Quando vi esta imagem ontem na televisão ainda pensei: avisados pelas sirenes da chegada de Marcelo, os ucranianos fugiram de Kiev com medo de serem apanhados para alguma selfie. Mas não, por enquanto era falso alarme...
Marcelo é a nossa rainha de Inglaterra, mas bem gostaria de ser o nosso Winston Churchill, e já que constitucionalmente não pode aprovar uma paragem de autocarro ou a construção de um chafariz que seja, coleciona fotos, selfies, beijinhos, abraços e horas de declarações aos jornalistas. Creio mesmo que se pudesse teria um canal da Presidência onde qual Big Brother passaria o dia no confessionário, até porque sabe que nos próximos dois anos e meio ninguém o vai expulsar da casa.
O regime político português, sobretudo depois da revisão constitucional de 1982, gerou esta espécie de esquizofrenia: um Presidente e uma Assembleia ambos eleitos por sufrágio universal, mas onde depois as competências do primeiro esbarram em contingências legais, todo o poder real cabendo ao Governo, talvez por culpa de Eanes, que na altura saiu dos limites a que os partidos o queriam amarrar, exercendo o mandato na pulsão do semipresidencialismo mas pouco apreciado pelos grandes partidos.
Marcelo sabe isso, e não podendo demitir sequer um Galamba, vinga-se no Verbo e aí é estrela. Mas Marcelo cansa. Quando se fizer o balanço destes 10 anos, ficará para a História uma nota de rodapé, realçando a popularidade e a eloquência deste Presidente, mas incapaz por força das regras de qualquer reforma de fundo, ato histórico indelével ou postura destemida. É tudo espuma dos dias, comentários e discursos armadilhados, prazer e adrenalina com o jogo de sombras da política, conspirando pela palavra dita ou insinuada.
É claro que prefiro Marcelo a Cavaco, o figo seco de Boliqueime. Marcelo é um Presidente cosmopolita, bem preparado, com visão e até foi meu professor. Mas, com um raio, tem dias que cansa, nem o Goucha aparece tantas vezes. A culpa deve ser do Fortimel!
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