Tudo se prepara no salloon de
Washington para a chegada dos Dalton, Jesse James e Billy the Kid dia 20 de
Janeiro. Apeado o escravo liberto que durante oito anos tomou conta da fazenda,
é a vez dos cowboys voltarem à cidade para encharcar os adversários em alcatrão
e penas, talvez com vodka russa aos brindes...
Agora que chegou onde queria, Donald
Trump, o novo xerife, já pode voltar a ser o que nunca deixou de ser: um banal
troglodita que durante uns meses virou um troglodita político, não para
regenerar o sistema americano ou ser a voz dos deserdados de Washington, mas
para o narcísico cumprimento de um capricho: o de, depois de milionário,
apresentador de televisão, e socialite depravado ser presidente dos Estados
Unidos. Podia tê-lo feito entrando numa série da Netflix ou num filme de Clint
Eastwood, mas não, tal como o coronel do Apocalipse Now, que precisava do
cheiro de napalm pela manhã, Trump precisava de agarrar a Casa Branca como
agarrou as pussy das meninas do The Apprentrice. O poder é afrodisíaco, dizem,
e Trump está a saborear o seu, Nero dos tempos modernos pondo a culpa nos
imigrantes como antes este nos cristãos, pegando fogo a Roma e culpando
islâmicos, latinos, mulheres, com os seus cowboys pronto a devolver os Speedy
Gonzalez aos desertos do México ou os refugiados às ruinas de Alepo donde nunca
deviam ter saído.
Tudo teria graça não fosse uma
desgraça.Trump, o construtor civil, vai agora dedicar-se a construir
muros, cimentar a segregação, humilhar, deportar, ameaçar, qual novo e
requentado doutor Strangelove com o botão nuclear ao lado do champanhe francês
e de alguma playmate contemplando a "sua" América da janela da Sala
Oval ou da penthouse na Trump Tower. É claro que pouco ou nada do que disse ou
prometeu sairá do papel, mero soundbite para abrir telejornais e ganhar votos
nos rodeos do Kansas ou Arizona. Mas o mundo vai ficar mais perigoso,
desconfiado, fechado nos seus medos e numa perigosa esquizofrenia
isolacionista. A América que produziu Obama, também pode produzir um Trump.(ou talvez por isso mesmo).
Resta ver como reagirão chineses, europeus e mexicanos a esta fronda da direita
que em vez de proletários uniu milionários.
Os dados estão lançados, e a hora é de Trump, o novo dono do salloon.
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