Em 2017 passam
100 anos sobre a Revolução Russa. A paixão e multidões que tal fenómeno arrastou,
com os descamisados de Outubro marchando ao som da Internacional até à vitória
final é visualmente cénico e catalisador de emoções, gera a catarse de frustrações
e alimenta a fé em algo que não se sabe se virá um dia.
Uma das características
do ser humano é a sensação de insegurança e a necessidade de protecção e de
amparo, e o Partido condutor e o seu líder vanguardista foram durante muitos anos
o protector sem dúvidas existenciais a caminho da sociedade de iguais, essa
terra do leite e do mel socialista.
A constante
necessidade de ter um pai ou uma mãe nasce dos desejos mais intensos do ser
humano, e das suas fragilidades. Aflitos de todo o mundo, uni-vos pois, para
celebrar as certezas que a outros tantas dúvidas suscitam. E cantem-se hinos
revolucionários de punho cerrado. Não resolve nada mas, tal como a aspirina,
atenua a dor de cabeça sem curar a doença.
O debate que a Alagamares promoveu ontem no News Museum, em Sintra, dedicado aos 100
anos da revolução russa demonstrou que o tema da revolução de Outubro não sendo consensual, a ninguém deixa
indiferente, sendo o maior pomo da discórdia o período em que José Estaline governou
a URSS com mão de ferro. Há uma barreira intransponível, contudo, que nunca
reconciliará revolucionários e reformistas, a das liberdades, ora prevalecendo
a pessoa humana e o indivíduo, ora o sacrifício à vontade do colectivo na senda
dum destino comum. Há vários socialismos, não sei se todos socialistas,
divididos pela ideia de estado, de propriedade e de liberdade, áreas onde a
ruptura epistemológica a todos afasta. Uns, sonhando os amanhãs que cantam, outros
rendidos a um modo de vida hedonista e dito burguês,s proporcionado pelo Welfare
State. Quem não é revolucionário aos vinte, não tem coração, quem o é aos
quarenta, não tem cabeça, disse um dia Clemenceau, o velho político francês.
Será? Talvez não. Mas isso sou eu, ex-revolucionário que também por lá andou
nos idos de Abril.
Ninguém é perfeito, e, qual céptico relativista, apenas me
interessam os feitos humanos não para ataca-los ou defendê-los, mas tão só para
compreendê-los, como sabiamente escreveu Spinoza. Cristo morreu, Marx também, e
eu não me sinto lá nada bem. Estará o socialismo de vez na gaveta, ou voltará a abrir-se a caixa de Pandora? A História o dirá.
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