sexta-feira, 2 de junho de 2017

Alterações climáticas: We'll always have Paris





Até onde estarão os países dispostos a ir para respeitarem o compromisso que assumiram em Paris de limitar a subida da temperatura abaixo dos 2 graus Celsius relativos à era pré-industrial e a continuar os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius?
Quando relatórios das Nações Unidas voltam a lembrar a urgência em agir rapidamente para reduzir as emissões de gases com efeito estufa, defrontamo-nos com a nova doutrina Trump, que alega serem as alterações climáticas uma invenção chinesa e  nomeou para a Agência americana de protecção ambiental negacionistas das ditas alterações e defensor dos combustíveis fósseis.
Trump quer que os Estados Unidos se desvinculem do Acordo de Paris antes do fim do período de quatro anos que o país ficou obrigado a respeitar. Recorde-se que o acordo, assinado por 195 países, entrou em vigor a 4 de novembro de 2015, e recentemente líderes de 360 grandes empresas enviaram uma carta a Trump a pedir que respeite o Acordo de Paris.
Se até há pouco tempo, o clima era de satisfação por, finalmente, os dois maiores poluidores, China e Estados Unidos, terem chegado a acordo quanto às metas a cumprir para minorar os efeitos das alterações climáticas, agora já ninguém está seguro quanto ao futuro. Apesar de não ter poder para bloquear o cumprimento do tratado por parte de outros países ou alterar as regras do acordo, pode a nova administração americana optar por não o executar o que pode por em causa o objetivo de limitar o aquecimento global a um máximo de dois graus centígrados acima dos níveis pré-industriais.
Para não ter de esperar até 2020, Donald Trump pode sempre sair da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, que enquadra o acordo de Paris. No entanto, esta seria uma decisão polémica tendo em conta que se trata de uma convenção aprovada pelo Senado.
Quando é sabido que nos próximos 15 anos será preciso levar a cabo reduções sem precedentes nas emissões de gases com efeito de estufa e fazer esforços para resistir a aumentos dos impactos climáticos, são precisas estratégias nacionais até 2050, como aumento da ajuda financeira aos países em desenvolvimento, assistência técnica para a criação de uma política de incremento das energias renováveis, aposta em transportes alternativos e reflorestação do planeta.
O objectivo do limite de 2º C foi definido em 2009, em Copenhaga. Cumprir este objectivo será também particularmente importante para Portugal, onde, se não for invertido o actual ciclo de aquecimento global, a paisagem tornar-se-á globalmente desertificada até 2100.
Em Sintra, por exemplo,segundo o "Plano Estratégico do Concelho de Sintra Face às Alterações Climáticas" coordenado pelo prof. Filipe Duarte Santos, antevê-se que em meados do século XXI as temperaturas médias anuais subam1.7 a 3.3 °C, com maior ênfase no Verão (3.6ºC a 5.4°C em Julho) do que no Inverno (0.7 a 1.6 °C em Dezembro). No final do século a elevação da temperatura média anual pode chegar a 2 a 3°C acima do que são actualmente no Inverno e 5º a 10º C no Verão, com ondas de calor mais frequentes e noites tropicais em que poucas vezes a temperatura descerá abaixo de 25º C. A precipitação média no final do século baixará de 800 mm para 540 a 700 mm e a radiação solar aumentará até um máximo de 8%.
Apesar da vasta área florestal do Parque Natural Sintra-Cascais (3675 ha), o valor anual de sequestro é de cerca 53 500 toneladas de CO2, ou seja da ordem de 2% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) dos sintrenses (âmbito total). Segundo os autores do estudo, no caso específico de Sintra duas estratégias surgem como as mais adequadas para sequestro biológico de carbono: o aumento permanente da área florestada e do número de árvores de arruamento, e o aumento da duração média das árvores com vista à meta de longo prazo de sequestro de 8% das emissões de GEE. Recorde-se que Sintra faz parte desde 2015 do consórcio que irá desenvolver a metodologia do projeto ClimAdaPT.Local para aplicação a nível nacional das estratégias municipais para as alterações climáticas, sendo uma das autarquias que já têm estratégias próprias para os seus territórios.
Com Trump ou sem Trump, mas com um mundo mais perigoso e fragilizado, tal como no célebre Casablanca, “we’ll always have Paris”. Esperemos.



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