A Líbia vive dias de mudança, será contudo tal mudança no sentido “europeu” e “ocidental” com que costumamos catalogar os regimes à nossa imagem o que verdadeiramente serve os interesses da Líbia?
A Líbia, como o resto da África, foi moldada pelo modelo colonial, neste caso, italiano, e uma vez liberta de Kadafi- aquele a quem muitos abriram as portas para montar as suas tendas com cabras em busca de proveitosos negócios- arrisca a ser um país dividido entre tribos e facções rivais- o que se calhar, até convêm ao dito Ocidente. Até ver, nenhum dos países onde ocorreram as chamadas primaveras árabes ainda deu sinais de vir a ser uma democracia- falta de tradição, de elites, de classe média ou até as idiossincrasias dos povos, nem sempre crentes nas virtudes das democracias representativas da Europa. Kadafi não é porém pior ou diferente do que o tirânico e opressivo rei da Arábia Saudita, um dos países mais intolerantes do mundo (amigo dos americanos, porém…) ou dos emires do Dubai, Bahrein, Oman, ou até do agora “maquilhado” rei de Marrocos. Não há valores, senão nunca se teria admitido o “amigo” Kadafi depois dos atentados de Lockerbie nas capitais da Europa, apenas interesses, e na guerra da Líbia “cheira “ muito a petróleo. Depois de Kadafi, lá voltará o business as usual, os contratos para a reconstrução com grandes empresas americanas e francesas, talvez um novo Iraque, leiloado e dividido. Afastar os ditadores, é nobre e necessário, mas afastar-se-ão as ditaduras? A força do Ocidente é também a sua maior fraqueza.
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