A recente mobilização contra o
abate de 1400 árvores em plena Lagoa Azul mostra que as causas ainda mobilizam
os cidadãos para lá do simples like ou desabafo nas redes sociais.
Há 2 semanas fomos alertados para
a proliferação anormal de círculos laranja ao longo dum percurso de quilómetros
entre a Peninha e a recta do Hotel da Penha Longa. Novas, velhas, eucaliptos,
pinheiros, até um posto de electricidade (era de madeira…) estavam assinaladas
para abate. Doença, perigo, infestante, em dois ou três parágrafos se despachou
informação sobre o arboricídio em congeminação. Cidadãos estrangeiros amantes
de Sintra ficaram apreensivos, e contactaram-nos, apelando à mobilização, e
campanhas foram desenvolvidas a partir de Espanha, lançou-se uma petição, que
vai em 3330 subscritores em 5 dias, plantaram-se árvores, em sinal de protesto,
associações como a Alagamares, Canaferrim e SintraPenaferrim juntaram esforços,
uma ação popular deu entrada no tribunal, e partidos como o Bloco de Esquerda e
Os Verdes protestaram no Parlamento. Fomos diversas vezes ao local, fizeram-se
vídeos, a Câmara de Sintra e todas as forças políticas nela representadas
repudiaram a iniciativa, vinda de quem deveria ser a primeira entidade
a defender a Natureza, juntámos personalidades da politica, das artes e do mundo académico. Duas semanas intensas, por causa duma causa em que muito está em causa.
Ainda não acabou, mas ganhou-se
um elan, e redescobrimos juntos quanto Sintra é importante no nosso imaginário
e para o equilíbrio da natureza que espontaneamente, umas vezes, pela mão do
homem, outras, lhe conferiu o dom que permitiu ser Património da Humanidade,
logo de todos e cada um de nós. Aquelas são as NOSSAS árvores, a NOSSA floresta
e o NOSSO legado.
Limpeza? Sim. E porque não começar
pelas toneladas de restolho e lenha seca que é o combustível dos incêndios e
rastilho permanente? Prevenção contra os incêndios, caminhos para combate a
incêndios, vigilância reforçada? Sim. Optar pela solução radical e de contornos
duvidosos como a que à sucapa se estava a preparar, não.
A floresta é um microcosmo milenar
de biodiversidade que se ajusta a si própria, não um parque feito à medida do
Homem que decide que árvores têm direito a viver ou não, como se fosse uma
plantação onde se tem de retirar o joio do trigo. Os cidadãos têm de ser
ouvidos, e não podem ser tecnocratas de gabinete entretidos a grafitar árvores
para morrer a decidir o que fazer com a serra. Porque somos uma república de
cidadãos e não de vassalos, herdeiros dum Património comum do qual todos
devemos ser guardiães e jardineiros.
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