sexta-feira, 31 de julho de 2015

O "Arreda" e Nevada Stoody, socialites de outros tempos



Passam hoje, dia 31, 150 anos sobre o nascimento do príncipe Afonso de Bragança, 3º Duque do Porto, 24º Condestável de Portugal e 51º e último vice-rei da Índia.
Segundo filho do rei D. Luís I e da rainha Maria Pia de Sabóia, e irmão mais novo do rei D. Carlos, desempenhou as funções de condestável do reino, tendo sido nomeado vice-rei da Índia em 1895, por ocasião de uma expedição a essas colónias. Representou algumas vezes o irmão em cortes estrangeiras. Foi general de divisão do exército português e inspector-geral da arma de artilharia, e comandante honorário dos Bombeiros Voluntários da Ajuda.
Jurado pelas Cortes herdeiro presuntivo da coroa portuguesa, durante o curto reinado de D. Manuel II, seu sobrinho, após a implantação da República em 1910, Afonso exilou-se com a mãe, a rainha Maria Pia, em Itália, onde residiu, em Nápoles.
D. Afonso ficou conhecido como «O Arreda». Amante de carros e de velocidade, corria pelas ruas da cidade no seu automóvel aos gritos «Arreda, Arreda!» para que as pessoas saíssem da frente, o que lhe valeu o cognome. Foi responsável pela organização das primeiras corridas de carros em Portugal. Em vias desenhadas para carros de bois e cavalos, sobressaia o automóvel do Infante que, como devem calcular, não teria muita facilidade de passagem para a velocidade,  que podia chegar na altura aos 40 km/hora. Assim, para facilitar a mobilidade, D. Afonso utilizava a sua voz como sinal de passagem, gritando constantemente "arreda!", para desimpedir a via.


A sua vida pitoresca terminou em 1908 com o regicídio. O infante era uma das personalidades que esperava a família real no cais do Terreiro do Paço no dia 1 de Fevereiro, ao lado do sobrinho D. Manuel (que mal sabia que estava a escassos minutos de se tornar rei), acompanhando a comitiva no seu automóvel na viagem que terminou tragicamente na esquina da Rua do Arsenal. Nessa viagem D. Carlos e D. Luís Filipe foram barbaramente assassinados e não fosse a fortuna (ou má pontaria) de o tiro que acertou em D. Manuel apenas o ter atingido num braço, e o "Arreda" teria deixado nesse dia de ser o bem-disposto infante para ser aclamado como D. Afonso VII. Nesse dia D. Afonso mostrou a sua fibra, tendo sido dos primeiros a apear-se do seu automóvel para acudir à família real que se fazia transportar num landau aberto. Quem sabe se pela sua experiência como bombeiro, mostrou ser um homem de grande coragem e sangue frio.
Jurado herdeiro presuntivo do trono, foi forçado a partir na Ericeira para o exílio no dia 5 de Outubro de 1910. Acompanhou a mãe, D. Maria Pia (que morreria poucos meses depois), e fixou residência em Itália. Teria continuado a ter uma vida pacata não fosse ter casado com uma americana de nome Nevada Stoody, conhecida como caçadora de fortunas e que pretendia certamente tirar algum benefício desse matrimónio. D. Manuel II não deu o seu aval ao casamento (terão mesmo cortado relações) e o infante acabou por casar morganaticamente em Madrid, em 1917. Ficou conhecido o embaraço do embaixador português na capital espanhola quanto à forma de tratamento de um membro da família real no exílio. Optou por tratá-lo por "Sua Alteza" sem mencionar o "Real".
Morreu em 1920 e foi o primeiro Bragança a regressar do exílio para o panteão de São Vicente de Fora. A americana, que numa foto conhecida parecia mais interessada na pose do que em carpir a mágoa pelo desaparecimento do marido, reivindicou metade do recheio do palácio da Ajuda, mas a sua herança foi bastante mais modesta.     


Nevada Stoody era a segunda filha de Jacob Walter Stoody e Nancy Miranda McNeel, e tinha quatro irmãs Cora, Clara, Josephine e Florence, e um irmão, Charles. Os seus três primeiros maridos foram: Lee Agnew, o milionário William Henry Chapman e Filipe van Volkenburg (1853- 1950). O quarto e último marido foi o 3.° Duque do Porto, D. Afonso de Bragança, com quem se casou morganaticamente a 26 de Setembro de 1917, em Roma, e a 23 de Novembro daquele mesmo ano, em Madrid, passando a usar o título de Duquesa do Porto.
Por testamento, Nevada foi herdeira universal do marido. Esteve em Portugal durante o litigioso processo de entrega dos bens e por ocasião da transladação do corpo do infante para o panteão dos Braganças, em São Vicente de Fora, e faleceu no St. Joseph's Hospital, em Tampa, Florida, aos cinquenta e cinco anos. Somente após sua morte, a Fundação da Casa de Bragança pôde recuperar o quadro "Batalha do Cabo de São Vicente", hoje no Museu da Marinha. A obra estava incluída na sua herança. 

Dois socialites em tempo de grandes mudanças.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Sintra, o Turismo e o Portugal 2020


 


O sector do turismo tem muito partido a tirar dos 21 mil milhões de euros do novo quadro comunitário de apoio, desde que aposte na competitividade, internacionalização e promoção, sendo que mais de 40% dos fundos comunitários são destinados à competitividade e à internacionalização, duas vertentes em que o turismo está e deverá estar bastante presente.
Não basta olhar para os fundos apenas na vertente da construção de equipamentos hoteleiros, mas sim numa lógica de promoção das empresas e dos destinos, com produtos novos, e uma maior rentabilização das vantagens competitivas de cada região. Há pois que alinhar estratégias e financiamento, instrumentos de política pública para o desenvolvimento do turismo e os Programas Operacionais do Acordo de Parceria 2014-2020, contribuindo para uma maior selectividade e articulação de investimentos, tendo em vista uma maior eficácia na aplicação dos fundos comunitários no desenvolvimento do turismo, num quadro que potencie redes e plataformas tendentes à valorização económica do turismo.
Sintra é um dos concelhos onde a actividade turística é central como actividade económica geradora de emprego, beneficiando da sua classificação como Paisagem Cultural da Humanidade, e de um conjunto de factores virtuosos onde se associam paisagem, História, gastronomia, praias e proximidade aos grandes centros urbanos e a um aeroporto internacional.
Em 2014 aqui se realizou o 49º Festival de Música de Sintra, eventos como a Feira Quinhentista, os Arabian Days e a Feira Setecentista, as Jornadas Europeias do Património, o XVI Congresso Ibero-Americano de Urbanismo, o Festival de Estátuas Vivas de Sintra ou o European Le Mans Series, 4 horas do Estoril. Entre as acções de promoção realizadas destaque para a habitual participação na BTL e a promoção do programa Active Sintra, dedicado ao turismo de aventura, a Promoção city & short breaks, e distinções para unidades hoteleiras de Sintra no âmbito da TripAdvisor Travellers Choice Awards 2014, a distinção de quatro monumentos de Sintra na categoria de “10 Principais Atracções em Portugal”, a distinção do destino Sintra no top das “10 Breathtaking Town in Europe you’ve probably never heard of”, a distinção do Festival de Sintra nos “10 Best Advice for Travelers”, um site associado ao jornal diário USA Today, e prémios para dois vinhos de Colares: o Casal Sta. Maria Sauvignon Blanc 2012, com a medalha internacional de prata no ”Concours mondial du Sauvignon 2014” e o Casal Sta. Maria Arinto 2013, com a medalha de prata no “Concurso de vinhos de Portugal 2014”. Quatro praias do concelho de Sintra foram distinguidas pela Quercus devido à excelência da qualidade das águas, e a European Best Destinations distinguiu Sintra com o 1º lugar na categoria “Castelos Mais Bonitos da Europa” e 4º lugar na categoria “Melhores Tesouros Escondidos da Europa“. Sem ser já novidade, Monserrate foi distinguido como melhor jardim histórico do mundo e a Parques de Sintra como melhor empresa de conservação de jardins históricos.
Em 2014 dispúnhamos de 1691 camas de alojamento tradicional, 78 no espaço rural e de habitação, 723 no campo da hospedagem, 502 em alojamentos locais e 166 em apartamentos, registando os nossos postos de Turismo até ao terceiro trimestre de 2014 221.857 visitantes. O Palácio da Pena, superando largamente o milhão de visitantes, foi o segundo monumento mais visitado do país.
Manter em qualidade e crescer em quantidade deve ser uma opção estratégica, sendo que os mercados europeus, o brasileiro e os asiáticos são referenciais. A nossa costa é excelente para a prática de desportos radicais, tendo o bodyboard já criado raízes e hábitos no mapa de eventos, captando um nicho de visitantes importante e animação nas nossas praias e zonas balneares, tudo se procurando fazer para trazer outros eventos, e que se possam distribuir ao longo do ano, dinamizando as zonas balneares na chamada “época baixa”, e com benefícios para o comércio local e os alojamentos hoteleiros. Também o segmento do golfe tem grandes potencialidades de expansão, cabendo aqui um papel fundamental aos operadores turísticos e às associações do sector. Destaque para a qualidade de campos como os da Penha Longa, Belas Clube de Campo ou da Beloura, com provas dadas e número de eventos ao longo do ano.
Sintra é uma região bastante heterogénea como destino turístico, seja no plano cultural, balnear ou artístico, estando a surgir novas centralidades em espaços menos usados, como a Quinta da Ribafria, o antigo Museu do Brinquedo, futuro Museu das Notícias, a abrir em Março do ano que vem, o Centro Interactivo Mitos e Lendas, que abrirá no dia 31 de Julho no antigo Turismo, e o Centro Cultural Kobayashi, a abrir em 2016.
Também no sector vinícola há potencialidades a explorar. Colares é região demarcada desde 1908 e as características únicas dos seus vinhos devem-se à combinação de castas, solo e clima temperado e húmido no Verão, mas principalmente ao facto da vinha ser plantada em "chão de areia". O vinho de Colares não é produzido numa área muito extensa, pelo que a sua produção é limitada, mas tem vindo a obter bons resultados no mercado exportador, assim procurando nós que se mantenha, bem como a denominação de origem e o prestígio que lhe está associado.
 
A gestão da orla costeira é uma área onde a Câmara se tem de articular com diversas entidades da Administração Central. A conjugação mágica de uma serra inebriante com um litoral de praias atlânticas e límpidas, a sensação inesperada de tanto se poder sentir na Baviera ou na floresta tropical, associado a um intenso festival dos sentidos para percorrer demoradamente, fazem de Sintra, como escreveu Vergílio Ferreira, “ o único lugar do país onde a História se fez Jardim.”
No contexto das visitas tendo por destino Lisboa- e agora alargadas com o aumento dos barcos de cruzeiro e a instalação de companhias aéreas low cost no aeroporto de Lisboa-, Sintra tem visto aumentar o número de visitantes, o que, sendo uma boa notícia, deve ser aprofundado no sentido de convencer os operadores e visitantes de que tal período não é minimamente suficiente para apreender e usufruir de tudo o que Sintra tem para oferecer. O aumento do número de visitantes, num ano que assinala os 20 anos da elevação de Sintra a Património da Humanidade na categoria de Paisagem Cultural e a permanência de visitantes por períodos superiores a um dia, bem como a complementaridade de oferta, não só ao nível patrimonial, mas da frequência de espectáculos e eventos, são realidades que merecem acompanhamento e investimentos sólidos e sustentáveis, bem elaborados, com branding e planos de negócios assentes em estudos aturados. Para tanto, não se pode desperdiçar a oportunidade que o Portugal 2020 oferece nos seus diversos programas, devendo pois todos os operadores do sector apresentarem projectos e apostarem na criação de Futuro, assim virando a página do crescimento anémico dos últimos anos, mas que na área turística felizmente se não fez sentir tão gravosamente. Não há galinhas de ovos de ouro, mas há que aproveitar os ovos para fazer as melhores omeletas.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Sugestões Culturais- 24 a 31 de Julho


24 A 26 DE JULHO

EXPOSIÇÕES CANINAS DE SINTRA



34.ª EXPOSIÇÃO CANINA NACIONAL DE SINTRA e  32.ª EXPOSIÇÃO CANINA INTERNACIONAL DE SINTRA. As exposições vão ter lugar no largo S. João das Lampas.Como nos anos anteriores, as exposições receberão canicultores espanhóis, franceses, belgas, italianos e de outros países da Europa, estando igualmente presente um significativo número de portugueses.

O grupo de jurados deste ano engloba juízes portugueses, bem como outros oriundos da Rússia, Reino Unido, Noruega, Suécia, Finlândia e Geórgia.
Simultaneamente serão realizadas exposições monográficas de Terriers/ Bouledogue Francês, e mostras especializadas de outras raças, bem como os concursos de «jovens apresentadores».

Das 10.00h às18.30 h. Entrada livre.
25 DE JULHO- 18H 30M. DANÇAS COM HISTÓRIA NA QUINTA DA RIBAFRIA




                      
A Quinta da Ribafria situa-se na Estrada da Várzea, em Sintra, e está aberta das 10h00 às19h00 até Setembro.
29 DE JULHO A 1 DE AGOSTO
DESPEDIDA DE NOSSA SENHORA DO CABO ESPICHEL
PARQUE DA LIBERDADE, SINTRA
"ALMOÍNHAS", PELO TAPAFUROS
SEXTAS E SÁBADOS- 21H30M, DOMINGOS 18H


SUGESTÃO DE LEITURA
"SUMA UMA" O MAIS RECENTE LIVRO DE JORGE TELLES DE MENEZES

Nova obra de Jorge Telles de Menezes (em pé, à direita, durante a recente apresentação da obra em Sintra) autor de "Selenographia em Cynthia" e "Novelos de Sintra", dinamizador da tertúlia literária Meninos da Avó e do web jornal cultural Selene- Culturas de Sintra. Uma viagem pelos sentidos com Sintra como silhueta onírica.

sábado, 18 de julho de 2015

Nos 600 anos da morte de Filipa de Lencastre





A 19 de Julho de 1415, passam amanhã 600 anos, falecia em Odivelas D. Filipa de Lencastre, filha de João de Gant, e rainha de Portugal através do casamento com D. João I, celebrado em 1387 no Porto e acordado no âmbito da aliança luso-inglesa, e na sequência do qual passou a receber as rendas da alfândega de Lisboa e das vilas de Alenquer, Sintra, Óbidos, Alvaiázere, Torres Novas e Torres Vedras.

João de Gant viu no Portugal  de D. João I um importante aliado para os seus interesses castelhanos, e acreditava que, ao casar com Constança, herdeira do rei Pedro I de Castela, em 1372, tomaria posse do trono. Contudo, o lugar estava ocupado até 1379 por Henrique II, meio-irmão de Pedro I, e, posteriormente pelo seu filho, João I de Castela. A aliança também era favorável a D. João I, pois garantia apoio à independência portuguesa face a Castela, concretizada após a celebração do Tratado de Windsor, em 1386, e que vigora até hoje. 
O casamento entre Filipa e D. João I em Fevereiro de 1387 selou a mais velha aliança do mundo.Escoltada por nobres ingleses e portugueses, Filipa foi conduzida ao Porto, onde, de acordo com a Crónica de El-Rei D. João I, foi recebida com grandes festejos. Alguns dias depois, D. João chegou à cidade e os dois puderam conversar e trocar presentes. Após o casamento, a festa continuou por mais quinze dias.

D. Filipa por várias vezes assumiu o exercício do governo representando o marido, uma vez que ele estava frequentemente ocupado em operações militares, e correspondeu ao papel esperado duma rainha medieval, ao assegurar a continuidade da linhagem, incitando a valorização da cultura nos seus filhos.

Do seu casamento, nasceram Branca de Portugal (1388-1389), que morreu jovem, antes de completar um ano de idade; Duarte I de Portugal (1391-1438), sucessor do pai no trono português; Pedro, 1.º Duque de Coimbra (1392-1449), um dos príncipes mais esclarecidos do seu tempo, regente durante a menoridade do seu sobrinho, o futuro rei D. Afonso V, morto na batalha de Alfarrobeira; Henrique, O Navegador (1394-1460);Isabel (1397-1471), que casou com Filipe III, Duque da Borgonha; João, (1400-1442), condestável de Portugal e avô de Isabel de Castela;  e Fernando, o Infante Santo (1402-1443), que morreu no cativeiro em Fez.

No início de 1415 a peste bubónica invadia Lisboa e Porto. Os reis refugiaram-se em Sacavém, mas os longos e frequentes jejuns, orações e vigílias da rainha enfraqueceram e debilitaram o seu corpo, e a peste acabou por chegar a Sacavém. O rei abrigou-se em Odivelas, mas a rainha preferiu ir depois. Quando chegou, em Julho desse ano, já estava doente. De acordo com Gomes Eanes de Zurara, D. Filipa sentiu a morte aproximar-se, e preparou-se para a viagem eterna: confessou-se, comungou, e recebeu a extrema-unção, acabando por falecer no dia 19 de Julho. Inicialmente sepultada em Odivelas, no ano seguinte, os seus restos mortais seguiram para o Mosteiro de Santa Maria da Vitória.

Em Sintra, e já doente, ainda assistiu aos preparativos da tomada de Ceuta, quando Álvaro Gonçalves Camelo através duma maqueta de favas e areia explicou a D. João I como poderia aquela praça africana ser tomada. Contudo, já não viu a partida do exército de mais de 20 000 cavaleiros e soldados portugueses, ingleses, galegos e biscainhos, que largaram de Lisboa, a 25 de Julho de 1415, em 59 galés, 33 naus, e 120 embarcações pequenas, levando uma esperançosa geração que incluiu os infantes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique, além do condestável D. Nuno Álvares Pereira. Morria Filipa quando Portugal partia para fazer do Mar Oceano durante séculos um imenso lago português.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Alemanha europeia ou Europa alemã?- A Europa em cadeira de rodas




Em 1953, em Hamburgo, Thomas Mann defendeu que devemos ambicionar ter uma Alemanha europeia e não uma Europa alemã. Vinte e cinco depois da unificação, sobre o papel da Alemanha na Europa e no mundo, ninguém se preocupou, com os alemães ocupados nessa altura consigo próprios e com a integração económica dos novos Estados federados do Leste, tanto que no final dos anos noventa a Alemanha era tida como um caso problemático na Europa, do qual se haveria de cuidar da questão do endividamento estatal, com níveis de desenvolvimento abissais entre o Leste e o Oeste, e canalizando muitos fundos (grande parte deles comunitários) para nivelar as economias. Era impensável então que a Alemanha um dia pudesse apresentar-se como modelo nas questões de política fiscal e do saneamento orçamental. E com a introdução do euro, pareceu que a Alemanha tinha aberto mão do seu mais importante instrumento de poder frente às outras economias europeias, o marco alemão.

O problema é que a Europa mudou e, na medida em que mais países entraram na União Europeia, o projecto dos Estados Unidos da Europa distanciou-se cada vez mais. O que parecia possível na Europa dos Seis, tornou-se impossível com as ampliações para Sul, Norte e Leste.

A crise do euro posterior a 2008 tornou visíveis as contradições da Europa. Querendo-se ou não, a Alemanha é, com os seus recursos e capacidades, o único país que pode manter a coesão da Europa heterogénea e ameaçada por forças centrífugas. Na Europa, tem a possibilidade de manter a coesão na União Europeia, e no mundo, tem de cuidar para que a economia europeia não seja marginalizada através da ascensão da Ásia. Mas não seria isto, na verdade, uma tarefa das instituições europeias? Não foram tais instituições, principalmente o Parlamento, fortalecidas nos últimos anos, para assumir essas tarefas, nomeadamente depois do Tratado de Lisboa? O que resultou foi exactamente o contrário. Valorizado anteriormente, o Parlamento Europeu não desempenhou praticamente nenhum papel no apogeu da crise do euro, ficando as decisões a cargo das reuniões intergovernamentais, e a "cabeça" da UE dividida entre a Comissão e o Conselho Europeu. Algo semelhante ocorre também na questão de saber se a Grã-Bretanha permanecerá como membro da UE ou se deixará a comunidade, o que provavelmente será negociado quando chegar a hora directamente entre Berlim e Londres. Tudo isto, bem como a ameaça recente do Grexit contraria profundamente o projecto europeu. Uma coisa parece ser certa: estão a ser as crises que indicam se as instituições são robustas ou não. E nas crises actuais, de que ressaltam os problemas financeiros da Grécia e a tendência de saída da Grã-Bretanha ou a crise dos refugiados sírios e magrebinos, as instituições europeias mostram-se incapazes e dissonantes. Talvez porque elas foram criadas a pensar no “funcionamento normal”da Europa enquanto não surgissem grandes problemas e as questões pudessem ser resolvidas em consenso. Como não tem vindo a ser esse o caso, e o eixo franco- alemão está debilitado por um François Hollande errático, o poder deslocou-se e os governos nacionais voltaram a desempenhar o papel principal, com destaque para a Alemanha.

A Alemanha contribui sozinha com mais de um quarto do poderio económico na zona euro, e são seus os riscos maiores nos programas de ajuda aos países endividados do Sul da Europa. Com isto, coube-lhe a posição decisiva na fixação das condições para a ajuda, achando que pelo facto de a austeridade ter funcionado na Alemanha nos anos noventa, tal pode ser copiado a papel químico para países com outros estádios de desenvolvimento e outras políticas e práticas fiscais, orçamentais ou bancárias. Essa falta de tolerância e compressão está pois a levar cada vez mais a uma Europa alemã longe da Alemanha europeia de Adenauer, Willy Brandt ou Helmut Kohl. É uma Europa em cadeira de rodas, e cada vez mais comatosa.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Três apresentações literárias em Sintra no mês de Julho

Livros de Jorge Menezes, Fernando Morais Gomes e Raquel Ochoa 

11 de Julho, Jardim do Café (ao pé da Segurança Social) 18h

12 de Julho, Casa do Fauno, perto da Regaleira, 17h


23 de Julho, Café Garagem, ao Soldado Desconhecido, 18h30m