Nos últimos
anos Sintra tem vindo a ser objecto do interesse de seguidores de doutrinas
mais ou menos new age em torno não do
“espirito do lugar” mas, quiçá, dos espíritos do lugar, tendo como inspiração
princípios teosóficos e escritos sincréticos. E aí, numa parafernália
folclórica mais ou menos de base “científica” se encaixam coisas como o tarô, a
meditação, os mapas astrais, cristais, numerologia, gnose, teosofia,
acupunctura, homeopatia, sincretismo, busca interior, magia, e outras mais
comerciais. Tudo apelando a um tipo de imaginário que permite aumentar as
receitas de certos “promotores” turísticos, vendendo uma Sintra de “fadas”,
“duendes”, quiçá do Graal, de reinos perfurados na serra ou templários zurzindo
contra a moirama, já sem falar dos fantasmas, casas assombradas e pragas
propiciadores dum perturbante Hallowwen. A isto os mais crédulos rematam com a
ideia de sincronicidade, de que não há coincidências, e tudo tem um significado
espiritual, a mente tem poderes e capacidades escondidos que têm significado e
as experiências psíquicas são modos de as almas se expressarem. A certas
localidades são atribuídas propriedades especiais de energia, (os vortex ou
portais) e esses locais são considerados sagrados e têm propriedades especiais.
Esta outra Sintra
que uma serra frondosa e noites de luar cintilante ajudam a (re)criar é hoje
alvo de múltiplas abordagens, desde os “poços iniciáticos” da Regaleira aos
“djins” do castelo dos Mouros, da natureza rosacruz do Chalé da Condessa às
influências maçónicas da Pena, dos templos do Sol na Vigia aos cultos
ancestrais de povos antigos. E aqui é onde ciência e superstição se entrelaçam,
em prol das agências de viagens e dos vendedores de souvenirs ou passeios
temáticos. E há para todos os gostos. Sintra é um microcosmos onde os deuses se
reúnem em festim à sombra da lua argêntea e os homens tremem, temendo o tritão
da Roca. Estranhem ou entranhem, sorrindo ou palpitando, visitem, sobretudo. Sintra
não é um lugar, é uma experiência.
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