Passa a 11
de janeiro mais um aniversário do famigerado ultimato inglês de 1890, quando o
primeiro-ministro Lord Salisbury enviou a Portugal um memorando exigindo a retirada das forças militares portuguesas chefiadas pelo major Serpa Pinto do
território compreendido entre as colónias de Moçambique e Angola (atuais
Zimbabwe e Zâmbia), a pretexto de um incidente entre portugueses e macololos. A
zona era reclamada por Portugal, que a havia incluído no famoso Mapa Cor-de-Rosa,
reclamando a partir da Conferência de Berlim uma faixa de território que ia de
Angola à contracosta, ou seja, a Moçambique. A concessão de Portugal às
exigências britânicas foi vista como uma humilhação nacional pelos republicanos
portugueses, que acusaram o governo e o rei D. Carlos de serem os seus
responsáveis. O governo caiu, e António de Serpa Pimentel foi nomeado
primeiro-ministro. O Ultimato britânico inspirou a letra do hino nacional e prenunciou o princípio do fim da monarquia dos
Braganças.
Depois da
retirada da família real para o Brasil, em 1807, nunca mais Portugal voltou a
ser uma potência relevante no concerto das nações, fosse pelos anos em que
estivemos sobre proteção britânica, fosse pela subsistência de um Império
apenas formal, e a irrelevância de Portugal foi notória daí em diante, fosse
com a questão do ultimato inglês, a participação na I Guerra Mundial ou o
isolamento internacional durante as guerras coloniais de 1961-1974. Vem isto a
propósito da posição portuguesa face aos recentes acontecimentos no Médio
Oriente. Por um lado, nada condenando quando a administração Trump ordenou o assassínio dum general dum estado estrangeiro com quem, pelo menos formalmente,
não está em guerra. Mas por outro, condenando de forma clara, segurando as calças do Tio Sam, a esperada
retaliação do país agredido, numa medrosa tomada de posição, supostamente de
solidariedade com os nossos “aliados”.
Desde o
século XIX que Portugal vive do fantasma dos ultimatos, ingleses, americanos ou
chineses (veja-se como fomos desconsiderados por Angola no caso de Manuel
Vicente, ou nem sequer fomos convidados para os 20 anos da devolução de Macau).
A realpolitik é a dos fortes, aos fracos cabe segui-los, de forma salivar.
Hoje é
também o Dia Internacional do Obrigado, hábito criado recentemente nas redes
sociais. Ultimatos? Não, obrigado. A não ser que sejamos obrigados… Obrigado
pela atenção!
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