Hoje, 9 de maio, assinala-se o Dia da Europa. Uma Europa errática,
como uma barata tonta, acossada pelo Brexit, o populismo eurocético e as
pressões duma América ambivalente e duma China expansionista.
Sonhada por entre as ruínas fumegantes da II Grande
Guerra, a Europa cresceu, e ao crescer, mudou, na medida em que mais países
entraram na União Europeia e o projeto dos Estados Unidos da Europa paradoxalmente
se distanciou cada vez mais. O que parecia possível na Europa dos Seis,
tornou-se pirrónico com os alargamentos para Sul, Norte e Leste.
A crise do euro posterior a 2008 tornou visíveis as
contradições da Europa. Querendo-se ou não, a Alemanha é, com os seus recursos
e capacidades, o único país que pode manter a coesão da Europa heterogénea e
ameaçada por forças centrífugas. Na Europa, tem a possibilidade de manter a
coesão na União Europeia, e no mundo, tem de cuidar para que a economia
europeia não seja marginalizada através da ascensão da Ásia. Mas não seria
isto, na verdade, uma tarefa das instituições europeias? Não foram tais
instituições, principalmente o Parlamento, fortalecidas nos últimos anos, para
assumir essas tarefas, nomeadamente depois do Tratado de Lisboa? O que resultou
foi exatamente o contrário. Valorizado anteriormente, o Parlamento Europeu não
desempenhou praticamente nenhum papel no apogeu da crise do euro, ficando as decisões
a cargo das reuniões intergovernamentais, e a "cabeça" da UE dividida
entre a Comissão e o Conselho Europeu. Uma coisa parece ser certa: estão a ser
as crises que indicam se as instituições são robustas ou não. E nas crises atuais,
de que ressaltaram a saída da Grã-Bretanha, os populismos com ou sem colete, a
pandemia, a guerra a leste e a crise dos
refugiados, as instituições europeias mostram-se titubeantes e sobretudo
reativas mais que liderantes, e dissonantes. Talvez porque elas foram criadas a
pensar no “funcionamento normal” da Europa enquanto não surgissem grandes
problemas e as questões pudessem ser resolvidas em consenso.
Estamos perante uma Europa em cadeira de rodas e comatosa,
um bordel espanhol e uma quinta com muitas raposas dentro do galinheiro, onde
cada país procura apenas um cheque para ir ao banco e conspira minutos depois de
celebrar consensos virtuais nos Conselhos Europeus.
O Hino à Alegria soa riscado, e a querer puxar para o
Anel dos Nibelungos, é a tensão entre Beethoven e Wagner, esvoaçando em Bruxelas
atarantadas valquírias.
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