Até onde estarão os países dispostos
a ir para respeitarem o compromisso que assumiram em Paris de limitar a subida
da temperatura abaixo dos 2 graus Celsius relativos à era pré-industrial e a
continuar os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus
Celsius?
Quando relatórios das Nações Unidas
voltam a lembrar a urgência em agir rapidamente para reduzir as emissões de
gases com efeito estufa, defrontamo-nos com a nova doutrina Trump, que alega
serem as alterações climáticas uma invenção chinesa e nomeou para a Agência americana de protecção
ambiental negacionistas das ditas alterações e defensor dos combustíveis
fósseis.
Trump quer que os Estados Unidos se
desvinculem do Acordo de Paris antes do fim do período de quatro anos que o
país ficou obrigado a respeitar. Recorde-se que o acordo, assinado por 195
países, entrou em vigor a 4 de novembro de 2015, e recentemente líderes de 360 grandes
empresas enviaram uma carta a Trump a pedir que respeite o Acordo de Paris.
Se até há pouco tempo, o clima era de
satisfação por, finalmente, os dois maiores poluidores, China e Estados Unidos,
terem chegado a acordo quanto às metas a cumprir para minorar os efeitos das
alterações climáticas, agora já ninguém está seguro quanto ao futuro. Apesar de
não ter poder para bloquear o cumprimento do tratado por parte de outros países
ou alterar as regras do acordo, pode a nova administração americana optar por
não o executar o que pode por em causa o objetivo de limitar o aquecimento
global a um máximo de dois graus centígrados acima dos níveis pré-industriais.
Para não ter de esperar até 2020,
Donald Trump pode sempre sair da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as
Alterações Climáticas, que enquadra o acordo de Paris. No entanto, esta seria
uma decisão polémica tendo em conta que se trata de uma convenção aprovada pelo
Senado.
Quando é sabido que nos próximos 15
anos será preciso levar a cabo reduções sem precedentes nas emissões de gases
com efeito de estufa e fazer esforços para resistir a aumentos dos impactos
climáticos, são precisas estratégias nacionais até 2050, como aumento da ajuda
financeira aos países em desenvolvimento, assistência técnica para a criação de
uma política de incremento das energias renováveis, aposta em transportes
alternativos e reflorestação do planeta.
O objectivo do limite de 2º C foi
definido em 2009, em Copenhaga. Cumprir este objectivo será também
particularmente importante para Portugal, onde, se não for invertido o actual
ciclo de aquecimento global, a paisagem tornar-se-á globalmente desertificada
até 2100.
Em Sintra, por exemplo,segundo o
"Plano Estratégico do Concelho de Sintra Face às Alterações
Climáticas" coordenado pelo prof. Filipe Duarte Santos, antevê-se que em
meados do século XXI as temperaturas médias anuais subam1.7 a 3.3 °C, com maior
ênfase no Verão (3.6ºC a 5.4°C em Julho) do que no Inverno (0.7 a 1.6 °C em
Dezembro). No final do século a elevação da temperatura média anual pode chegar
a 2 a 3°C acima do que são actualmente no Inverno e 5º a 10º C no Verão, com
ondas de calor mais frequentes e noites tropicais em que poucas vezes a
temperatura descerá abaixo de 25º C. A precipitação média no final do século
baixará de 800 mm para 540 a 700 mm e a radiação solar aumentará até um máximo
de 8%.
Apesar da vasta área florestal do
Parque Natural Sintra-Cascais (3675 ha), o valor anual de sequestro é de cerca
53 500 toneladas de CO2, ou seja da ordem de 2% das emissões de gases com
efeito de estufa (GEE) dos sintrenses (âmbito total). Segundo os autores do
estudo, no caso específico de Sintra duas estratégias surgem como as mais
adequadas para sequestro biológico de carbono: o aumento permanente da área
florestada e do número de árvores de arruamento, e o aumento da duração média
das árvores com vista à meta de longo prazo de sequestro de 8% das emissões de
GEE. Recorde-se que Sintra faz parte desde 2015 do consórcio que irá
desenvolver a metodologia do projeto ClimAdaPT.Local para aplicação a nível
nacional das estratégias municipais para as alterações climáticas, sendo uma
das autarquias que já têm estratégias próprias para os seus territórios.
Com Trump ou sem Trump, mas com um
mundo mais perigoso e fragilizado, tal como no célebre Casablanca, “we’ll always
have Paris”. Esperemos.
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