Vivemos sob a égide do Medo. Ou melhor, querem que tenhamos Medo.
Cavaco
quer-nos temerosos nas europeias, com Medo dos grandes teutónicos, debatendo
sem discutir, aceitando sem questionar, submissos nas urnas (nunca a palavra
teve tanta razão de ser!) para construir a “Europa”. Passos regressou de
Berlim, onde, a medo, solicitou amen à vestal do euro, e aí tranquilizado com
um biscoito qual cachorrinho obediente. Medo dos funcionários públicos em
tomarem posição, com medo de represálias. Medo dos doentes em faltar para não
perder dias de “baixa”, suportando a doença. Medo de fazer greve receando o
despedimento, a mobilidade e o dia a menos no final do mês.
Medo do
futuro e medo de pensar o futuro, zombies colectivos arrastamo-nos e querem que
nos arrastemos na incivilidade, famintos entre rostos fechados e desesperados e
a esmola de que aproveita as necessidades indisfarçadas.
Medo de
ousar alternativas, medo de participar, medo de ser cidadão, anémico e desiludido
com os amanhãs que não serão como se pensava serem, abandonados e sós no meio
das multidões de máscaras a caminho do metro, do emprego e do Nada.
É o medo que
nos inibe, incrédulos na Palavra e inertes na Acção, jurando vinganças no
silêncio das ruas sujas e povoadas de pedintes, e, contudo, a nada reagindo,
senão no balcão da cervejaria ou no final da partida de futebol, contra um
inevitável árbitro sempre tendencioso e sempre ladrão.
O Medo
voltou, como epidemia da Alma, e o Leão luso lambe as feridas e silencia as
dores no longo Inverno que impiedosamente
atravessa. Já houve mouros e castelhanos, adamastores e terramotos,
junots e bancarrotas. Desabituámo-nos de lutar. Até quando?
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