segunda-feira, 29 de maio de 2017

Um monumento aos bombeiros de Sintra!



Celebrou-se ontem o Dia do Bombeiro. Ora Sintra tem pergaminhos na criação de algumas corporações das mais antigas e valorosas do país. Desde logo a Associação de Socorros Mútuos 3 de Outubro de 1884, ou em 1885, quando uma comissão de sintrenses reunida no Jornal de Cintra, decide organizar um corpo de bombeiros. A 1 de Setembro de 1889 foi criada a Associação dos Bombeiros Voluntários de Sintra, e em 1890 os Bombeiros de Colares com a inauguração da "estação de incêndios", sendo seu primeiro comandante Eduardo Rodrigues da Costa. A 24 de Junho desse ano, é a Real Associação dos Bombeiros Voluntários de Sintra, sendo seu primeiro comandante João Augusto Cunha. A 1 de Novembro de 1891 surge a  Banda dos Bombeiros Voluntários de Colares, e em 1895 é a vez de Almoçageme ter um corpo de soldados da paz, num período em que o socorro e auxílio tiveram uma fase de expansão. Momento alto foi a realização em Sintra 27 de Agosto de 1905 do I Congresso-Concurso dos Bombeiros Portugueses, em Seteais, quando diversas corporações estavam já no terreno.
Durante o século XX, inúmeras foram as ocasiões em que abnegados voluntários acorreram a incêndios, inundações e acidentes, numa rede de solidariedade motivada pelo respeito pela pessoa humana, com realce para o famigerado incêndio na serra de Sintra de 1966 ou as cheias de 1967, e de que este ano passam 50 anos.
Sintra acolhe hoje também a Escola Nacional de Bombeiros, centro de qualidade na área da formação, por todo o concelho diversas corporações realizam trabalho social e cultural, apoio médico, desportivo e social, congregando populações e chegando em termos de proximidade onde muitas vezes o Estado prima pela ausência.
Daí a pergunta e o pedido: para quando um monumento no Centro Histórico de Sintra que reconheça a dívida de gratidão de que a nossa comunidade é devedora para com quem de forma tão altruísta a serve, à chuva e ao sol, sob o inferno das labaredas ou acorrendo à sinistralidade rodoviária, no salvamento nas praias e ribeiras ou ajudando as vítimas nos acidentes urbanos?
Um monumento ao Bombeiro de Sintra peca por tardio. Deixa-se pois o desafio a que a autarquia (Câmara e juntas) instituições locais e empresariais, e comunidade, se mobilizem para de forma perene deixar no terreno uma homenagem a quem mais que ninguém nas horas difíceis defende o nosso território e as suas gentes sempre que toca uma sirene, dispara um telefone ou alguém grita por auxílio.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Por um novo Instituto de Sintra







Na literatura e cultura portuguesas Sintra aparece com frequência na pena de poetas, estudiosos e visitantes. Já Camões dela fala em Os Lusíadas (Já a vista, pouco e pouco, se desterra/Daqueles pátrios montes, que ficavam/Ficava o caro Tejo e a fresca serra/De Sintra, e nela os olhos se alongavam/ Ficava-nos também na amada terra/O coração, que as mágoas lá deixavam/E já despois que toda se escondeu/ Não vimos mais, enfim, que mar e céu) e também Francisco de Holanda, Crisfal, Luísa Sigêa, Gil Vicente ou Sá de Miranda se mostraram atraídos pela sua serra lunar. É porém no período romântico que por influência dos poetas do lago e sob influência de viajantes como Beckford, Byron, Hans C. Andersen ou Lady Jackson que Sintra irrompe como local incontornável, e a prová-lo, as obras de Gomes de Amorim, Almeida Garrett, Eça de Queirós ou Castilho. E no século XX, Almada e Pessoa, Nunes Claro, Oliva Guerra, Francisco Costa, M. S. Lourenço, Maria Almira Medina. E vivos ainda Liberto Cruz, Miguel Real, Sérgio Luís Carvalho, Filomena Marona Beja, Jorge Telles Menezes, Raquel Ochoa.

Pode dizer-se que a presença de Sintra nestes autores é muitas vezes incidental: meras sete linhas no Child Harold’s Pilgrimage de Byron ou umas frases soltas em Andersen, um percurso de Chevrolet em Pessoa ou os olhos de um gigante em Almada, o Lawrence e as pipas de Colares no Eça, a introspecção de sentimentos em Francisco Costa, Maria Almira ou Nunes Claro. Mas também na Casa Branca de Jorge Menezes, nos seus Novelos de Sintra, na chegada a Lisboa, avistando a Roca, do Julinho de A Voz da Terra de Miguel Real, no Anno Domini 1348 e os dramas do tabelião João Lourenço, de Sérgio Luís Carvalho, nos dramas sociais na Messa de finais do século XX de Bute daí Zé! de Filomena Marona Beja. Será isto suficiente para assinalar a existência de uma literatura de Sintra, ou serão afinal meros apontamentos de Sintra na literatura?

Em Sintra, a literatura é sobretudo apologética de um espaço cénico predominante, seja para lhe exaltar a paisagem, as plantas, as lendas e mistérios, seja como complemento de histórias com outras geografias, local para escapadelas dos dandys de Lisboa com suas Lolas espanholas, no século XIX, e igualmente refúgio esporádico de outros mais recentes (José Gomes Ferreira, Mário Dionísio, Vergílio Ferreira, etc).

Há porém os publicistas e historiadores, esses sim mais perenes: do Visconde de Juromenha a João António Silva Marques, de José Alfredo Costa Azevedo a Vítor Serrão, Cardim Ribeiro, João Rodil ou Teresa Caetano, Luciano Reis, Eugénio Montoito, Samuel Vicente, Jorge Trigo, Hermínio Santos, Almeida Flôr ou Carlos Manique da Silva, a quem a investigação e estudos sintrenses muito devem, e hoje sem um espaço de divulgação permanente, depois das efémeras experiências da Vária Escrita e da Sintria. E os autores de teatro: Nuno Vicente, João de Mello Alvim, José Sabugo, Rui Mário, entre outros, e novos poetas, como Bruno Vitória ou Filipe Fiúza. E pintores, arquitectos, analistas sociais, criadores de multimédia, programadores e facilitadores culturais. Se queremos uma Sintra com massa crítica, há que criar um espaço permanente onde sobre ela se reflita e debata, criando Memória e rotinando comportamentos pró-activos em prol da Sintra que pensa, sonha e, definitivamente, quer avançar.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Museus, construtores de narrativas



Hoje, Dia Internacional dos Museus, recordar as orientações da UNESCO de 2015- a Recomendação Relativa à Protecção e Promoção dos Museus e das Colecções, da sua Diversidade e do seu Papel na Sociedade, que questiona a função social dos museus, bem como a necessidade de um diálogo vivo entre órgãos directivos, agentes culturais e escolas em particular.
Apesar de algumas melhorias, a maior parte dos museus parece estar empobrecida. As construções estão muitas vezes num estado de conservação precário e as exposições, muitas vezes “fora de época”, oferecendo pouca informação contextual.
Os museus têm de ser espaços de construção de narrativas culturais capazes de atender um público diferenciado. Uma das características apontadas pela nova museologia diz respeito à preocupação crescente em responder às expectativas do público e oferecer práticas interativas como alternativa aos discursos fechados.
A introdução de novas práticas deve priorizar o respeito pela diversidade cultural, a integração nos museus das diversas realidades locais e a defesa do património cultural. Hoje, a tarefa educativa passou a ser compreendida a partir do diálogo com o público e das práticas interativas. As narrativas produzidas tornaram-se temas de debate que fazem parte da agenda política contemporânea, e os museus devem ser espaços de fortalecimento de auto-estima e criatividade, sem patrioteirismos ou regionalismos bacocos, mas lúcidos e de espirito crítico e aberto.
Os museus devem ser instrumentos que eduquem a partir da interação do visitante com o meio ambiente e por intermédio da utilização de instrumentos dinâmicos e plurais. Enfatize-se o potencial multidimensional da visita e os processos afetivos e sensório-motores, evitando-se disposições lineares, factuais e hierarquizadas. Além disso,faz parte de práticas desenvolvidas nos museus a observação constante da resposta do visitante. O processo de avaliação do desempenho de cada museu deve ser recorrente, transparente, com frequente reavaliação por recurso a análises SWOT. Há que encontrar um discurso próprio e garantir autonomia em relação a grupos financiadores.
Em Sintra, para lá dos espaços musealizados das quintas e palácios, há ainda um trabalho de fidelização de públicos e sua educação a realizar. Por um lado, a política das casas-museu parece claramente ultrapassada e contrária às tendências da museografia moderna, e casos como o dos museus Anjos Teixeira ou Ferreira de Castro atestam-no. Por outro, há que implementar os serviços educativos e realizar mais eventos em ligação com a comunidade, não numa lógica de supermercado de cultura mas de programação coerente e complementar. Museus, sim, mausoléus, não.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

O novo paradigma das vitórias

É corriqueiro e quase inevitável falar e viver da crise, não se passa sem ela, nos jornais, nos cafés, no emprego, no parlamento,creio mesmo que se ela um dia porventura acabar, a sensação de orfandade será tão grande que se terá de arranjar logo outra, e se possível pio, para pôr à prova o nosso sadismo colectivo. Desde Alcácer Quibir que assim tem sido, é endémico. O certo é que vamos estando (aliás, em Portugal, país do gerúndio, nunca se vai, vai-se sempre andando ...)

A idiossincrasia dos povos tem destas coisas, mas analisando à lupa ,a História encarrega-se de provar que apesar do fado nacional (agora Património da Humanidade e world music) , sempre soubemos domar os Adamastores, fossem eles  o grande e desconhecido Mar-Oceano ou os mais prosaicos e invisíveis "mercados". Já vêm da época dos Descobrimentos os velhos do Restelo, contudo não deixámos de ousar lutar e ousar vencer, contra castelhanos, terramotos, franceses, ditaduras, e afinal ainda cá estamos, o país mais antigo da Europa e com as fronteiras mais estáveis, a 5ª língua mais falada em todo o mundo, em 32º no ranking mundial de 194 países ( com o detalhe de sermos dos mais pobres entre os ricos, mas ainda assim no clube...).Ponha-se os olhos em povos como o alemão, devastados por guerras que provocaram milhões de mortos e destruição em massa e  contudo sempre a renascer das cinzas. Temos sempre a tendência para achar que a culpa é “deles”, os que nos governam (porque se governam) mas “eles” somos nós, todos, no que temos de bom e mau, como qualquer outro país. O pessimismo é como o auto-golo, só serve para perder pontos.


Vem isto a propósito da responsabilidade que em minha opinião têm certas elites e certa opinião publicada nos estados de alma que moldam o carácter nacional dos portugueses. O pathos nacional tem sido marcado pelos vencidos da vida de várias gerações, desde o conformado "ainda o apanhamos" do Eça até essa peça sublime e igualmente derrotista que é a Mensagem, de Pessoa. Obras belas, plástica e literariamente, mas hinos à descrença, à resignação e ao fatalismo. Se olharmos com atenção, todos os grandes gurus nacionais são-no na medida em que se assumiram como profetas da desgraça, (os optimistas chamam-lhes "visionários...). Quanto mais baterem no ceguinho mais premiados e idolatrados, pois eles, premonitórios é que viram para lá da nuvem. Um exemplo: a nossa cena de comentadores, os ditos opinion makers. Quem são os mais convidados e “respeitados”? os que autofagicamente anunciam a “piolheira” do país, os frustrados, os que querem  ajustes de contas com os adversários ou ex-amigos. Dê-se-lhes uma caneta ou um teclado e ei-los a zurzir inflamados a desgraça nacional e o fado de ser português, o "isto só cá", como se todos soubessem em profundidade como é exactamente "lá". Já Almada dizia que o pior de Portugal eram os portugueses, e eles aplaudiram claro, porque nunca é nada "connosco", mas tudo com" eles".
Faça-se uma experiência: ouçamos um dia inteiro iluminados como  Medina Carreira, José Gomes Ferreira ou Vasco Pulido Valente, se não estiver deprimido e enterrado em whisky, e veja-se qual o contributo positivo destes profetas da desgraça para melhorar o estado de coisas, profetas da desgraça depois da desgraça ocorrer, na onda do “estava-se mesmo a ver, eu avisei”, mas entretanto nada viram e nada avisaram.

Entre nós, as veneradas elites pensadoras são sobretudo faladoras, e sobretudo maldizentes, imensamente responsáveis pela degeneração da ideia de Portugal, e pouco ou nada mudou desde a fuga de D. João VI para o Brasil e o ciclo de declínio que endémico se seguiu. Porém, mal ou bem cá vamos, e sobretudo, cá estamos, apesar de sermos o país que nasceu com o filho a bater na mãe. Somos uma matriz da civilização ocidental e um berço de culturas, (eu sei, cheira a discurso de 10 de Junho, mas é verdade!), O que faria então se nos entendêssemos sobre as grandes questões, separando a árvore da floresta e fazendo planos para a floresta.

Temos a particularidade de estarmos sempre desavindos uns com os outros e desconfiarmos mais depressa de outro português do que do primeiro estrangeiro desqualificado que nos metam na frente. Como aquele velho anarquista que dizia: há governo? Sou contra!

Com crise ou sem crise, os povos não acabam, apesar de poder suceder como nos vírus da gripe, com o tempo estes degenerarem noutros, com novas roupagens e atitudes, e a geração que abriu o século XXI poder vir a sair mal na fotografia da História. Mas depois do tempo, tempo vem, e um pouco de azul sempre é melhor que o cinzento, apesar de por vezes pairar o negro nos espíritos. Como um dia disse o general De Gaulle, "o fim da esperança é o começo da morte". E aos velhos do Restelo, uma temporada nas termas não faria nada mal...O país de Camões, Vasco da Gama, Padre António Vieira ou Eça de Queirós é hoje o país dos Ronaldos e dos Salvadores, mas também dos Sizas e dos Marcelos, dos pastéis de nata e da Web Summit, do João Sousa e da Jessica Augusto, do António Zambujo e da Mariza. E então?
Acabaram as vitórias morais, depois de anos de chumbo, estamos estranhamente moralizados para as vitórias, e para uma nova normalidade até agora anormal e estranha.
Não passámos de bestas a bestiais, mas que faz bem, faz...Não somos o Portugal do Império, das Índias e Brasis, mas também não somos o das varinas descalças, vielas sujas e da mala de cartão, celebrando terceiros lugares como épicas vitórias. É o tempo de juntar trabalho e organização, talento e iniciativa, orgulho e determinação. E aí sim, terá valido a pena.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Sintra, roteiro pedonal pela História



José Alfredo Costa Azevedo, o cronista de Sintra do século XX descreveu nas suas crónicas do Jornal de Sintra, depois reunidas em livro, a história da vila no dealbar da primeira metade do século XX. Uma das zonas por si em detalhe analisadas foi o então “novo” bairro da Estefânea, resultado da expansão urbana da Vila Velha com a chegada em 1873 do Larmanjat, o efémero “tramway” monocarril, primeiro, e do comboio depois, em 1887. Baptizado em homenagem à rainha D.Estefânea, a jovem e malograda esposa de D.Pedro V, esse bairro compreendia a zona “nova”, a partir dos Paços do Concelho (também eles recentes, inaugurados em 1909, construídos no local onde antes estava uma capela dedicada a S.Sebastião, demolida em 1904) e as actuais Av.Nunes Carvalho e Largo do Morais(embora a ligação à Portela e Lourel seja hoje quase contínua, detenhamo-nos nestes limites.

Numa viagem ao passado, com fotos de hoje, uma memória de locais onde se fez História, embora a Memória hoje nem sempre retenha.

Começamos pelo  edifício contíguo ao recente Espaço do Cidadão.

Aí funcionou a Escola Oficial Conde Ferreira, homem rico que falecendo jovem e sem filhos deixou em testamento que se construíssem 120 escolas para ambos os sexos em vilas sede de concelho. Nesta escola exerceu durante muitos anos António Joaquim das Neves, conhecido pelos antigos como Mestre Neves e que foi tio do antigo Presidente do Concelho Marcelo Caetano, e depois regente de português na Escola Primária Superior, que existiu em Sintra, na escola do Morais entre 1919 e 1925. Este mestre Neves foi igualmente avô do jornalista e antifascista Mário Neves.

Ao longo da actual R.Alfredo Costa (médico, o mesmo da maternidade em Lisboa), alguns edifícios de nota.

Logo à esquerda, a antiga estalagem da Raposa e actual sede do Espaço Llansol, por aí ter também vivido durante alguns anos essa escritora nossa contemporânea.

Este edifício foi propriedade do abastado proprietário José Antunes dos Santos, que aí viveu e morreu, e aí viveu também o Dr. Álvaro Vasconcelos, presidente da Câmara entre 1930 e 1938 (foto abaixo)e muitos anos conservador do Registo Predial de Sintra e presidente nos anos 40 e 50 da União Nacional.

No nº 9, foi a tesouraria das Finanças, e um clube com jogo clandestino no tempo da monarquia, e aí teve escritório o advogado Porfírio de Sousa Martins.

Na cave do prédio com entrada pelo nº28 existiu o Clube dos 40, fundado em 1928, que mais tarde se mudou para o local da actual Pensão Nova Sintra.

Neste pátio foi igualmente a estação do Larmanjat, o efémero monocarril que Saldanha entendeu introduzir em Portugal depois de o ver em funcionamento em França.

No nº30 existiu uma vivenda, já demolida, chamada Casa das Magnólias onde viveu o republicano e governador civil de Lisboa depois da República Eusébio Leão.

No r/c dos nº 38 e 39, a actual Casa dos Frangos, muitos anos passou o Verão João de Deus, o autor da “Cartilha Maternal”. No 1º andar funcionou a Loja Maçónica Luz do Sol, de que foi Venerável o médico Gregório de Almeida, de que fizeram parte José Bento Costa, Nunes Claro, Virgílio Horta e o próprio José Alfredo, com o nome de “António Oliveira”.
Dr. Gregório de Almeida

 O chalé avermelhado do lado oposto da rua foi propriedade do comandante Fernando Branco, um dos criadores da esquadrilha de submersíveis portugueses e ministro dos Estrangeiros e da Marinha, e avô do presidente Jorge Sampaio. Também o pai deste, o médico Arnaldo Sampaio aí residiu, mantendo-se a casa na esfera da família.


No prédio verde onde durante anos funcionou o Departamento de Urbanismo e as Varas Mistas do Tribunal de Sintra, agora de novo um serviço camarário, morou há muitos anos Carlos dos Santos Silva, um dos fundadores do Banco Fonsecas, Santos e Viana, mais tarde Banco Fonsecas e Burnay.

No prédio com o nº 43, viveu no período de Verão o general Correia Barreto, primeiro ministro da Guerra depois da República e que aqui faleceu em 15 de Agosto de 1939.Em 1900 inventou a pólvora sem fumo.

Aqui foi homenageado pela Banda da Sociedade União Sintrense, depois de os revoltosos monárquicos de Monsanto terem sido repelidos, e ovacionado pelos populares.

No 53 viveu a Ti Gertrudes, ou a “Bonecreira”, a parteira da terra, que durante anos ajudou a vir ao mundo centenas de crianças em Sintra.


De seguida passamos ao Largo D.Manuel, anteriormente chamado R.Vasco da Gama. As pérgolas e arranjo urbanístico do local são do tempo do capitão Craveiro Lopes, presidente da Comissão Administrativa depois do 28 de Maio e mais tarde Presidente da República, sendo vereador responsável o capitão Mário Alberto Soares Pimentel, então presidente da Comissão Municipal de Iniciativa e Turismo.

Antes destas obras, haviam aqui uns barracões onde a CP fazia a recolha das carruagens.

À esquerda fica a Correnteza, antes Av. Barão de Almeida Santos, grande amigo de Sintra. Na rua paralela, R.Francisco Gomes de Amorim, viveu este escritor, no nº3. A rua tem o seu nome desde 1899.

No nº5 nasceu o escritor sintrense Francisco Costa em 12 de Agosto de 1900. 


Ao fim da rua, actual acesso à Biblioteca Municipal, ficava a casa que a viúva Mantero adquiriu a um tal Peixoto, proprietário do nº15, depois da trágica morte dum filho deste num acidente de viação na Volta do Duche.

Toda esta fiada de casas teve inicio com a construção do Larmanjat, para alojar os engenheiros que vieram trabalhar na linha, pois a viagem até Lisboa nesse tempo não permitia deslocações diárias como hoje.

Uma curiosidade: foi por influência de Tomé de Barros Queirós, o homem que proclamou a República em Sintra, e tinha uma casa na rua com o seu nome desde 1926, que a partir de 1913 se iniciou o arranjo urbanístico deste jardim.

E curiosamente, os candeeiros hoje ainda aí existentes vieram da sua loja em Lisboa, conforme se pode verificar a uma aproximação atenta.

Contornando a Correnteza para a R.Câmara Pestana chegamos ao Centro Cultural Olga de Cadaval. Nos anos 30 funcionou aí o Sintra-Cinema  

Só em 1948 foi inaugurado o Cineteatro Carlos Manuel, projecto do arquitecto Norte Júnior mandado construir por António Marques de Sousa.
Onde fica o Centro de Arte Moderna foi muitos anos o Casino, de Norte Júnior também e mandado construir por Adriano Júlio Coelho. 

Funcionou nos anos 20 com récitas e espectáculos, entre eles os do Orpheon de Sintra, e foi adquirido pela Câmara nos anos 50, tendo depois lá funcionado a Escola D.Fernando II e as Finanças. Em 1997 abriu como Centro de Arte Moderna, albergando alguns anos a Colecção Berardo, e agora Museu das Artes de Sintra. O Orpheon de Sintra funcionou até 1927 e chegou a ter duzentos elementos.Uma imagem de 1927:
Tornejando para a Av. Heliodoro Salgado (deixaremos outras artérias para outra ocasião), algumas notas soltas, entre a cacofonia existente pouco digna dum burgo como Sintra.
Esta artéria, hoje pedonal, chamava-se anteriormente D.Maria Pia, no tempo da monarquia, e tem hoje  o nome dum maçon e jornalista que nada tem a ver directamente com Sintra, mas com o fervor republicano de alguns dos dirigentes da época. Anteriormente era mais estreita, e parcialmente ajardinada do lado esquerdo na direcção do Largo Afonso de Albuquerque. A 1 de Maio de 1974 assistiu à maior manifestação que até hoje teve lugar em Sintra.
Em frente do supermercado houve em tempos um varão de ferro onde os saloios amarravam os burros quando vinham às compras.

Onde fica a pastelaria Tirol( inaugurada em 1950) funcionou uma carpintaria, de um Raio, da Várzea de Sintra.

Atrás do prédio onde ficava o Jornal de Sintra existiam terras e terrenos de cultura, tudo conhecido como o Casal dos Cosmes. No prédio de gaveto, existiu um hotel com o nome de Europa. 


Na zona destes prédios hoje em recuperação, existiu antes de 1931 um estabelecimento de recuperação de bicicletas, propriedade de António Augusto de Carvalho,(foto abaixo) vencedor da I Volta a Portugal em Bicicleta, em 1927.

Descendo na direcção da Av. Miguel Bombarda, antes José Luciano de Castro, temos o Café Elite, inaugurado em 14 de Outubro de 1937, e onde se realizaram muitos saraus com o Estefânea Jazz, (foto abaixo) grupo criado em 1930 por Martins de Oliveira (quem diria…).

A estação dos caminhos de ferro sofreu inúmeras alterações no tempo de Adriano Júlio Coelho (o do Casino). O primeiro comboio eléctrico chegou a Sintra em 29 de Novembro de 1956.
Em frente da estação fica o Café Cynthia, que anteriormente se chamou Bijou.

 A praça de táxis, ontem e hoje.
Onde fica hoje o parqueamento frente à estação, esteve previsto o Hospital de Sintra, projecto de Pardal Monteiro(abaixo)

O Presidente da República da época, Teixeira Gomes, chegou a vir a Sintra lançar a primeira pedra. Mas como outras obras, nunca saiu do papel...
Descendo para os Paços do Concelho, na primeira casa morou o arqueólogo Félix Alves Pereira.

E um pouco mais à frente, onde hoje fica o Café Saudade, foi a fábrica de queijadas da Mathilde, fundada em 1850. Depois de encerrada, ali funcionou um escritório de advogado, a papelaria ABC e uma agência de viagens.

Finalmente, onde fica hoje o restaurante Apeadeiro, inaugurado em Setembro de 1970, foi a tipografia Minerva Comercial Sintrense, de João Roberto Rosado, que em 1966 se transferiu para a R.João de Deus.

Aqui se deixa este “relambório” para que, pelo menos, muitos ao passar na sua rotina diária por estas pedras e paredes silenciosas se lembrem que também aqui se fez Sintra, infelizmente quase sem memória para os seus habitantes de hoje.Talvez só a sombra de José Alfredo contemple a sua vila e suspire, contendo a vontade de, como em 1934, voltar a tocar a rebate os sinos da igreja da Torre da Vila contra os atentados então anunciados para Seteais. Josés Alfredos, precisam-se!