sexta-feira, 12 de junho de 2020

Todos iguais, mas todos diferentes

A morte de George Floyd foi um momento triste numa América violenta e onde a discriminação racial permanece latente e pronta a manifestar-se a qualquer fósforo incendiário. Contudo, tal não pode nem deve levar a manifestações de racismo de sinal contrário, como o derrube e vandalização de monumentos parece demonstrar, ou o protesto traduzido no assalto a lojas de marca para roubos e pilhagens sem justificação.
A escravatura foi um momento negro (passe a ironia) na História do Mundo. Mas, infelizmente desde sempre existiu, porque o homem é o lobo do outro homem, seja branco, negro ou amarelo, e a dominação pelo poder, por alimentos ou honrarias sempre moveu a natureza humana. Quando o infante D. Henrique comprou os primeiros escravos na Guiné, quem lhos vendeu? Régulos locais que se digladiavam entre si e escravizavam os inimigos para seu belo prazer, ou vendê-los aos europeus como coisas, com o beneplácito da Santa Madre Igreja. Tal como a Inquisição, a escravatura é execrável, mas podemos transpor para o século XXI a mentalidade de tempos imemoriais que só no século XIX europeu se interrompeu? À violência de séculos devemos responder com o apagar do passado ou com intolerância de sinal contrário? Vamos fazer fogueiras com a "Cabana do Pai Tomás", "Chaimite" e "O Feitiço do Império", ou cuspir e derrubar as estátuas de Mouzinho de Albuquerque ou do Infante D. Henrique? Já agora, em Sintra, vamos acabar com a Casa do Preto, esse antro escravocrata, o Jardim da Preta, no Palácio da Vila, ou mudar o nome a Negrais, tenebrosa terra onde se oferecem leitões em holocausto?. Também dirigentes africanos, muitos ditos libertadores do colonialismo se tornaram ditadores e até racistas de sinal contrário, como Mobutu, Bokassa, Idi Amin ou Mugabe, torturando e perseguindo o seu povo, após se livrarem do europeu explorador.
Haja bom senso, e assuma-se a História com clarividência e sem vinganças ou ajustes de contas ,ensinando e incentivando a tolerância em todos os níveis das sociedades modernas, sem esquecer a profética frase de Brecht: "do rio que tudo arrasta dizem ser violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem". Há negros, e brancos, latinos e eslavos, árabes e ameríndios, mongóis e índios de várias proveniências, e também entre eles e no confronto com eles nem sempre vislumbrou o Outro, igual e parceiro,mas inimigo e desconfiado. Acima de tudo, está a  raça humana e é a Humanidade a nossa comunidade de Destino.


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