Foi no bar Saloon, em Sintra, que em 2016 um grupo de amigos começou a juntar-se para ver jogar o Sporting, e aí, semana após semana, as devoções tornaram-se amizades e um impulso fundador apossou-se dum punhado de sportinguistas, que não mais parou, e se lançou mãos à obra, para dar à luz do dia a nova casa do Leão.
quinta-feira, 28 de novembro de 2024
E o Sporting vai jogar...
José Alvalade teve o desejo de transformar o Sporting num "grande clube, tão grande como os maiores da Europa". No desejo de abrir caminho numa altura em que o desporto em Portugal, era ainda uma atividade pioneira num estágio de desenvolvimento de características elitistas, os primeiros sportinguistas conseguiram fundar há 110 anos aquele que se tornou no Sporting Clube de Portugal, hoje com mais de 3 milhões de adeptos, 136.000 sócios e um museu com mais de 5000 taças. Internacionalmente, o Sporting venceu a Taça dos Vencedores de Taças 1963-64 e foi vice-campeão da Taça UEFA 2004-05 e campeão da Taça Ibérica em 2000.E não se ficará por aqui.
O lema do Sporting é Esforço, Dedicação, Devoção e Glória.
Esforço bem patente na singeleza e abnegação dos voluntários que desde há oito anos celebram o Sporting nos bons e nos maus momentos, e hoje, encetando esforços, estão a abrir o seu terceiro espaço em Sintra, depois de uma atribulada vida de saltimbanco a que contingências várias, entre elas a pandemia, obrigaram.
Dedicação expressa em horas de trabalho, sofrimento e entrega por parte de uns “doidos da cabeça” que "não quiseram ficar em casa”, e assim deram horas da sua vida para honrar as cores e o legado de Travassos, Joaquim Agostinho, Damas, Yazalde, Moniz Pereira, Figo ou Carlos Lopes, ícones do Sporting e de Portugal.
Devoção nos cânticos, na fé, na crença e na paixão inexplicável que um estranho sentimento de pertença a todos convoca, despertando amizades improváveis e solidariedades sem contrapartida num imenso altar de verde e branco.
Glória por um passado honroso, um presente com planeamento e um futuro promissor, com condições financeiras, de infraestruras e talentos que garantem um Sporting moderno, pujante, vencedor e sempre na luta, hoje animado por um ciclo virtuoso de vitórias e desafios ultrapassados.
Curiosamente, também o Sporting Clube de Portugal tem origens em Sintra, mais propriamente em Belas, e no Belas Football Clube, criado em 1902 por iniciativa dos irmãos Francisco e José Maria Gavazzo. Dois anos depois, tendo o Belas Football Clube realizado um único jogo de futebol contra o Sport Lisboa, alguns dos seus sócios fundadores criaram o Campo Grande Football Clube, até que, em 13 de Abril de 1906, durante uma Assembleia Geral, José Alvalade manifestou a intenção de formar um novo clube recorrendo à ajuda financeira de seu avô, o Visconde de Alvalade, Alfredo Augusto das Neves Holtreman, que tutelou a criação do novo emblema e disponibilizou terrenos para o campo de jogos na sua própria quinta, e mais tarde no seu primeiro campo, no Sítio das Mouras, em 1907.
Com a abertura este mês do novo Núcleo de Sintra, um dinâmico grupo de adeptos e uma nova Direção liderada pelo Tiago Marques dispôs-se a levar mais longe e mais alto o espírito e garra do nosso clube, para em conjunto gritar as vitórias, dar ânimo nas derrotas, do sofrimento fazendo força e da unidade fazendo um trunfo, uma arma e um desígnio. A Fénix renasce.
Viva o Sporting Clube de Portugal!
domingo, 24 de novembro de 2024
25 de novembro- Quando o PREC deixou de estar em curso
O 25 de Novembro foi mais um evento na disruptiva história do PREC que a 25 de Abril de 1974 devolveu a liberdade ao povo português, desencadeando uma série de fenómenos enquadrados por falta de vivência democrática durante 48 anos e por Portugal, num quadro de Guerra Fria, se ter tornado palco para experimentalismos ideológicos, mais ou menos utópicos, que hoje, pousada a poeira, se viu terem sido explosivos, e poderiam ter feito resvalar o processo democrático ainda em fase de consolidação.
Eu, que vivi o período, percecionei que a triunfarem os intuitos das partes político-militares em confronto, tanto poderíamos ter-nos tornado num regime populista de esquerda, caudilhista e terceiro-mundista, como um regime onde a esquerda teria sido eliminada, com retorno ao 24 de Abril. Prevaleceu o bom senso de Melo Antunes, de Costa Gomes, de Mário Soares, e também, não é de mais realçá-lo, de Ramalho Eanes, Otelo e Álvaro Cunhal, que, sabendo ler a conjuntura, puseram freio aos militares mais impulsivos, evitando o triunfo uma extrema direita vingativa.
Recordo momentos significativos em que participei: a manifestação a Pinheiro de Azevedo no Terreiro do Paço ("é só fumaça!"), passear em Lisboa à noite em pleno recolher obrigatório embrenhado no turbilhão de manifestações e contramanifestações que faziam o dia a dia de um jovem estudante do 7º ano do liceu (hoje 11º) utopica mas apaixonadamente tentando salvar o mundo, perdido na última Revolução romântica do século XX.
Sem o bom senso de todos, o regime iniciado em 25 de Abril poderia ter soçobrado ali, espicaçado que foi pela maioria silenciosa spinolista em 28 de Setembro de 1974 e pelos raids aéreos contra o RALIS em 11 de Março de 1975. Contudo, em paz e pluralismo conseguimos chegar a 2 de Abril de 1976 e à promulgação duma Constituição democrática, a eleições legislativas e presidenciais livres e à normalização democrática. Dores de crescimento.
O 25 de Novembro foi o anticlimax duma catarse de dezoito meses de explosão descontrolada, mas que não resultou,, felizmente,, no resultado que alguns militares pretendiam, e que passava por eliminação dos partidos de esquerda e imposição duma visão segmentada do país e do regime.
O 25 de Novembro foi o anticlimax duma catarse de dezoito meses de explosão descontrolada, mas que não resultou,, felizmente,, no resultado que alguns militares pretendiam, e que passava por eliminação dos partidos de esquerda e imposição duma visão segmentada do país e do regime.
Mais que uma fação, triunfou a razão e o bom senso, e acima de tudo a democracia, que não sendo um sistema perfeito, é pelo menos o menos mau de todos.
Quem hoje escava num passado que não viveu, erguendo supostas bandeiras e ajustes de contas, não deve ignorar que a História é o que é, por muitas voltas que se pretenda dar para a maquilhar ou deturpar.E como se diz a propósito do futebol, na história do 25 de novembro, interessa mais como acabou do que como começou.
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