terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A vitória dos plátanos


Foi publicado no Diário da República nº 19, II Série de 28 de janeiro,, o despacho do Instituto de Conservação da Natureza que classificou os plátanos de Colares como arvoredo de interesse público. Tal fim foi desde sempre um objetivo da sociedade civil sintrense, com destaque neste momento de júbilo para o papel desempenhado pela Alagamares e outras personalidades, com destaque para o ativista e autor do blogue Rio das Maçãs, Pedro Macieira.
O referido despacho classifica como arvoredo de interesse público um conjunto arbóreo e três exemplares isolados da espécie Platanus hybrida Brot., sitos na Várzea de Colares. Na sua justificação, o ICNF salienta que “nenhum apresenta sinais de pouca resistência estrutural e mau estado vegetativo e sanitário que não sejam tecnicamente resolúveis, nem se encontram sujeitos a cumprimento de medidas fitossanitárias que recomendam a sua eliminação ou destruição obrigatória”
Ficam assim protegidas as 30 árvores que fazem parte do conjunto arbóreo constituem um alinhamento que se destaca pela simetria perfeita e pelo formato dos fustes “em forma de taça” que dão origem a copas de grande altura, as quais, depreende-se que terão sido plantadas na transição do século XIX para o século xx, podendo estimar-se uma idade de 120 anos, sendo das mais antigas da respetiva espécie existente em Portugal, parte da “memória e do imaginário coletivo nacional” e reconhecendo-lhes “importância determinante na valorização estética do espaço envolvente e dos seus elementos arquitetónicos”.
Também três exemplares isolados situados diante do Restaurante D’A Várzea foram classificados.
A partir de agora, estas 33 árvores, 30 como alameda e 3 como exemplares isolados, ficam dotadas de uma zona de proteção com um raio de 20 metros a contar da base do tronco de cada uma das árvores, ficando proibidas quaisquer intervenções que possam destruir ou danificar estes exemplares arbóreos, designadamente o corte do tronco, ramos ou raízes; a remoção de terras ou outro tipo de escavações, na zona geral de proteção; o depósito de materiais, seja qual for a sua natureza e a queima de detritos ou outros produtos combustíveis, bem como a utilização de produtos fitotóxicos, na zona geral de proteção, ou qualquer operação que possa causar dano, mutile, deteriore ou prejudique o seu estado vegetativo. Igualmente ficam dependentes de autorização do ICNF todas as operações de beneficiação, nomeadamente desramações, podas de formação ou sanitárias ou qualquer outro tipo de benfeitorias, bem como intervenções nas suas zonas gerais de proteção.

Garantir um contínuo verde através das cidades deverá ser um mandamento do planeamento, enfatizou um dia num colóquio da Alagamares o arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles, com isso se lutando "contra o caos e a distribuição especulativa do território. ”
Muitos associam os plátanos à ocorrência de alergias, mas tal não passa de um mito urbano. Os verdadeiros causadores são os choupos. Basta um pequeno passeio num fim-de-semana ensolarado para averiguarmos que os plátanos não têm em seu redor a substância, muito semelhante a algodão, de que muitas pessoas se queixam.O que acontece é que de Março a Maio, e por vezes ainda em princípio de Junho, em alguns anos, grande parte das árvores e gramíneas têm altos índices de actividade polínica.
Citando a European Polen Information “Algumas pessoas acreditam, de forma errónea, que os plátanos e os choupos originam os sintomas da febre dos fenos. Mas isso sucede porque as sementes dos choupos e o primeiro (e invisível) pólen das gramíneas a ser libertado em cada ano, costumam coincidir no tempo…". Efetivamente, os grandes responsáveis por grande parte das alergias são as gramíneas, e não os choupos, ou os plátanos.
As árvores são parte da História e  o direito à paisagem, no respeito pelo espirito do Lugar é e deve ser igualmente, um Direito e um Dever, como registo vivo para as gerações vindouras.
As podas ornamentais são necessárias, mas são igualmente um ponto sensível, e o dever de intervir para proteger não deve ser o momento para a afirmação dos pequenos interesses que não passam da porta de cada um (a "alergia" provocada, a raiz que estraga a casa, o roubo de lugares de estacionamento), muitas vezes contando com a complacência das autoridades.  Ao invés, mais árvores são necessárias, e uma melhor organização e explicação da poda das existentes, quando necessária.
Continuar a realizar podas sem sentido (ou com ele, talvez...) é condenar os exemplares existentes, que rapidamente se degradam e dificilmente perdurarão dentro do espaço urbano.
Esta classificação, que a todos deve merecer regozijo, não é o fim dum processo, é uma etapa apenas, a que se deve seguir a tomada de medidas para sua real proteção, e identificação das mesmas no local, salvas que estão dum arborícidio precipitado e sem retorno. É uma notícia feliz para Sintra, e para todos os que por simples exercício de cidadania nesta e noutras lutas se empenham, pelaa comunidade, e afinal, por todos nós. Se tudo correr bem, algumas árvores em Colares poderão até morrer um dia, mas, ao menos, vão morrer de pé.



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