segunda-feira, 7 de julho de 2025

O desígnio de escrever

Voltei a escrever, confesso.Escrever é fazer um eletrocardiograma da alma. mas onde, ao contrário da vida, a arritmia liberta e a normalidade mata, inimputavelmente desmascarando verdades não confessadas.

O escritor é um carteiro: uma vez vertida a alma no papel-confessionário, envia-a definitivamente ao seu destino, como se simples origami, e quem o lê, com um olhar por certo maculado por uma história de vida pessoal e única, aí captará por certo algo novo e diferente, de reconhecimento ou discordância. A obra, essa, uma vez escrita, partirá definitivamente ao seu destino, fora do controle do escritor, até aí um tirano entrincheirado, e o leitor poderá descobrir outros  mundos, estados de alma, intenções, só ele em segredo guardará o enigma das letras reveladas.

Ventríloquo do indizível, visionário de uma Cidade Utópica, capturado pelo verbo, ao escrever desfilo pela porta da alma,  Vagabundo da palavra, fingidor sem fingimento, invisível peregrino da vida, da Vida e da Luz que só cegos podem ver, pois maior cegueira não há que a da paixão.Morcego inquieto, de máscara em máscara patrulho as sombras, perdido num desfiladeiro lúdico. Posta a catarse do seminal momento de escrever, outras se sucederão, enquanto a Lua cintilar e o sangue o exigir. São de brumas os tempos, de ódio aos outros, tempos da indiferença que mata e da estupefação que congela- ainda não tínhamos afinal descido ao mais fundo que é possível descer, uma vez mais lobos dos outros homens e sanguinolenta alcateia que nenhuma inteligência artificial ou algoritmo absolverão. 

Escrever será sempre um refúgio. Em cacos, a Cidade fumega e o vulcão agita-se. Saberemos sair da Caverna?