O Brasil é nos dias de hoje um país polarizado, mas, independentemente das convicções de cada um, há um sentido de Estado que é exigido ao representante máximo dum país, em respeito por aqueles que representa e para quem deve ser um exemplo e uma referência.
O atual presidente do Brasil é no mínimo uma figura insólita: apoiante de torturadores da ditadura dos anos 60, negacionista da ciência, o símbolo perfeito das 3 tendências que marcam um certo Brasil dos coronéis: a Bíblia, o Boi e a Bala. Não se lhe exigia que fosse um punhos de renda ou um diplomata do croquete, daqueles que pululam pelas chancelarias. Mas há que ter respeito pelos representantes de Estados estrangeiros, e particularmente com Portugal.
Marcelo Rebelo de Sousa, no que concerne ao Brasil, quis colocar-se num plano de Estado, privilegiando as relações institucionais mais que as pessoais. Contudo, em menos de três meses desconvidar o Presidente português por se ter encontrado com os seus opositores políticos, vociferar aleivosias da tribuna onde deveria celebrar o bicentenário da Nação brasileira, e faltar ostensivamente à sessão no Congresso onde Marcelo iria falar, é razão suficiente para que a dita criatura seja posta no lugar em termos diplomáticos.
Porque a Bolsonaro nem tudo pode ser perdoado ou justificado com a sua idiossincrasia de cafajeste. Pessoalmente, senti-me humilhado pelo tratamento dado ao nosso presidente, e desapontado também com Marcelo por tudo consentir em nome da História e das proverbiais relações entre "povos irmãos". Já chega. Recordo a ida a Luanda à posse de João Lourenço que, no calor da diatribe em torno do caso Manuel Vicente, recitou o nome de mais de uma dezena de países amigos de Angola, deliberadamente omitindo Portugal. Recordo as desconsiderações do vaqueiro Jair, que tal não faria a um governante americano ou russo, e não me conformo.
O Presidente de Portugal representa os portugueses, e os portugueses têm de ser respeitados e dar-se ao respeito. Daí, só há um grito para lançar das margens do Ipiranga: vade retro Bolsonaro!, rufia dos trópicos, e aprendiz de feiticeiro. Quanto ao prof. Marcelo, por favor, menos selfies e mais gravitas. Nove séculos de História estão a olhar para si, não seja o D. João VI do século XXI.
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