sábado, 22 de março de 2014

O Quarteirão das Artes


Foi recentemente aprovada a criação duma área de Reabilitação Urbana com cerca de 180 hectares para o Centro Histórico de Sintra, ampliando-a em 130 hectares  em relação à delimitação anterior, o que a Assembleia Municipal de Sintra ratificou na sua reunião de 20 de Março passado.
Para a zona da Estefânea foi proposto pelos vereadores do PSD na Câmara Municipal um projecto de animação cultural designado "Quarteirão das Artes", que pretende dinamizar uma série de equipamentos públicos e privados existentes nesse perímetro, bem como diligenciar pela utilização futura de locais como o Sintra Garagem, recentemente recuperado, ou a arruinada Vila Granja, onde em tempos funcionou uma escola primária. Tal poderá ter potencialidades, mas implica, a meu ver, um conjunto integrado de políticas e procedimentos que envolvam os agentes culturais, os comerciantes e suas associações representativas e os moradores, num quadro onde cultura, branding comercial, ordenamento e estacionamento funcionem em articulação virtuosa.
Deve pois ser elaborado um projecto  que passe pela animação das ruas, com pequenos espectáculos musicais ou outros e de periodicidade regular e estabilizada, concursos de montras, a iluminação e decoração festiva, as semanas temáticas. Estes são alguns dos eventos que poderão servir como antídoto ao marasmo reinante, onde espaços velhos aguardam que a especulação imobiliária os transforme em bancos ou lojas de compra de ouro ou de telemóveis, como agora é o caso. Essenciais se tornam igualmente benefícios camarários na transmissão de imóveis para comércio tradicional e criação de emprego local, apoios à reabilitação contratualizados não só para as obras mas também para os usos subsequentes; política de eventos e de promoção agressiva, segurança e criação de um Gabinete Municipal que centralize a recuperação comercial, a política de horários, a segurança e mobilidade e uma política de toldos, esplanadas e ocupação do espaço público agilizada, pró-activa e dinamizadora.
No plano institucional tal poderá concretizar-se com a celebração de protocolo de médio prazo com todos os partners envolvidos, equacionando quais os eventos e iniciativas que devem ser executados pela Câmara ou pela União de Freguesias e aqueles que podem e devem ser delegados ou descentralizados, sempre acompanhados dum quadro financeiro e de recursos humanos adequado, numa óptica de proximidade (a ligação com as escolas do ensino básico e secundário, as associações culturais e desportivas, os criativos, os  alojamentos, restaurantes e bares e as associações de idosos, por exemplo). A isso não deve ser alheia a criação de um plano de reabilitação urbana urgente, a limpeza de fachadas, os horários de funcionamento e a agilização de procedimentos no que a licenças de recinto improvisado ou divulgação de eventos igualmente concerne.
A revitalização cultural de Sintra passará sempre por uma necessária criação de sinergias e parcerias entre os agentes culturais dispersos com o apoio dos poderes públicos, apostando num conceito de cidade criativa e aprofundando a conjugação de 3 linhas de força, a que Richard Florida no seu livro The Rise of the Creative Class chamou os 3 T: Talento,Tolerância e Tecnologia. Mas para quem começa por baixo, os passos a dar passam  antes de mais pela mobilização dos agentes culturais e disponibilização de espaços que possam ser centros de criatividade, encontro e troca de informações, algo como os ingleses fizeram com os Fab Labs, pequenos ateliers ou estúdios onde se possam instalar associações e pequenas empresas, fomentando uma economia criativa, com equipamentos básicos, máquinas de impressão, material gráfico, nas mais diversas áreas e onde se possa promover a troca de informação. Este conceito catapultou cidades antes adormecidas para novos paradigmas, como Sheffield, em Inglaterra, ou Helsínquia, com o seu Design Distrit. Em Amesterdão, o envolvimento de 9% da população em actividades e indústrias criativas ajudou ao crescimento do emprego. Na Suécia, a instalação de uma escola de artes circenses em Botkyrka, a 20 km de Estocolmo originou um centro de criatividade chamado Subtopia.
Chamar quem trabalha nas artes, ciência, arquitectura, design, moda, música, arte urbana e artesanato ou novas tecnologias e potenciar sinergias é o desafio que um espaço privilegiado como Sintra pode e deve agarrar. E aos espaços antes referidos na proposta do PSD para a Estefânea junte-se o Sintra-Cinema, na Portela, por exemplo, ou instalações encerradas, como o Casal de S.Domingos e a casa de Francisco Costa, numa base de arrendamento ou protocolo, e com um mínimo de condições de funcionamento, nada de faraónico ou de fachada, promovendo-se a virtuosa junção de criadores e criativos. Afinal a Cultura também contribui para o PNB e com relevo, como o conhecido estudo de Augusto Mateus já demonstrou. 
Sintra Criativa, essa sim pode e deve ser uma Marca, projectando uma verdadeira Economia da Cultura num território onde existem condições naturais, população jovem e criativa e factores de localização que podem gerar efeitos multiplicadores e dinamismo social. Na Estefânea e em outros muitos outros locais do concelho de Sintra, criando novas e profícuas centralidades nas periferias desordenadas.
Cabe igualmente ao sector financeiro e à banca  apoiar nesse âmbito pequenas empresas startup de índole cultural, que  firmas gestoras de fundos de venture capital podem ajudar com conhecimentos de gestão, acesso a redes de negócios e ajuda à obtenção de competências no posicionamento estratégico para a venda de produtos criativos inovadores e atracção de colaboradores, que nesse campo poderão inclusivé criar os seus postos de trabalho. Também aqui Sintra pode vir a mexer!

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