé, foi com o espanto
dos meus catorze anos que vi anunciar a chegada a Santa Apolónia naquele final
de Abril de 1974 daquele político exilado, de quem só uma vez ouvira falar em
casa de meu avô. E com ele e com outros estive nesse épico 1º de Maio de 1974,
nesses dias frenéticos em que tudo parecia ser possível. Crismado como o Kerensky
português por Kissinger, foi graças a ele que após a luta contra a ditadura se
travou a luta pelo pluralismo e pelas liberdades, como se viu com o caso
República, o 11 de Março, o Verão Quente de 1975 ou o cerco à Constituinte.
Homem de esquerda, mas sobretudo humanista e moderado, nele se reviu a maioria
do povo português em eleições para a Constituinte e para a primeira Assembleia
da República. E apesar de alguns estigmas que lhe quiseram colar- o pisar da
bandeira em Londres, a descolonização, etc- foi já um político com os pés
na terra que nos levou à democracia institucionalizada, ao Serviço Nacional de
Saúde ou à entrada na então CEE. Com ou sem socialismo na gaveta, com ele
Portugal enfileirou com as democracias europeias, nunca se negando a um
combate, e ao mesmo tempo sendo um homem de letras mundano, no que de mundo tem
a mundanidade. Lá fora esteve com as democracias, visitou Arafat em Beirute,
pugnou pela sua família política e trouxe Portugal ao século XX, apesar do
socialismo na gaveta ou dos salários em atraso e das duas vindas do FMI com que
o país se teve de defrontar.
Envelheceu
como senador, e aos adversários políticos nunca olhou como
inimigos, fez de Portugal uma sociedade aberta, democrática e cosmopolita.
Quase a despedir-se, recordo a sépia e com emoção essa chegada a Santa Apolónia nesse Abril madrugador, o 1º de
Maio de 1974, a adesão à Europa ou até o passeio de tartaruga nas
Seychelles. ou de elefante na Índia. Na História está já, e mais que num parágrafo de rodapé, com outros portugueses de destaque merece o nosso tributo e orgulho por a par de outros ao longo dos anos, ter sabido haver um tempo para construir um modo. O nosso Tempo.
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