A revisão do PDM de Sintra leva anos de atraso. Documento
estruturante, deve ser um processo de negociação, debate, transparência e
participação que permita aos actores e agentes económicos sociais e culturais
verter para um quadro actualizado as preocupações com o desenvolvimento,
analisando as patologias e virtualidades do actual PDM de 1ª geração na mira do
concelho (ou concelhos) de Sintra que se quer para os próximos anos.
Nessa perspectiva, e sabendo que o quadro global se sacrifica
sempre ao binómio primário e redutor do mais ou menos betão, alguns aspectos
veria com interesse aprofundar, a saber:
1) promover a concentração da construção nos espaços urbanos
ainda não exauridos e requalificar os
existentes, fruto do desordenamento e gestão casuística das décadas
anteriores, mas criando em condições de justiça, equidade e proporcionalidade
condições para que os proprietários diminuídos na sua possibilidade de edificar
possam ver os seus terrenos potenciados e estimulados para outros fins, com o
correspondente desagravamento fiscal.
2) promover uma carta de redes que permita integrar e
orientar as intervenções dos fornecedores de serviços públicos e assim planear
o seu modus operandi, bem como reforçar o papel de autoridades locais de
transportes e acessibilidades.
3) sendo o PDM um plano de estabilidade mais duradoura,
agilizar o processo da elaboração de planos de pormenor que estariam em
actualização permanente, abertos à sociedade e ao escrutínio dos destinatários
duma verdadeira Democracia do Território.
Estes e outros temas parecem basilares num momento em que
novas realidades se impõe e os cidadãos são cada vez mais penalizados por
decisões em que não foram ouvidos e se demonstra não terem razoabilidade senão
numa óptica de nada fazer e tudo se permitir por inacção.
Na óptica da revisão do PDM de Sintra, e tendo em conta a
necessidade de uma cultura de participação e sustentabilidade versus
planeamento dogmático e redutor, há que adoptar critérios de Governação do
Território que deixem ao PDM mais um papel de estratégia e aos planos mais
concretizados a acção e intervenção necessários.
Deve um instrumento como o PDM defender o conceito de Direito
ao Território e não o Direito á Construção.
Na sua revisão, alguns tópicos mais para discussão:
4)Ponderar a possibilidade de elementos urbanos em espaços
rurais pois o conceito de espaços delimitado é demasiado estanque e redutor,
deixando de fora os direitos dos proprietários rurais, suas famílias e
actividades económicas (extinguindo-as, na prática).
5)Definir quais e o que são áreas urbanas programadas (bem
como aliás outros conceitos indeterminados e semânticos geradores de
duplicidade de apreciação).
6)Reduzir as áreas urbanizáveis para critérios de
sustentabilidade e adequação com as infra estruturas existentes, de modo a não
criar a necessidade de investimentos não programados ou desejáveis numa lógica
de ir atrás em vez de ser fio condutor.
7)Criar um capítulo para análise do mercado imobiliário e das
mais valias expectáveis com as intervenções previstas e permitidas, de modo a
“domesticar” a especulação imobiliária.
8)Definir um quadro prático de promoção de habitação, tendo
em conta as suas carências efectivas, bem como, nas zonas rurais, as dos
agricultores e suas famílias, as segundas residências, etc, travando a política
de “expulsão” que tem atirado as segundas gerações de moradores para os
subúrbios e criando bolsas de terrenos que pela dificuldade de construir apenas
podem ser adquiridos por segmentos endinheirados que nenhuma actividade económica
multiplicadora trazem consigo.
9)Mapar as zonas de risco e as dos recursos naturais (ex.
mapa das zonas de incêndio, cheias, sismos, energia etc, também elas zonas
sensíveis mais que as ambíguas zonas de “protecção e enquadramento”, verdadeira
cartola donde tudo pode surgir ainda que tudo simule proibir)
10)Definir a rede ferroviária e a rede de acessibilidades não
só tendo o automóvel como centro mas a localização de serviços e os corredores
para os empregos, escolas e equipamentos de saúde como prius.
11)Alterar a obrigatoriedade de plano de pormenor (moroso)
para a aprovação de empreendimentos turísticos, criando uma figura de plano
mais simplificado com a obrigatoriedade de estudo económico favorável
vinculativo. Este aspecto subjaz a um outro mais profundo que é o de saber que
tipo de turismo se pretende para Sintra,de molde a acabar com o actual modelo
de excursionistas de 1 dia do triângulo Pena-Vila-Cabo da Roca e potenciar a
oferta de sol mar natureza e cultura, dinamizando o turismo cultural e de congressos.
12)Alterar as regras do uso de solos da RAN. De que serve
desafectar um solo se depois se pede 1 hectare para construir? Esta afigura-se
ser uma medida classista e discriminatória exemplificativa do “território para
ricos” que por vezes emana do actual PDM.
13)Criar a Área de Paisagem Cultural de Sintra, englobando a
área do concelho, do Parque Natural, POOC, Rede Natura 2000 e Centro Histórico,
com homogeneidade de gestão. Esta foi a primeira a ser criada em 1994 depois da
classificação como património mundial e paradoxalmente nunca foi expressa em
nenhum instrumento de gestão territorial.
14)Criar um Agência Municipal de Investimentos, que promova
as actividades económicas essenciais (na óptica do turismo, empregabilidade,
fixação no terciário, lazer, habitação qualificada) e proponha uma política de
apoios tributários que seja apelativa, passando pela prática reiterada de
celebração de protocolos ou contratos programa que desenvolvam um partenariado
positivo e gerador de sinergias que se manifestem de modo permanente e não só
no momento do licenciamento ou instalação.
15)Apostar numa cultura de participação de todos, reforçando
as garantias dos particulares, a articulação com as entidades e clarificando as
competências da autarquia. Se há sector onde a cultura de participação é menos
visível é na do urbanismo e ordenamento do território, onde muitos tecnocratas
vêm em planos imperfeitos e conjunturais a Vaca Sagrada imutável e intolerante
remetendo as aspirações de quem quer investir ou promover para o campo dos
pecados veniais.
Apesar de o quadro global da revisão ser marcado por uma
menor pressão sobre o Território, dada a retracção da construção, é preciso não
esquecer que este será um documento para vários anos e que cabe aos cidadãos,
associações ambientalistas, proprietários, autarcas e investidores em
particular colaborar nas suas linhas mestras, de que os tópicos acima descritos
são pontos a deixar sobre a mesa.