Diz o Governo que o memorando da troika é para cumprir. Contudo, a troika impõe alterações ao acordado, unilateralmente, e o Governo acata, preparando novo pacote de impostos e cortes cegos. A dívida virou obsessão e as pessoas são números em relatórios anódinos dos eurocratas e seus mandantes lá para os lados do Terreiro do Paço. Diz o primeiro-ministro que há quem queira incendiar as ruas. Mas não é o Governo quem tem o isqueiro e actua achando que tudo deve ser acatado dizendo que os portugueses são um povo pacífico?
Pacífico,
sim, mas não manso. É um direito natural lutar pela sobrevivência,
contra a fome e pela dignidade, sobretudo quando não se contribuiu para o
descalabro das contas e nenhum dirigente político é levado ao banco dos
réus por gestão danosa.
Cada três meses são anunciadas alterações ao memorando da troika. Unilateralmente. Sem
negociação. Sem ouvir os parceiros que assinaram o original. Negociação
ou Outorga? É a capitulação total, ónus do devedor perante o credor
inexorável.
Dantes
havia Europa e europeus. Agora há os contribuintes alemães e
finlandeses, os despesistas portugueses, os desgovernados gregos e os
desempregados espanhóis. E um barco à deriva, que afogando-se ele mesmo,
ainda dá instruções do navio almirante dizendo como evitar o
naufrágio. Até um comissário "europeu" sugeriu já que as bandeiras dos
países devedores sejam içadas a meia haste para diferenciar. Assim vai o
projecto europeu...
Devem
os remadores agrilhoados do porão esperar pelo naufrágio para se
tentarem safar? Deve pedir-se sacrifícios com credibilidade quando há
uma década que o Portugal de sucesso se transformou no país da tanga? Tal como o cão de Pavlov, sem osso não há saliva, pode é haver dentada. É
pois de prever que a resistência tenha um limite, que se sente nos
assaltos e roubos que preenchem os noticiários dos jornais e tablóides.
Dizem
que Portugal é um país pacífico. Mas esquecem muitos que foi em Portugal que se queimaram milhares
de judeus, se executaram barbaramente os Távoras, que aconteceram lutas
fratricidas entre liberais e miguelistas, que um rei e um presidente
foram assassinados no século XX, a par dos exemplos pouco pacíficos da camioneta fantasma, da
Carbonária ou das FP-25.
Como escreveu o poeta Aleixo “Vós que lá do vosso Império/Prometeis um mundo novo/ Calai-vos que pode o povo/ Querer um mundo novo a sério".
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